A pitada e o ponto, por Aila Magalhães
A pitada e o ponto
(Aila Magalhães)
Quem cozinha conhece o segredo de um bom poetrix.
Não há receita no mundo capaz de ensinar o tamanho certo da pitada, a exata intensidade da mexida no tacho, a precisão do tempinho a mais no fogo. É tudo decidido no olhar cheio de interesse, no cheiro que se espalha pela cozinha, na ponta da língua...
Quem nunca se maravilhou perante um prato, surpreendido na descoberta de tm tempero tão sutil quanto imprescindível? Assim também ocorre com o poetrix. Um título, três versos e trinta sílabas? Não basta! Há que se acrescentar pitadas de amores e humores e se mexer com jeito para não desonerar o molho.
Escrever poetrix exige cuidado na mão. Selecionar palavras com paciência, procurando aquelas de melhor tom, aquelas palavrinhas mágicas que, bem combinadas, não nos permitem resistir a uma boa olhadela, ao riso solto ou pelo menos um sorriso encabulado e até à impertinência de uma lágrima indiscreta...
Escrever poetrix tem “ciência” sim, senhor... Descobrir a palavra de melhor sabor, aquela que marcará pra sempre o leitor, farejar o cheiro da palavra apenas insinuada, como no bouquet dos vinhos envelhecidos. Misturá-las como quem prepara a ceia de Natal, o almoço do Dia das Mães, o jantar do primeiro encontro: cuidado e paixão!
Sem isso, corre-se o risco da omelete diária, que pode até nutrir, mas prazer tem outros sabores!