O AMOR EM PARÁGRAFOS – 02.
“O amor é um grande laço, um passo pra uma armadilha. Tanto engorda quanto mata, feito desgosto de filha”...
01 - A grande encruzilhada do amor é que ele só tem a si como fundamento. Talvez por isto o amor seja tão surreal quanto real; tão sólido quanto gasoso; tão eterno quanto passageiro. O amor de cada um é único e não se molda a outrem. O sentimento que nos invade, que nos transforma, que nos paralisa, que nos deixa nas “nuvens”, não se permite intromissões. Sendo esse o sentimento que chamamos de amor, eis que nosso interior se despe da racionalidade pra ser completamente emoção. No ser amado, passamos a encontrar a razão do sentimento que nos pertence sem nos pertencer. Que sendo nosso é do outro e sendo do outro deveria ser nosso.
02 - A reciprocidade do amor é a sua validação em fatos. Validade que não tem nenhuma garantia de legitimidade, senão no amor que temos e que imaginamos tê-lo do ser amado como contrapartida do afeto. Neste sentido, viver um grande amor implica possibilidades de prazer e de sofrimento. Dificilmente um grande amor acontece no mar da tranqüilidade dos amantes. Nem sempre os quereres acontecem na mesma intensidade. Nem sempre essa intensidade tem características que se possam por a prova senão via atitudes.
03 - O amor por ser grande em sua dimensão humana se permite a jogos de sedução. Por ser meio indecifrável em sua essência, algumas vezes um ente que ama se surpreende com o ser amado em procedimentos de jogo. Joga, pois, com a sensibilidade do outro pela absoluta certeza de que, sendo amado, invade o ser do outro e o deixa vulnerável não só aos desejos, mas a interesses materiais e de dominação duvidosa.
04 - O ciúme é outro ingrediente forte que, não raro, o amor carrega consigo. Este viés só assim deve ser compreendido se houver um contexto de dominação e dominado, coisa que num amor verdadeiro talvez nem aconteça – ele, sendo verdadeiro, deve primar pelo bem do amado sob quaisquer ângulos de visão. Querer o amor feliz e livre talvez seja a extrema exigência que um grande amor se faça para existir entre dois seres humanos. Neste caso, o ciúme talvez se perca enquanto ingrediente do amor maior, caracterizado pela liberdade dos amantes.
05 - Um grande amor pode até passar. Mas se passar, talvez nem tenha sido um grande amor. O coração – esse ente importante para as nossas determinações de amor um dia envelhece. Mas como disse o poeta, “passa o primeiro amor, passa o segundo amor, mas o coração não passa” (grifo nosso). Nesse viés, amar alguém na adolescência tem um matiz. Na maturidade outro e na velhice mais outro. Comum a todos é o sentimento que se vai refazendo paulatinamente sem se perder do ser amado. Contudo, o amor dos nossos outonos tem outros enfrentamentos. No “cair das nossas folhas”, o afeto se estabelece na companhia do outro e o sexo se traduz em sexualidade; a paixão abdica da passionalidade e o olhar se estabelece como forma legítima de configuração.
“O amor é um grande laço, é um passo pra uma armadilha. Tanto engorda quanto mata feito desgosto de filha”...