Almas mortas

Chegar a ser comovente a inquietação ecológica do nosso tempo, embora não se veja eficácia no tratamento do problema, que é grave. Devastação da flora e da fauna. Poluição do ar, da água e do ambiente. O uso descontrolado da química nas modalidades alimentares, etc.

Ao lado disso, é intrigante o ingênuo silêncio que se faz a respeito da poluição exercida sobre o ser humano, principalmente sobre a infância e a juventude. É melancólico observar que, convivemos com uma nova geração despida de educação familiar e cultura escolar. A “falta de educação”, no sentido popular da expressão, é coisa comum. Chega-se “naturalmente” ao extremo da grosseria. Conseqüência da degradação generalizada da família? Arrisco dizer que sim. Os casamentos, em grande parte, são realizados no total despreparo dos casais, cuja única preocupação parece ser o comportamento horizontal na cama. E, ao lado disso, as separações levianamente feitas, sob pretextos que não justificam a atitude grave. Não lutam pelo casamento. Lutam contra ele.

Respeitadas as exceções, a escola também não está cumprindo sua finalidade: continuação da educação familiar, enriquecimento cultural e embasamento da cidadania. Pouco disso se vê.

As autoridades maiores do ensino só se preocupam com estatísticas e números. Quanto à qualidade e eficiência do ensino, não sabem o que falar, nem o que fazer. A escola para atingir seus objetivos, precisa ser disciplinada, exigente e justa. Mas nem sequer as leis do ensino lhe facilitam essas condições. São flácidas e permissivas. Forjadas, pelo que parece, por elementos que não entendem de educação e de cultura.

A família e a escola, entretanto, não são os únicos fatores determinantes da devastação ecológica do ser humano (que é um ser natural). São os mais importantes, mas não são os únicos. Militam, na faina de devastar, os meios de comunicação social, ao lado dos hábitos sociais. A televisão é a grande escola do desfibramento moral e da degradação do caráter. Falsos ídolos passam a ser os modelos oferecidos, marcados pela mediocridade e pelo vazio. Imitados no que dizem, no que fazem e no que usam.

Tudo isso é sabido por todos. É visto por todos. Mas parece não inquietar a ninguém. Uma tácita e passiva aceitação aduba o crescimento do fenômeno.

É lamentável saber das florestas devastadas. Da poluição e degradação de todos os recursos vitais da natureza. Tão triste quanto é ver o ser humano devastado naquilo que tem de melhor: a inteligência, a vontade e a sensibilidade.

Estamos para comemorar o Dia dos Namorados. Todos querem “aproveitar a vida”. Achando que isso significa saciar o corpo em todos os seus apetites e buscar o sucesso fácil, desprovido de esforço e de comoção diante das amarguras humanas.

As almas parecem estar mortas.