REGGAE, RASTAFARI, ILHÉUS E JAH BLESS
Antes da denominação “reggae” a música preferida desta tribo era o blues, jazz, calypso e soul. Na Jamaica da década de 60 a rapaziada queria paz, amor e curtir a vida baseada em pilares mais liberal; estavam cansados da mesmice que envolvia o mundo, que metade era comunista cético e a outra metade religiosa medíocre! Toda esta novidade para a época podia ser descarregada nas músicas de reggae e logo o estilo tomou conta do mundo e virou ícone de protesto!
Bob Marley, Peter Tosh e Bunny Wailer em 1963 foram os pais do reggae como conhecemos hoje; depois nomes como Jimmy Cliff passaram a gerar uma fama estrondosa que contagiou o mundo.
Os ingleses foram os primeiros a adotar o novo ritmo vindo do Caribe de sua ex-colônia; depois a Europa aderiu e para aquela música jamaicana chegar aos EUA era só um pulinho! Finalmente, após tantas revoluções e o que falar, o reggae passou a ser uma categoria premiada no Grammy a partir de 1985!
Não há que confundir reggae com rastafári; a associação lendária das figuras de cabelos trançados ou em torsos no alto da cabeça e de pele negra, de fato é um dos símbolos deste tipo de musicalidade, mas o movimento rastafári é como se fosse uma religião e está presente naquela e em outras sociedades para proclamar o etíope Haile Selassie I como se fosse o Jesus Cristo dos católicos, desde os anos 20.
O reggae é um complemento para o estilo de vida rastafári; segundo relatos dos mais apaixonados por este tipo de música, o reggae trata de vários assuntos, não se restringindo à cultura rastafári, como o amor, o sexo e principalmente a crítica social. Uma das características que podem caracterizar o reggae é a crítica social, como por exemplo, cantar a desigualdade, o preconceito, a fome e muitos outros problemas sociais!
O Maranhão é o Estado brasileiro que tem o maior consumo do reggae, e por isso foi apelidada de a Jamaica brasileira. Desde o final da década de 70 quando o reggae invadiu o Maranhão através dos rádios sintonizados em ondas curtas (costume do povo local para poder ouvir os sons que vinham do Caribe) chegando até as atualíssimas radiolas. Pelas bandas do Maranhão esse ritmo é um fenômeno que não pára de crescer. Ainda que alguns artistas famosos como Gilberto Gil na época já tocasse um reggae aqui e outro ali nos shows, na verdade os fãs nem sabiam direito o que era aquilo, tanto que os primeiros discos de reggae que surgiram em São Luis só se encontravam nas lojas na seção de rock ou algum outro estilo, mas as festas de reggae no Maranhão já mostravam os sintomas da nova febre, como nos informa o site Reggae Brasil História!
Mas não é somente no Maranhão que se consome reggae no Brasil e em larga escala; em todo o Nordeste e Norte há celeiros onde o estilo musical tem milhares de adeptos; no restante dos Estados também há forte influência, mas é na Bahia que este ritmo está tão incrustado quanto o próprio axé. Nas cidades costeiras, algumas lembrando muito os cenários jamaicanos, o reggae é mais tocado do que outro estilo musical.
No Morro de São Paulo, lugar que muito já me abrigou, nos altos verões da Bahia; se pedissem para ninguém tocar ou cantar reggae, com certeza à ilha ficaria em profundo silêncio! E se engana quem pensa que o consumo do reggae nestes locais é feito apenas por nativos; os turistas de todas as partes do planeta curtem e sempre estão cobrando que se executem mais músicas pelos locais de agito...
Esta semana eu recebi um release de uma destas bandas de reggae da Bahia, mais precisamente vindo das “terras do sem fim”, da Gabriela e amada por Jorge, o Amado; Ilhéus! A Jah Bless é uma banda de reggae idealizada pelo jurisconsulto Luciano Cerqueira, que também é guitarrista, compositor e vocal. Segundo o saltério de reclamo, a Jah Bless nasceu de um longo envolvimento com este estilo de música jamaicana, desde a década de 90 com uma antiga composição chamada Savanna Reggae. A época a antiga formação chegou a ganhar fãs pela cidade e até de nomes já consagrados como Dionorina e Tribo de Jah!
Atualmente eles já têm no mercado regional quatro CDs (que eu acabei de receber) que foram gravados ao longo de dez anos de muita tenacidade e luta. Já participaram de festivais musicais na Bahia e Minas Gerais e em 2007 foram agraciados com o troféu de Banda Revelação; a banda foi escolhida por jornalistas e críticos, além da participação de populares...
Eu escutei agora a pouco dois destes quatro CDs da Jah Bless; a maioria das músicas da banda tem um forte apelo crítico às condições gerais do povo, no que diz respeito aos aspectos políticos e sociais. Eles também exultam em versos sensíveis e batidas melodiosas a valorização do ser humano; e como eles mesmos rotulam: para a construção de uma nova consciência social!
As capas destes CDs são simples, mas apresentam uma mistura incrível de cores e grafismos que lembram a Jamaica e outros paraísos tropicais pelo mundo. A família Jah Bless, segundo seu idealizador, é firmada por profissionais liberais e estudantes de direito, que se auto-rotulam alegres e felizes com o que fazem. Além se suas próprias músicas os shows da banda contam com músicas consagradas de outros cantores brasileiros e internacionais de todos os estilos musicais e não necessariamente cantores de reggae!
Luciano “Pipo” Cerqueira é advogado em Ilhéus e casado com uma pessoa de minha família; muito embora eu não o conheça pessoalmente, deu pra perceber que a musica que ele gravou nos CDs da Jah Bless é de alta qualidade; o ritmo é reggae, mas o que ouvimos é uma mistura de eletrônicos que nos remetem ao Caribe e melodias atualizadas do Brasil. Tem muitas músicas com o balanço do nosso POP, quase um rock e foi isso que chamou minha atenção...
Na música “Apenas uma Flor” do CD “como tudo começou”, mais um de tantos temas tão atuais no Brasil, cantados pela Jah Bless; um protesto e um motivo de reflexão...
Receber estes Cds da Jah Bless me fez lembrar sobre os tantos tons musicais que temos Brasil a fora; alguns destes ritmos são muito nossos; ou nasceram aqui ou foram se moldando ao nosso jeito e a nossa exigência regional; muitos foram trazidos por modismo ou ideologias. O reggae é uma destas cadências que nos remetem desde a África, alguns cantos da Ásia a até as Américas, fundindo de tudo um pouco numa modalidade que agrada a gregos, troianos e baianos.
Esta crônica também me serviu para lembrar pessoas de minha juventude; como o próprio Dionorina lá da Rua Nova; ou de Edson Gomes e suas noites animadas em Cachoeira. Luciano Cerqueira, a Jah Bless e os CDs que recebi, foi apenas um bom mote para que eu pudesse falar um pouco deste estilo musical que às vezes é marginalizado; marginalizado apenas pelas cabeças ignorantes que insistem em proliferar a discriminação e o juízo precipitado, de tudo e de todos; por que na verdade, reggae é apenas um estilo de música...
Carlos Henrique Mascarenhas Pires é editor da página www.irregular.com.br