Familias felizes
FAMÍLIAS FELIZES
Hoje a última moda é colocar na traseira dos carros uma coleção de adesivos, reportando-se às pessoas da família, bem como seus animais de estimação, cachorros, gatos, papagaios, periquitos e pássaros. Já notaram? É o que chamam de “família feliz”. Ontem à tarde, eu parei atrás de um carro que exibia esses símbolos: um pai, uma mãe, um filho, quatro cachorros, três gatos e três passarinhos. Tinha mais bicho que gente! Outro, visto outro dia, tinha só o casal e um cachorro.
Observando-se bem essas imagens, nota-se que em alguns casos a família está incompleta, pois falta o pai, alguém que morreu ou se escafedeu. O número de filhos é variável, mas o número de bichos, na maioria dos casos, é bem significativo. Eu não tenho nada contra essas galerias; mas também nada a favor.
Há ali alguns ingredientes psicossociais que chamam a atenção e induzem a alguns tipos de reflexão. Embora chamem a coletânea de “família feliz” sabe-se que nem todas são contempladas pela felicidade reportada. Como tudo na vida, há momentos de felicidade e de desventura. É o normal da vida, onde os desajustes se misturam com os acertos.
Ao revelar o número de pessoas do grupo familiar, abre-se uma brecha na segurança, favorecendo, quem sabe, uma incursão de seqüestradores ou atividades do gênero. Sabendo quantos filhos são, fica fácil um telefonema, desses que relatam falsos seqüestros, para obter vantagens imediatas. Se as figuras apontam a existência só da mãe, surge o indicativo de que naquela casa não tem homem.
E ainda surge, por fim, o demonstrativo de um certo egoísmo: quatro cachorros, três gatos, três passarinhos e só uma criança. Considerando o custo com veterinários, comida especial, cuidados embelezadores nas pet, casinhas, gaiolas e roupas adequadas, tudo somado à sujeira que os bichos fazem, não seria melhor investir qualitativamente em um filho a mais? Às vezes o investimento pode até não compensar, mas valeu a tentativa... Como a maioria das pessoas trabalha, some-se a isso a crueldade de deixar os bichos sozinhos o dia inteiro, perturbando a vizinhança.
Pior ainda o caso de casais que, por razões biológicas ou pragmáticas não têm ou não querem filhos e adotam cães e gatos, estabelecendo diálogos ilógicos, do tipo “Fifi, vem cá com a mamãe”. Uma senhora diz que escuta, no latido, o cãozinho dizer: “Mamãe!” Conheço gente nessa conformidade que comemora, com festinha, o aniversário do totó.
Não seria mais humano ter ou adotar uma criança?
Filósofo, Escritor e Doutor em Teologia Moral