QUANDO A EXCESSÃO VIRA REGRA

O Distrito Industrial de Manaus sobrevive e cresce porque o Brasil todo paga imposto demais. As vantagens concedidas para quem se instala no coração da selva amazônica fazem com que a extrema dificuldade de logística seja superada. Se as outras regiões brasileiras, com mais facilidade de acesso para compra e escoamento, passarem a ter vantagens, o Distrito Industrial de Manaus simplesmente se extingue, como aconteceu com o comércio da Zona Franca quando Collor criou a isenção para importações.

O Brasil tem um número invejável de parlamentares que se mostram muito criativos em certas ocasiões. Movidos pela demagogia ou por autêntico interesse em reduzir a carga tributária, a toda hora aparecem com soluções que podem atrapalhar o Pólo Industrial de Manaus, embora favoreça o restante das zonas de produção.

A isenção de tributos para motocicletas até 125 cilindradas faria com que fossem colocadas rodas sob o pólo de duas rodas transferindo o maior gerador de emprego e renda para regiões longe das intempéries amazônicas. A isenção de material escolar ameaça passar uma borracha na indústria de canetas do pólo industrial. Malandramente incluíram na lista de material escolar os “tablets” e com isso deram um tiro no pé da Indústria Eletrônica aqui instalada.

Enquanto aqui se luta pela manutenção e, quiçá, o aumento de privilégios fiscais, o Brasil todo também gostaria de pagar menos imposto. No mundo todo, os governos gostariam de meter a mão nos bolsos dos cidadãos. No Brasil, mesmo a chamada Zona Franca, paga impostos demais. A reclamação do estado do Amazonas tem sentido, porém o governo do estado não faz a sua parte.

Toda logística amazonense depende do transporte aéreo. Há os que defendem o transporte marítimo e fluvial, mais econômico, porém muito mais demorado. O transporte terrestre, atualmente, apenas nos permite dirigir o carro para o Caribe. A carga em caminhões para atingir o pacífico ainda depende da boa vontade do Hugo Chávez que não suportaria ver a indústria brasileira escoando por seu país, que está com a sua própria muito capenga.

O Amazonas, cuja economia vive da exceção, não se dá conta que criando uma exceção também poderia desilitizar o transporte aéreo, simplesmente isentando o combustível para aviões. Já paramos para pensar no grande número de companhias aéreas pressionando para fazerem aqui seu pit stop? O preço do frete cairia e o das passagens aéreas, idem. A Infraero teria de ceder e ampliar o aeroporto à toque de caixa.

Quem sabe, a indústria do turismo, que tem aqui sua vocação natural, não poderia emergir como um rival à indústria de transformação pelo impulso do preço do combustível? O Pólo Industrial não se mostra superavitário para o governo, mesmo pagando menos? O que se costuma chamar de “incentivos fiscais” na verdade não passam de “renúncias fiscais” sobre perspectivas de ganhos futuros.

Fica aqui a reflexão

Luiz Lauschner – Escritor e empresário

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 28/05/2011
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