Língua Portuguesa (Eu vou adorar o dia em que puder dizer Língua Brasileira)

De novo esta teima, esta insistència em dizer que tal ou qual pessoa fala ou escreve errado! Que inferno isto! Não se consegue mais ter paciência com tanta gente antiquada. Com tantos jurássicos. Puxa vida, quanto tempo perde a literatura! Ai, quanta falsidade! Só engolem Jorge Amado nem sei mesmo por qual razão. Quanta antipatia! Já pensou em um personagem de romance ou de filme que seja bem pobre, desescolarizado, e falando assim: AS CASAS ESTÃO SENDO CONSTRUÍDAS AO LONGO DAS MARGENS DIREITA E ESQUERDA DA RODOVIA E ISTO É MOTIVO DE PREOCUPAÇÃO PARA OS GOVERNANTES IMBUÍDOS DA SEGURANÇA E DA CIDADANIA?

Na verdade nem precisa ser pobre, menino rico também fala a linguagem descansada, carinhosa, doce e suave, a modalidade coloquial. Ah, mas e na escola? Na escola não fica todo mundo duro feito um robô. Quem foi que inventou isto de chamar a professora de tia? Eu seria capaz de apostar que não foi uma dentre nós. Imagine as crianças nas festas juninas sem a palavra arraiá. Um adolescente que não diga FESSÔRA, FESSÔRINHA. Não dá mesmo para imaginar. Ah, que chata seria a sala de aula com 50 alunos concordancializados. Que menininhos chatos e cheios de efes e erres, tão explicados e almofadinhas.

Quem disse que a palavra concordancializados não existe? Pois acabo de criá-la. Aprendam também que a língua, além de viva, é inteligente e criativa. Ah, e você é professora? Tem certeza? Claro! Absoluta. Justamente por isto que me dou autonomia, autoridade e liberdade. Não fico dependente e nem subserviente à norma gramatical o dia inteiro. Deus me defenda de ficar na cama e, ao mesmo tempo namorar e falar em linguagem culta! E também não venha com argumentos bobos e infundados dizer: OLHE AÍ, OLHE ISTO E OLHE AQUILO. Eu vou por onde entendo que devo ir e sei exatamente quando é preciso vestir a norma dita culta, formal. Às vezes até descubro que nem todos podem envergar o mesmo vestido, que pena!

Quando é que esses gramaticalizados, esses guardas de trânsito linguístico vão deixar a gente em paz? Quando é que eles vão entender que uma rua que hoje é mão amanhã aparece com o sinal de contramão? E aí eles vão ter que apitar diferente. Quando é que vão entender que professor algum quer jogar a norma no lixo? Quando vão entender que a realidade é bem outra e que a gente quer apenas demonstrar ao aluno que diz NÓS VAI que ele é tão humano e importante quanto aquele que diz NÓS VAMOS? Quando é que vão entender que isto é respeito ao ser humano e à sua linguagem? Quando vão se convencer de que dizer que a linguagem de A ou de B é errada equivale a dizer que ser negro, cego, mudo, surdo é também ser errado?

Eu sempre perguntei às minhas alunas do Curso de Pedagogia se elas tivessem um filho portador da síndrome de Down se o colocariam num quarto separado e ainda diriam aos irmãos que dele se afastassem porque ele é “errado”. Mas todos querem que os filhos sejam médicos, doutores em alguma área e, por conta disto, a professora tem que separar o joio do trigo. Que lamentável. Seria bem mais prático admitir que nós não tivemos capacitação adequada pra lidar com alunos portadores de deficiências de tipo algum. Então, somos deficientes nisto. Temos que aprender, amar e aceitar as diversas formas de expressão oral ou escrita para nisto também não sermos deficientes. Depois, então, quando estivermos mais íntimos desses falares, poderemos dialogar e ensinar novas coisas aos alunos. Tem gente em pleno século XXI, das maiores e mais velozes transformações, pensando como se vivessem bem antes da colonização do país. Os jesuítas faziam estas duas coisas: 1. aprendiam os dialetos indígenas e, então, 2. partiam para o ensino da língua visitante. Só em comunicação com os nativos os padres poderiam ensinar-lhes uma nova forma de falar.

Sinceramente eu não entendo esta discussão vazia e vergonhosa sobre um tema estudado profundamente pelos maiores e mais respeitados pesquisadores do fenômeno linguístico em todo o planeta. Eu sinto vergonha disto.

taniameneses
Enviado por taniameneses em 18/05/2011
Reeditado em 18/05/2011
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