Origens do pensamento místico

Algumas “crenças” são compartilhadas por todas as pessoas, e têm origem em nosso passado evolutivo e nos modos mais eficientes de desenvolvimento dos comportamentos.

Desde que nascemos compartilhamos a “crença” de que podemos atuar no mundo. Também “supomos” desde sempre que as repetições geram outras repetições. Não fossem essas duas “crenças” inatas, e teríamos uma enorme dificuldade para adquirir o controle dos movimentos.

Quando nascemos, não temos praticamente nenhum controle de nossos movimentos. Nossos membros movem-se então meio a esmo, despropositada e descontroladamente.

Em linhas gerais, podemos descrever o desenvolvimento do controle dos movimentos do braço da seguinte maneira:

1) O braço se move a esmo e chama a atenção da criança.

2) Ela (a criança) faz alguma ação interna e altera o movimento, ela supõe conseguir interferir naquilo.

3)Tendo conseguido atuar no movimento, ela supõe que a repetição de sua ação corresponderá à repetição do movimento.

As suposições 2) e 3) acima são, na verdade, bastante complexas; não fossem elas inatas e gastaríamos, cada um de nós, um enorme tempo para descobri-las, talvez nunca conseguíssemos!.

Com o passar do tempo as suposições são confirmadas e a criança, após sucessivo treinamento repetindo as mesmas ações consegue dominar os movimentos de seu corpo.

Mas note, não há uma explicitação inata do que seja o próprio corpo, ou seja, a criança não nasce sabendo quais os limites do próprio corpo. Se qualquer objeto, seja ele seu braço ou um móbile, move-se em seu campo visual, a criança supõe ter o poder de controlá-lo, e o tenta! A tentativa de controle do movimento do móbile pode resultar em um movimento do braço e, indiretamente, no controle do objeto.

Com o passar dos anos, apesar de sucessivos fracassos, mantemos a nossa crença de poder controlar coisas à distância. Assim, se vemos uma bola se encaminhar vagarosamente para o gol, torcemos nossos pescoços e nos contorcemos internamente para levar a bola para dentro, ou pra fora, da meta, conforme nossa torcida. Continuamos a tentar controlar o movimento daquilo que vemos.

Quanto à repetição, também não é uma coisa tão óbvia quanto parece à primeira vista. Bem poderia ser que as ações quando repetidas gerassem consequências muito diversas. Mas o fato é que “pressupomos” desde o nascimento, que nossas repetições acarretam repetições no mundo. Desse modo, conseguimos repetir nossos movimentos, e, com o tempo, controlá-los.

Essa crença atávica perdura em nós deixando a expectativa de que repetições acarretarão novas repetições, o que leva muitos de nós a tentar repetir as mesmas ações executadas na última vitória de nosso time, com o intuito de levá-lo à vitória mais uma vez. Por essa razão, muitos de nós usam a mesma roupa que na última vitória, sentam no mesmo lugar, etc., com a esperança de interferir nos fenômenos, da mesma maneira mágica com que controlamos o nosso corpo quando estávamos no berço. Somos uns seres interessantes.

(Ah, e os pombo fazem exatamente o mesmo :-)