ONDE ESTÃO OS PANDAS DA AMAZÔNIA?
Você já se imaginou vivendo num universo onde haja “micro-leão dourado”, onde o “sero mano” consegue escrever para uma prova tão confortavelmente ou onde o “Euninho”, de nome tão meigo, provoca tanta devastação? – Saiba que este universo existe e pertence a muitos estudantes do Brasil, como nos apontam as famosas pérolas advindas do ENEM, que eu já começo a classificar como eh! Nem!
Geralmente ouvimos o Jô Soares se esbaldando em risos quando lhe chegam tais pérolas, mas estas jóias extraordinárias não são somente colhidas das provas do ENEM; escolas de todos os tipos, de todas as classes e de todas as partes do Brasil, ou não estão nem aí para o futuro de seus corpos discentes, ou se empenham em todas as matérias, menos para a formação de pessoas que no mínimo saibam escrever com recato!
Agora a pouco recebi uma lista e por pouco eu não tive um ataque cardíaco de tanto rir; e se riu, não é porque os nossos estudantes graduados em besteirol escrevem errado; isso é tão comum que pouca coisa me tira do sério; riu disso tudo, porque a criatividade desta gente chega a um ponto tão hilário, que não me deixa alternativa se não fazê-lo! Observem algumas destas loucuras da lusofonia brasileira!
Alguém que quis desabafar e sê-lo filósofo disse que “o sero mano tem uma missão...”; pelo visto a missão dele é sinalizar o mundo sobre sua condição de bate-orelha com diploma de segundo grau!
Argüido a explicar os fenômenos da natureza, um estúpido escreveu: “O Euninho já provocou secas e enchentes calamitosas...”. Calamitoso é ter que ler isso! Outro sensível estudante disse: “O problema ainda é maior se tratando da camada Diozanio”. – Pelo amor de Deus, eu preciso conhecer Diozânio! Problema gravíssimo está na Mata Atlântica; segundo um estudante os madeireiros da região amazônica estão migrando: “A situação tende a piorar: o madereiros da Amazônia destroem a Mata Atlântica da região.”
Se você pensa que tudo está acabado, não se engane! Em se tratando de natureza os nossos amáveis estudantes dão show quando escrevem sobre o tema. Preservação que anda tão em voga inspirou alguém a escrever “Não preserve apenas o meio ambiente e sim todo ele”; e se isso tudo se traduz numa gravidade não só ambiental, mas de linguagem escrita, vejam isso: “É um problema de muita gravidez”. De fato se o pai deste último estudante tivesse utilizado um preservativo, não estaríamos lendo tamanha estupidez; ele evitaria contágio de doenças com a AIDS e ainda não leríamos também isso: “A AIDS é transmitida pelo mosquito AIDES EGIPSIO”! Preciso citar mais alguma frase intemerata?
Sim, precioso! Por que é bom escrever sobre tais pérolas, pois o humor na escrita não é o meu forte e agora estou descobrindo um lado pungente, talvez cáustico, de minha pobre escrita da nossa língua mãe!
“Já está muito de difíciu de achar os pandas na Amazônia”; neste caso não se trata somente de estupidez da língua; difícil mesmo, além de ter que anegar o “difíciu” dele, é imaginar quando é que houve Panda na Amazônia? – Será que ele pensou que na Pangeia havia Pandas na Amazônia?
Outro disse que “a natureza brasileira tem 500 anos e já esta quase se acabando”; o garoto acredita mesmo que a nossa fauna e flora vieram com Cabral em 1500, se instalaram numa pousada em Porto Seguro e depois se uniram para formar a natureza brasileira...! Santa ignorância!
Agora o que você me diz disso: “o cerumano no mesmo tempo que constrói, também destroi, pois nos temos que nos unir para realizarmos parcerias juntos”. Encarecidamente eu digo: - No dia que este estudante resolver formar tal parceria, me fale com antecedência, pois eu me mudo para Marte!
Tem estudante que deseja matar mosquitos com moto-serra; acredite, pois é verdade! “Na verdade, nem todo desmatamento é tão ruim. Por exemplo, o do Aeds Egipte seria um bom beneficácio para o Brasil”. O outro justifica o clima e diz “Isso tudo é devido ao raios ultra-violentos que recebemos todo dia”; isso é um “estrupo” para meus olhos! E que tal esta: “Tudo isso colaborou com a estinção do micro-leão dourado”; pelo visto o micro-leão, um leãozinho bem pequenininho e douradinho, foi “estinto”; para a honra e glória de alguma mula manca e sem cabeça!
Para explicar sobre uma questão de alguma formação undífera o estudante disse: “são formados pelas bacias esferográficas”; esta doeu! Para concordar com veemência, outro disse: “'Eu concordo em gênero e número igual”; mas eu digo: eu discordo! Outro, talvez por ter lido tanta asneira, disse: “Precisa-se começar uma reciclagem mental dos humanos, fazer uma verdadeira lavagem celebral em relação ao desmatamento, poluição e depredação de si próprio...”. Celebral deve ser o que tem na cabeça dele; alguma doença mental provocada por fumar tóxico!
“O serigueiro tira borracha das árvores, mas não nunca derrubam as seringas”; um analista afirmou que este estudante deve ter tomado “uma” na veia! “As chuvas foram fortes, mas não tivemos danos morais”; deve ser um estudante de direito! Se tivesse algum dano moral ocasionado pela chuva, com certeza haveria algum advogado para processar São Pedro; e para finalizar esta etapa valiosíssima e verossímil para a burrice aguda crônica, veja esta: “Vamos deixar de sermos egoistas e pensarmos um pouco mais em nos mesmos”; cruz credo; sai dete corpo que não te pertence; êparrei yoa meu pai!
Parafraseando Nelson Rodrigues eu digo que invejo a burrice, porque ela é eterna! Já o saudoso Rui Barbosa disse “Há tantos burros mandando em homens de inteligência, que, às vezes, fico pensando que a burrice é uma ciência”. Roberto Campos desabafou: “A burrice não tem fronteiras ideológicas”.
Não confunda a bondade alheia com burrice, muito menos o silêncio alheio com passividade; eu só não costumo ser silencioso em nada, por nada e para nada; nem mesmo quando isso me atinge e é por isso que eu vivo, para crescer; pois acredito piamente e reitero que sou tudo na vida; até falo e escrevo errado, mas nunca fui; não sou e jamais serei um muar que pensa que é humano!
Para a juventude de hoje que até sabe o que é um jornal por que os vê entupindo bueiros ou ao sabor dos ventos, eu digo e suplico: - leiam jornais, revistas velhas; assistam os programas criativos, históricos, os documentários, enfim; leiam livros, folhetos e comunicados; façam um esforço sobre-humano para aprenderem no mínimo a leitura, pois quem lê consegue pelo menos discernir com lógica; e desta forma, creio que consiga escrever também corretamente!
Você que almeja ser desembargador ou Presidente da República; acaso não consigam os objetivos e a vida lhes oferte outros ofícios, como o de carregador de lixo; o sejam com dignidade e cultura; é o mínimo que podemos esperar para um país menos atrasado e seus filhos terão com certeza mais oportunidades; isso já nos basta!
Carlos Henrique Mascarenhas Pires é editor da página www.irregular.com.br