Três acontecimentos para reflexão...
(Por Onofre Ferreira do Prado)
Três acontecimentos recentes ficaram fortemente gravados na minha mente.
O primeiro: Não me lembro onde li um texto, em que enaltecia o valor do ser humano, discorria sobre o tratamento respeitoso e humanitário que deveríamos dar aos nossos semelhantes, independentemente da condição social de cada um. Até aí, tudo normal. Sempre pensei e andei dentro desse preceito.
Segundo: ontem, fui almoçar num restaurante, na Avenida Américo Vespúcio, em Belo Horizonte, distante uns 800 metros de casa. À saída do restaurante, deparei-me com um rapaz, aparentemente de uns 30 anos, de boa compleição física, trazendo nas costas uma enorme mochila, com barbas e cabelos compridos, roupa muito suja, num completo desalinho. Fui logo abordado, com um pedido de um tempinho, se eu tinha uma moeda para lhe dar. Respondendo-lhe que não tinha moedas no momento, fui desviando do pedinte, andando na direção do automóvel estacionado a poucos metros daquele local. Nos passos que dava até o carro, comecei a sentir remorso e pena daquele rapaz. Refleti sobre as desigualdades entre os seres, sobre o sofrimento e a humilhação que devem recair sobre uma pessoa ao ter que pedir uma migalha como esmola. Por que o mundo teria que ser assim, uns com muito e muitos com nada? Com a intenção de perguntar se já havia almoçado ou de lhe dar uma quantia em dinheiro superior àquela que me foi pedida, desloquei-me rapidinho, parando o veículo em frente do restaurante. Procurei pelo pedinte durante alguns minutos, mas percebi que havia desaparecido rapidamente, como num passe de mágica.
Terceiro: logo em seguida, de volta para casa, depois de ter andado uns 300 metros, num cruzamento de uma rua bastante movimentada, por um milagre, é isso mesmo que eu chamo, o meu carro não foi colhido violentamente por um ônibus que trafegava em alta velocidade. Quando fecho os olhos, vem-me aquela cena horrível, em que poderia ter sido esmagado brutalmente, perdendo a vida em questão de segundos. De ontem para hoje, a cada instante, voltei a pensar nos três acontecimentos. E, meditando sobre o ser humano, sobre os valores, a vida, suas limitações e precariedades, a conclusão que tenho é que valemos tão pouco nesse mundo louco, violento, envolto de ilusões e de mistérios. Felizmente, a vida não se resume apenas em tristezas e tragédias, senão nada mais teria sentido...