A Solda Forte do Amor:Presença e Ausência

Quando François Mitterrand faleceu, além da notícia de seu passamento, de per si,a imprensa mundial ocupou-se em comentar, na cerimônia, a presença de sua amante e de sua filha .
A esposa escreveu então um carta , que posto abaixo e que recebi pela Internet e arquivei, por temer que a autoria, de alguma forma,pudesse ser uma impostura.Confesso que  não a vi nos jornais ou revistas.
Todavia, hoje tenho a ousadia de postá-la aqui no blog.Seja quem for que a escreveu, bem sabe das nuances,filigranas e da solda do Amor.
Há pouco tempo, um jovem que vai se casar agora em dezembro, contava-me que a esposa de seu pai, a mais recente - ele, homem de alguns casamentos -ficou furiosa com a possibilidade do companheiro estar no altar, junto com a mãe do noivo, sua segunda mulher.Ele então, pediu "emprestado" seu irmão mais velho, para apoiar a mãe do noivo no altar.A primeira esposa teve a sabedoria de dizer:"Ele pode,inclusive, entrar na Igreja, de braço dado com sua mãe.Nessa ocasião, as mulheres usam salto alto e um apoio masculino, em especial nas horas de emoção,é impiortante.Claro, ele é um homem feito e você deve consultá-lo, mas , sendo meu filho, tenho certeza de que aceitará com prazer a função .Afinal, você é seu irmão caçula"
.O rapaz, encantado, com a resposta, agradeceu e convidou-a para a cerimônia,dizendo que ele e a noiva,fariam questão de sua presença. Mas ela agradeceu a gentileza e declinou.Como ficar entre a segunda mulher,para quem perdeu o cônjuge e que lhe deu mais três filhos e a última, completamente insegura ? Não era de declarar guerras, mas de semear paz . Então,pegou o celular e ligou para o único rebento tido com esse homeme de olhos violetas e transmitiu-lhe o recado.Sendo seu filho ,ela aquiesceu,claro.
Agora, leiam atentamente o texto , uma grande lição de vida e sabedoria feminina:

Texto de Danielle Miterrand,esposa do ex-presidente François Miterrand, ao povo francês, após ter recebido críticas impiedosas por ter permitido a presença da amante do marido e de sua filha, Mazarine,na cerimônia fúnebre.

"Antes de mais nada devo deixar claro que não é um pedido de desculpas.Muito menos um enunciado de justificativas vãs,comum aos covardes ou àqueles que vivem preocupados em excesso com a opinião dos outros.
Aos 71 anos, vivendo a hora do balanço de uma existência que é um sulco bem traçado e profundo, já não mais preciso, e nem devo, correr atrás de possíveis enganos.
Vivo o momento em que as sombras já esclarecem e que as usências são lindas expressões de perenidade e criação.

Sombras e ausências podem ser tudo,ao passo que luzes e presenças confundem os mais precipitados,os mais jovens.
Vivi com François 51 anos;estive com ele em muito desse tempo e me coloquei sempre.Há mulheres que não se colocam,embora estejam; que não se situam embora componham o cenário da situação resumível Uma vida de altos e baixos.
Na época da Resistência nunca sabíamos onde iríamos passar a noite - se na cama, na prisão, nos bosques ou estendidos por toda a eternidade.uando se vive assim em comum, cria-se uma solda e a consciência de que é preciso viver depressa. Concentrar talvez seja a palavra. Por isso tentei entendê-lo, relacionar-me com sua complexidade,com as variações de sua pessoa e não de seu caráter...Quem entende ou, pelo menos luta para compreender as variações do outro,o ama realmente.E nunca poderá dizer que foi enganada ou que jamais enganou.Não nos enganamos, nos confundimos quando nos perdemos da identidade vital do parceiro,familiar ou irmão.Ou jamais os conhecemos, o eu também,não é um engano.Quem não conhece, não tem enganos.Nas variações do outro, não cabe o apaziguador tudo antes do tempo em forma de tranqüilidade.Uma relação a dois não deve ser apaziguada, mas vibrante, apaixonada, e não, enfastiada.
Nessa complexidade vi que meu marido era tão meu amante quanto da política.Vi, também, que como um homem sensível poderia se enamorar,se encantar com outras pessoas, sem deixar de me mar.
Achar que somos feitos para um único e fiel amor é hipocrisia, conformismo. É preciso admitir docemente que um ser humano é capaz de amar apaixonadamente alguém e depois,com o passar dos anos, amar de forma diferente.
Não somos o centro amorável do mundo do outro. É preciso aceitar,também, outros amores que passam a fazer parte desse amor como mais uma gota d'água que se incorpora ao nosso lago.
Simone de Beauvoir (*)dizia bem, que temos amores necessários e amores contingentes ao longo da vida.

Aceitei a filha de meu marido e hoje recebo mensagens do mundo inteiro de filhos angustiados que me dizem: - "Obrigado por ter aberto um caminho. Meu pai vai morrer, mas eu não poderia ir ao enterro porque a mulher dele não aceitava.
É preciso viver sem mesquinhez, sem um sentido pequeno,lamacento, comum aos moralistas, aos caluniadores aos paranóicos azedos que teimam em sujar tudo.
Espero que as pessoas sejam generosas e amplas para compreender e amar seus parceiros em suas dúvidas,fragilidades, divisões e pequenas
paixões.
Isso é amar por inteiro e ter confiança em si mesmo" .
Deus não prometeu Dias sem Dor; Risos sem Sofrimentos; Sol sem Chuva. Ele prometeu Força para o Dia; Conforto para as Lágrimas e Luz para o
Caminho..."


Conforme escrevi acima,não sei essa carta é um documento verdadeiro ou uma obra ficcional.Seja como for,(**) a intenção pessoa que a escreveu por certo atingiu mais amplitude ,dentro de tantas verdades, que ela jamais poderia supor.

Quantos filhos nascidos fora do casamento legal de seus pais, sofrem toda a vida com a falta de legítimo empoderamento social ou parte desse genitor?O caso da filha de Pelé,Sandra Regina Machado Arantes do Nascimento Felinto,  que faleceu no em outubro passado, vítima um câncer .Recentemente falecida, incomodou muitos brasileiros ,por muito tempo.O rei do futebol brasileiro, não compareceu ao velório.Os motivos de seu foro íntimo, não vêm ao caso.Podem ser legítimos, de defesa,cautela , temor da imprensa, do tumulto que sua presença causaria,ou mesmo remorso...Realmemte,as explicações não mudariam nada.A desolação de uma filha malamada, sim.Como se sabe,estuda-se científicamente que as desordens celulares do Câncer,em muitos casos clínicos, têm haver com grandes mágoas, desgostos, ressentimentos.
O amor é agregador.O desamor separa e pode matar.

Clevane Pessoa de Araújo Lopes.Belo Horizonte,
27/11/2006

(*)Simone de Beauvoir:existencialista, filósofa e escritora francesa,companheira de Sartre,expoente do  feminismo .E escreveu que "não se nasce mulher, torna-se mulher".
Escreveu vários livros lidos e discutidos,mas consagrou-se com os ensaios de "O Segundo Sexo" (1949),em dois volumes prá lá de volumosos, onde as questões de gênero são discutidas à exaustão.

Nasceu e morreu em Paris :
viveu 9 de janeiro de 1908 a 14 de abril de 1986)

(**)SE alguém possuir os créditos desse suposto depoimento,como data depublicação e local revista ou jornal), por favor, envie-me pois quero voltar ao assunto.