POETRIX NO DIGEST BALACOBACO
POETRIX NO DIGEST BALACOBACO
BALACOBACO
Ano V - número 5 - Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 2002
ESTÁ PROVADO QUE É POSSIVEL O IMPOSSIVEL: NO BRASIL HAICAI É POETRIX?
O haicai é o poema de três versos com uma disposição métrica de 5/7/5 sílabas. È uma arte oriental e como tal -, exige uma certa disposição psíquica zen para que se possa, ao haicaiazar sobre a natureza, temática típica dos praticantes desta quase religião, no que de religare e conexão com o cosmos possa ter, faça-se a luz nas 3 linhas. Indo além, segundo Paulo Franchetti - Professor de Literatura, especialista no tema e haicaista -, há a necessidade de um projeto positivo, ou seja, o haicai tem que afirmar e aceitar a positividade da natureza. Mas será que, em meio ao turbilhão pós-pré-pós, em que estamos vivendo, é possível fazer haicai em Português?.
No Brasil Olga Savary e Leminski são grandes divulgadores do haicai e tem uma legião de admiradores. Mas há os que acham os haicais de Olga, Olkais e os de Leminski, Leminskais. Tamanha é a marca pessoal que deixaram na arte do Haico como defendem alguns brasileiros procurando o aportuguesamento da palavra.
Mas é entre a colônia nipônica paulista e em torno da lista HAIKAI-L, moderada por Edson Kenji, de onde fazem parte ou já passaram Paulo Franchetti e Alice Ruiz que o haicai brasileiro e forjado e estudado de uma forma rigorosa. Talvez um rigor tão excessivo que acaba impedindo a difusão desta arte contemplativa no Brasil.
Pelo menos é assim, com muita dificuldade, que interessados em entrar no mundo das três linhas esbarram com a didática nada simples dos haicaistas brasileiros mais renomados o que fez Goulart Gomes, quando diante de uma parede teórica e de uma tradição formalista, fundou o Movimento poetrix. Mas o que vem a ser esta palavra tão bizarra?
POETRIX
Simplificando, poetrix e o haicai brasileiro sem as leis nipônicas e sem as exigências de um maior aprofundamento no entendimento dos grandes mestres orientais, nas teorias e numa tradição milenar do povo fundador do poema de três versos. Há os que olham com uma cara feia para o surgimento do poetrix, como algo que, possa limitar o crescimento do haicai. Utilizam dos artifícios da depreciação, alegando que o poetrix é menor e feito por poetas ainda em formação e que não tem a qualidade dos haicaistas nipo-brasileiros.
Digamos que é verdade a tese. E é também uma bela tentativa antropofágica e brasileiríssima. Goulart Gomes é negro, bahiano, brasileirío e está conseguindo trazer para sua fileira todos aqueles que se viam acanhados de se dizer haicaistas e agora se sentem abraçados por um movimento que agora é internacional. Tem home page, antologia em e-book e etc
E O HAIKAI?
Mas o crescimento do Poetrix só serve para mostrar que havia uma demanda reprimida querendo comprar o produto haicai, mas a loja onde os haicais eram produzidos apresentava uma pompa tamanha que afastava os clientes. Não quero com isto elevar o Poetrix e rebaixar o Haicai ou fazer á moda Nietzscheana uma Genealogia do Haikai no Brasil. Ou subistituir um pelo outro. Nem tenho conhecimento para isto e deixo para o Edson Kenji Iura, um batalhador - o homem que luta pelo haico brasileiro -, para que faça analises mais profundas abrindo desde já o espaço no Balacobaco para que sanem qualquer dúvida que um simples jornalista como eu possa ter criado a partir de uma avaliação precipitada ou pouco abalizada de uma arte milenar, se for o caso.
Mas devemos observar que existem muitas restrições e regras inquebrantáveis, canônicas -, que estão fazendo o poetrix mais popular do que o haicai no Brasil. Aí reside o perigo do Movimento poetrix, tornar-se algo fácil extremamente fácil: o que poderá carnavalizar a noção de poetrix e banaliza-lo.
HAIKU CONTEST
Mas esta busca pela criação em três linhas, não é um fenômeno brasileiro. O haiku (haicai em inglês) tem um lugar de destaque em http://www.poetry.com - site norte-americano. Diariamente há o haiku contest, uma espécie de concurso que premia os 20 melhores haicais com pasmem um misero mousepad. Contudo a vontade de participar é tão grande e talvez pelo fato de todos os haikus serem publicados mais o prestígio que o lugar está ganhando faz com que haicaistas de todo o mundo participem daquela peleja diária.
TOTALMENTE IN
No jargão pop nada mais in do que o haicai e o poetrix. Oxalá convivam fraternamente, pois de certo modo cada um cumpre o seu papel definido, o haicai, algo mais tradicional e o poetrix o tempero do acarajé baiano no sushi e no sashimi do dia a dia. Quem sabe uma mistura dos molhos apimentados da Bahia com o soyo nipônico ainda nos dará filhotes saborosamente poéticos.
Rodrigo de Souza Leão
Poeta e músico e jornalista