25 de novembro: Dia Internacional de não-violência contra as mulheres
Há aproximadamente três anos atrás, uma senhorinha simpática sentou ao meu lado no ônibus e começou a falar (É, foi assim mesmo, a mulher simplesmente se sentou ao meu lado e desatou a falar). Resignada, já que não podia pular pela janela do ônibus, deixei que a mulher falasse à vontade. Foi desta forma que eu soube que aquela simpática senhora, casada há quase cinqüenta anos, havia ficado viúva recentemente. “Sinto muito”, eu disse a ela, e ela retrucou baixinho, para meu completo espanto: “Não, não sinta. Foi um alívio. Ele era um homem muito violento e me agredia quase todos os dias”. Nesse momento, em meio a um rompante de indignação, perguntei por que ela então nunca havia se separado. Como resposta, obtive apenas um olhar rápido e triste... que eu nunca mais esquecerei...
Recordar esta triste história me fez lembrar que o ato violento freqüentemente causa espanto, sobretudo quando ocorre onde menos deveria acontecer: no lar. Mas um estudo internacional feito pela OMS revelou que a violência contra a mulher cometida em seu próprio lar, por seu próprio parceiro, é um problema de abrangência mundial, comum nos paises de primeiro mundo, como também em paises em desenvolvimento, ocorrendo tanto em áreas rurais como em áreas urbanas. No entanto, a violência contra a mulher não é condição especial das relações afetivas, ela também ocorre, e muito, nas relações trabalhistas. Neste caso, o ato violento ocorre quando uma mulher se vê obrigada a fazer algo que não ela faria por sua livre escolha, ou quando ela se vê coagida através do assédio moral ou sexual. Afinal a violência não é apenas agressão física, ela também pode ser psicológica ou moral.
A violência contra a mulher é um fenômeno antiqüíssimo e considerado o crime encoberto mais praticado no mundo. E “tem sido legalizada, através dos tempos, por leis religiosas e seculares, legitimada por diferentes culturas e por mitos da tradição oral ou escrita”.
Em seus cursos sobre a relação violência e religião, o grupo Católicas pelo Direito de Decidir enfatiza que:
• A legitimidade que a religião tem dado à subordinação da mulher não é essencialmente divina.
• Temos o direito de questionar e não aceitar aqueles aprendizados teológicos e religiosos que fomentam o poderio do homem e a subordinação da mulher, sustentando assim a violência.
• Deve-se “suspeitar” das imagens sagradas que possam estar legitimando uma relação violenta e que possa estar motivando uma eterna discriminação e desigualdade entre homens e mulheres.
Números da violência (Fonte: UBM - União brasileira de Mulheres):
• No mundo, 5 dias de falta ao trabalho é decorrente da violência sofrida pelas mulheres em suas casas resultando, a cada 5 anos na perda de 1 ano de vida saudável; no Brasil esta forma de violência compromete 10,5% do Produto Interno Bruto!
• Dos 70% dos casos de violência contra a mulher, 40% são com lesões graves e os agressores são os maridos, ex-maridos, ex-companheiros (Banco Mundial).
• Nos Estados Unidos, a taxa de homicídios entre mulheres negras é de 12,3 para cada 100 mil assassinatos e para as brancas é de 2,9. As mulheres negras entre 16 e 24 anos tem três vezes mais a probabilidade de serem estupradas que as mulheres brancas.
• A incidência de AIDS aumentou entre as mulheres no Brasil. No inicio dos anos 80 a relação era de 25 homens para uma mulher infectada e hoje é de 1 mulher para cada 2 homens. Entre as mulheres, 55% tem entre 20 a 29 anos, predominando as afrodescendentes e as de camadas mais pobres.
• No Brasil, são registrados 15.000 estupros por ano que podem ocasionar gravidez indesejada e DST/AIDS.
• As vítimas de violência que recorreram a serviços de apoio (dez/00 a set/04), são predominantemente mulheres, jovens, estudantes ou desempregadas: 58,09% são do sexo feminino; 62,18% são solteiras; 36,45% recebem entre 1 a 3 salários-mínimos; 58,66% possuem casa própria; 25,33% são estudantes e 23,98% sem ocupação, desempregadas; 23,01% possuem entre 0 a 10 anos. (Núcleo de Atendimento às Vítimas de Crimes Violentos- NAVCV).
O custo econômico da violência doméstica (segundo dados do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento):
• Um em cada 5 dias de falta ao trabalho no mundo é causado pela violência sofrida pelas mulheres dentro de suas casas.
• A cada 5 anos, a mulher perde 1 ano de vida saudável se ela sofre violência doméstica.
• O estupro e a violência doméstica são causas importantes de incapacidade e morte de mulheres em idade produtiva.
• Na América Latina e Caribe, a violência doméstica atinge entre 25% a 50% das mulheres.
• Uma mulher que sofre violência doméstica geralmente ganha menos do que aquela que não vive em situação de violência.
• No Canadá, um estudo estimou que os custos da violência contra as mulheres superam 1 bilhão de dólares canadenses por ano em serviços, incluindo polícia, sistema de justiça criminal, aconselhamento e capacitação.
• Nos Estados Unidos, um levantamento estimou o custo com a violência contra as mulheres entre US$ 5 bilhões e US$ 10 bilhões ao ano.
• Segundo o Banco Mundial, nos países em desenvolvimento, estima-se que entre 5% a 16% de anos de vida saudável são perdidos pelas mulheres em idade reprodutiva como resultado da violência doméstica.
• Um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento estimou que o custo total da violência doméstica oscila entre 1,6% e 2% do PIB de um país.
Desafio:
Exigir que a sociedade brasileira tome consciência e assuma a responsabilidade de mostrar e combater a violência em suas diferentes formas.
Denunciar a violência e exigir do Estado a ampliação dos serviços de atendimento às vítimas e ações para evitá-la, educando a sociedade com novos valores.
UBM - União brasileira de Mulheres
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Fonte(s): Instituto Patrícia Galvão e UBM
[Texto originalmente publicado no blog http://palavreando.zip.net]