Faça você mesmo o seu próprio sistema místico

Não posso deixar de me surpreender com a quantidade e profundidade das tolices místicas que imperam ao redor, mas percebo hoje que um número considerável de pessoas precisa de tais sandices a ponto de se sentir insultada quando algumas das mais torpes delas se veem desmascaradas. Tais pessoas acabam perdendo um tempo considerável no estudo de sistemas místicos e são avessas a qualquer objeção racional que explicite a tolice de suas crenças. Para essas pessoas sugiro o aprendizado de um método simples de criação de teorias místicas, é muito fácil.

Para começar, o mais simples é partir de alguma prática pré-existente e criar sobre ela sua própria interpretação. Isso pode ser feito com o tarô, com a astrologia, ou com qualquer outra forma de adivinhação que se queira, numerologia, necromancia, etc.

Se você sabe quais são as grandezas envolvidas (os planetas para a astrologia, as cartas para o tarô) pode manter o tipo de adivinhação usual pra aquela prática e, descaradamente, inventar seu próprio sistema.

Para a astrologia, o modo mais simples de fazer isso consiste em definir uma pessoa que corresponda a cada signo. Não é necessário que ela seja de fato do signo escolhido, mas deve funcionar como pessoa arquetípica daquele signo, e servirá como guia para que você não se perca.

Escolhida a pessoa para cada signo, descreva as características daquela pessoa: serão as do signo.

Faça o mapa astrológico da pessoa que deseja analisar com o auxílio de um computador, bastará introduzir no programa a data, o horário e a localidade do nascimento. Em seguida, atribua a ela as características da pessoa arquetípica escolhida para corresponder ao signo solar do analisado. Acrescente umas características da pessoa arquetípica do signo do ascendente do analisado, e assim por diante com cada planeta. Está realizada a análise astrológica da pessoa!

Eventualmente, alguns “conhecedores” da astrologia duvidarão dessa análise, dirão que, conforme seus próprios estudos, as características de cada signo não são aquelas apontadas em sua análise. A resposta, muito simples, é que seu sistema é original e único, baseado em considerações pessoais e subjetivas profundas! O fundamental é aparentar convicção!

Se executar as etapas simples acima, se surpreenderá com o fato de que sua credibilidade dependerá apenas de sua cara de pau: proclame suas adivinhações com firmeza e elas adquirirão uma credibilidade que espantará até a você mesmo. Confira que, mesmo aqueles que aparentam duvidar de seus augúrios, revelarão, no futuro, crer em suas adivinhações, especialmente naquelas mais elogiosas, verá!

Para o tarô, assim como todas as formas de adivinhação, o sistema é basicamente o mesmo: invente descaradamente uma interpretação para cada símbolo. Crie um significado para cada carta que apareça (convém que o mesmo significado se repita para cada carta, ou algum dos circunstantes poderá considerar a alteração de significados um embuste). A justificativa para a invenção dos significados consiste em um contato místico entre você e os arcanos, ou entre você e qualquer das entidades tratadas em seu sistema, foram elas que te revelaram essa forma heterodoxa de interpretação. Caso você não tenha nenhuma imaginação para inventar tais interpretações, use as mesmas palavras utilizadas anteriormente por outros.

Tenha sempre em mente que o fundamental em tudo isso não é o conhecimento do tema tratado, mas a cara de pau com que apresenta suas próprias conclusões!

Mais interessante e desafiador é construir o seu próprio sistema místico, algo realmente novo, diferente dos astros, das cartas, das lambanças de café e de todas as outras formas de adivinhação anteriormente imaginadas, mas isso fica a cargo dos magos mais adiantados.

De qualquer forma posso dar as seguintes sugestões:

Leitura de mãos e outras leituras corporais: podem ser lidos os cabelos, os olhos a postura ou pedaços da pele. A meu ver são as mais profícuas. Penso que essas formas de adivinhação podem vir a ter algum fundamento. Pode haver também sensualidade envolvida nisso.

Leitura dos pingos de chuva: qualquer fenômeno aleatório provê material para os enroladores. A observação das figuras desenhadas na areia pelos primeiros pingos de chuva pode ser um prato cheio para a invenção de interpretações. Na mesma família encontram-se a interpretação das figuras deixadas pelas ondas do mar, pela poeira ao vento, pela água escorrendo na terra, pelas nuvens, ou por resíduos aglomerados a esmo em qualquer canto. Manchas na parede podem dar motivos interpretativos maravilhosos.

Sua imaginação e cara de pau são os únicos limites para a sua consagração como místico!