FUI VITIMA DO BULLYNG
Vitória estava na sala de aula falando sobre posia. Começou a brincar com os alunos e falar de suas poesias, instigando-os a mostrarem também as que haviam feito.
- Quero ver também suas, falou. -Que tal se vocês fizerem um concurso de poesias?
“- Achamos legal professora”, respondeu uma voz tímida, vindo lá do fundo.
Era Leila, uma das alunas mais aplicadas daquela série.
Um aluno gritou:
- “Fica quieta sua gorducha!”
Era o Henrique, um dos meninos mais levados daquela sala.
Leila abaixou a cabeça, Vitória pode perceber que ela murchara de repente, e seus olhos estavam vermelhos, cheios de lágrimas.
Ela não podia deixar passar despercebido o fato ocorrido, chegou perto de Leila e disse:
-Então, querida, você vai ser a primeira a me mostrar sua poesia, pois tenho certeza que ficou linda.
Leila lhe entregou uma poesia que falava sobre “Amizade”.
Então Vitória pediu para que ela viesse à frente e declamasse.
A poesia era linda! Vitória pediu para que todos aplaudissem, e falou das qualidades de Leila, e como era bom ser e ter amigos.
– Olhem só que bela amiga vocês podem ter, disse propositalmente.
Não se pode descriminar ninguém, pois nossas qualidades superam os defeitos. -Uns são mais inteligentes, outros mais bonitos, mas somos todos iguais, independente da forma de ser ou maneira de agir, - disse Vitória.
O que precisamos é respeitar nossos semelhantes.
Ninguém é melhor que ninguém, concluiu.
Aproveitando a deixa, começou a falar sobre o assunto do momento, o Bullying, e contou que, quando criança, também foi vítima de muitos sofrimentos, causados por colegas de classe.
Ela explicou o que é Bullying, e falou das conseqüências deste ato tão infame, utilizado no meio estudantil.
- Ao pesquisar na internet, pude compreender a gravidade desta prática, disse aos alunos:
Para que vocês compreendam melhor, vou lhes explicar, disse ela:
-”Bullying deriva da língua inglesa (bully significa “valentão”).
São as praticas referentes a todas as maneiras de atitudes agressivas, verbais ou físicas. Intencionais, praticadas por pessoas cruéis, com o intuito de causar constrangimento e dor, bem como com o intuito de intimidar ou agredir outra pessoa indefesa, com condições desiguais de defesa.
Essa prática é muito comumente encontrada entre mulheres e crianças, tendo como característica o isolamento social da vítima, que cheia de medos, se recolhe, sofrendo sérios prejuízos psicológicos.
Em geral, a vítima teme as ameaças do agressor.
- Vou lhes contar a minha história, sobre esse assunto, falou Vitória.
Eu era uma menina magricela, órfã de pai e pertencia a uma igreja evangélica.
Fui vítima dos preconceitos, fenômeno que hoje chamam de Bullying, pois era ridicularizada por alguns alunos, que ficavam me agredindo com acusações verbais e psicológicas.
Chamavam-me de “crentinha, filha do diabo”, ou “a magricela, menina que não tem pai”.
Eu tinha poucos amigos, pois era excluída.
Muitas meninas me ameaçavam uma surra para retirar o capeta, que diziam que era meu companheiro, porque eu não era católica.
Então, acuada e cheia de medos, tinha pavor de ir para a escola, e também no recreio, procurava sempre estar por perto dos adultos, era um verdadeiro tormento, ficava a maior parte dele dentro do banheiro.
Fui me recolhendo dentro de mim e criando um sentimento de incapacidade e inferioridade.
Só fazia amizades com as meninas e meninos mais simples que eu.
Achava-me diferente, inferior, pois era excluída.
Tinha umas meninas que me agrediam fisicamente, dando reguadas, jogando papéis ou grudando chicletes no meu cabelo, riscando meus cadernos e livros e até me prometendo surras na saída das aulas. Ficavam cochichando e rindo quando me viam.
No colégio em que eu estudava era preciso tirar os sapatos para entrar. Eles ficavam no corredor.
Teve um dia que não consegui achar meus sapatos, pois elas haviam escondido.
Comecei a chorar e logo os sapatos apareceram. Prometeram então que se eu contasse para alguém, daí sim, eu iria apanhar.
Assim que o sino batia, eu era a primeira a sair correndo, para calçar meus sapatos que ficavam no corredor da entrada do colégio.
Eu só não entendia o porquê daquilo.
Na escola, as freiras obrigaram-me a fazer a primeira comunhão, mesmo sabendo que éramos de outra religião. Meu irmão também precisou fazer. Não sei por que minha mãe consentia, acho que era mais cômodo para ela, eu estudar numa escola há duas quadras de casa, pois meu pai vivia doente e afinal ela tinha tantas outras preocupações...
Toda semana, era preciso ir confessar os pecados para o padre e eu não sabia o que dizer, então inventava, e dá-lhe Ave-Maria.
O padre dizia que era para eu rezar uma quantidade de Ave-Maria e outra de Pai Nosso, pois só assim meus pecados seriam perdoados.
Eu ficava um bocado de tempo rezando ajoelhada no banco da igreja.
Ainda não haviam me contado que não existe nenhum intermediador (padre, pastor, ninguém) entre Deus e os homens, apenas Jesus Cristo. E que meus pecados deveriam ser confessados somente a Deus, e que só Jesus Cristo pode nos perdoar.
Lembro que eu era canhota e as freiras amarravam minha mão esquerda, me obrigando a usar somente a direita, pois diziam elas que quem era canhoto , era contra Deus. Eu não queria ser contra Deus, por isso aprendi a usar a mão direita, porém só para escrever e comer. Uso a esquerda para o resto das coisas. Levei algumas palmadas com réguas de madeira, meu Deus, como aquilo doía!
Tinha uma freira chamada Rita que eu gostava muito, ela era carinhosa e acho que também gostava de mim, mas tinha outra chamada Alethéia, Santo Deus, como eu tinha medo dela, como era má! Eu odiava decorar os pontos, era assim que eles chamavam os textos de História do Brasil, Geografia e Estudos Sociais.
Tínhamos que decorar até as vírgulas.
Na matemática eu não era lá essas coisas, aprendi na marra, mas odiava e nunca foi o meu forte.
As meninas que me aceitavam e com quem eu brincava eram a Cecília, a Julieta, a Floriza, são estas que me recordo. Elas sempre estavam ao meu lado, me protegendo e eu sentia que gostavam de mim.
Esse era o meu alento. Amigos é tudo de bom na nossa vida!