REFLEXÃO: SOBRE A VIDA
Este está sendo um ano difícil! Mas não é uma dificuldade primária, sentida em um só âmbito da vida. Ela é múltipla! De intensidade pequena, como se fosse pequenos bombardeios na alma. Um probleminha financeiro aqui, um mal estar ali, coisas do gênero!
Aliado às dificuldades, soma-se as perdas do período. Perdas humanas, estas sim mais doloridas. E como numa equação matemática complexa, eu particularmente tenho um multiplicador para aumentar o valor dessa reflexão: o fato de ter feito cinqüenta anos de vida. Ou seria existência?
E tudo parece vir como um turbilhão de sentidos, de conjecturas, os “porquês” tomando os pensamentos, me fazendo sentir até mesmo dificuldade em escrever.
Ordenar os pensamentos! Rever valores, rever momentos... Tenho tanto a perguntar e sei que as perguntas são inúteis, pois já vem com respostas prontas, dissecadas, concluídas!
E de todas as pessoas que conheci, que conversei, que convivi, a meta é sempre a mesma: a felicidade. Só que ela vem maquiada de formas diferentes, vem com sinônimos opostos, totalmente diversos em cada ser.
E eu entro afinal a maior pergunta que devo me fazer. Onde está a minha felicidade? Será que eu já a encontrei?
Na juventude eu sonhei com um titulo a frente do meu nome, como se isso fosse a maior realização da gente. E eu o obtive, quando os índices de nível superior no País eram de apenas 2% da população. Me fez especial? Me fez um ser humano melhor? Mais inteligente? Hoje vejo que não, apenas deu um novo perfil ao meu histórico profissional. Porém as maiores lições de vida e verdade, eu as recebi de pessoas simples, que lutam pela sobrevivência, que tem a marca do sofrer nas rugas do rosto e nem por isso endureceram o seu coração, como a maioria dos “superiores” tem.
Fui ensinada que a mulher para ser feliz, precisava casar, ser dona de um lar. Sem esquecer dos papéis principais: esposa e mãe. E as histórias de conto de fada, príncipes e felicidade eterna povoavam a nossa mente. Qual o que! Na verdade a família é mais uma instituição criada pela sociedade, para o bom andamento e ordem pública! O amor é sim um sentimento maravilhoso que devemos cultivar. Mas não esse amor que nos ensinaram, direcionado a uma só pessoa, aos bens materiais adquiridos, a um status almejado, mas muitas vezes não obtido.
O casamento se desgasta sim! E aquela perfeição toda, se perde nas lutas do cotidiano. O amor homem-mulher passa a ser o amor companheiro, amigo, leal! E as leis impostas nos fazem sufocar o lado animal presente em todos nós, não só no homem, mas na mulher também.
E nesse instante perdemos um dos papéis daquele documento que assinamos e nos tornamos somente pais. E moldamos os nossos filhos, tantas vezes com um perfil nosso que foi frustrado pela vida, às vezes ás custas até da felicidade e realização deles!
O tempo, cruel, vai passando à nossa frente. E quando nos damos conta, estamos perdendo o viço da juventude, os amigos que nos faziam rir, os parentes que nos ampararam pela vida.
E então nos damos conta que a felicidade que sonhamos obter de verdade foi tão maquiada pelo cotidiano, que quando nos deparamos com nossas indagações percebemos que ela nunca existiu.
Quantas vezes deixamos de comer um prato, lotados de sabores, porque precisávamos manter a forma física? Forma física? Isso é sinônimo de felicidade, ou imposição da mídia?
Quantos crediários feitos, alguns não pagos, pra se obter aquela TV enorme, o carro do ano, e tantos outros objetos que nos impuseram “necessários”, sabendo que os mais simples obteriam o mesmo resultado?
O vestiário de marcas absurdamente caras, quando os mais simples também nos protegeriam...
Felicidade! Ela está mesmo naquela jóia exibida e que traz consigo a ganância e o perigo dos gatunos? No carro do ano, todo equipado, mas que pra manter a nossa vida precisa ser blindado? Está no tamanho da casa e na ostentação de móveis caros, quando precisamos de tão pouco espaço pra viver? Não somos feitos para uma jaula, por mais luxuosa que ela venha a ser. Somos do mundo! Somos do espaço livre. Do sol, da terra e do ar.
E para obter esses bens, muitos pisam sobre pessoas mais fracas, menos protegidas. E desvirtuamos valores primários que sempre os ensinaram. Felicidade encima de falcatruas? De pequenos roubos, aqueles ditos brancos? Lucro encima de pessoas que passam as mais simples necessidades? Sinto muito, chamar isso de felicidade eu acho uma hipocrisia!
Como acho hipocrisia manter a prisão de um casamento apenas pra dar satisfação a uma sociedade hipócrita, que esconde seus erros até mesmo da própria imagem no espelho. Trair é atraiçoar, ser infiel. Mas mentir que se está feliz numa condição de não realização pessoal e sexual é então aceitável? Buscar a realização de um gozo físico que te garante a saúde psicológica e realização pessoal é errado? Ou trair a si mesmo, se fingindo pleno enquanto pessoa é que é errado?
O tão idolatrado animal racional que somos não passa de pura assoberbação!
Quem ama quer sim ver o outro realizado, pleno! E se eu não tenho mais a capacidade de fornecer esses componentes ao meu parceiro, ele tem sim todo o direito de procurar fora! Assim como ela vai procurar fora de casa o sustento da família! E isso não é traição. É respeito. Respeito à individualidade de cada um, já que o casamento não veio para nos fazer metade um do outro e sim para somarmos, enquanto ser humano que somos!
Se existe a responsabilidade para se manter horários, funções, contas em dia, porque imaginar que na área sexual seriamos loucos desvairados? Vivemos numa época de doenças fatais. Mas não é somente a AIDS que mata. A violência mata. A fome mata. Os distúrbios da natureza matam. A infelicidade e o marasmo matam!
Acho que a maturidade é que nos dá a derradeira chance de ver a vida como ela realmente deveria ter sido vivida. Nem todos percebem, nem todos conseguem fazer essa tradução do sentir. Talvez por isso alguns vão para o destino de todos nós (o caixão) com um sorriso maroto e feliz no rosto!
E você, é realmente feliz?
Santo André, 26.11.06 – 14h50min