DAS QUESTÕES RELIGIOSAS
27.09.2005.
 
 
   Me torno cada vez mais pragmático em minha repulsa aos que se entregam à nulidade, aos que se deixam levar pelo TRÁGICO PESSOAL, aos que, por motivos diversos, entre eles o maior de todos: a indolência, deixam de pensar e passam a absorver pensamento já elaborado por outrem.
   Percebo fraqueza nas pessoas levadas por emoção e que nela constroem pilastras; se arraigam e cauterizam-se num emblema, numa bandeira, qualquer que seja e nela propagam sua visão individual como se universal da temática da salvação; e de quê?!
   Vejo uma tremenda indisposição nas pessoas que seguem doutrinas religiosas formuladas por outros idênticos humanos; pessoas que em busca de uma aparente satisfação pessoal digerem preceitos concebidos por outros em suas experiências às vezes psicóticas, visões delirantes, vozes do além, aparições, chamados e etc.
   Compreendo todo o tipo de auto-flagelo, renúncia, como necessidade demente em punir-se por se conceber que assim alcançará a remissão daquilo que nem mesmo o auto-flagelador conscientemente sabe; uma incapacidade patente em lutar por uma existência normal e arrogância naqueles que precisam ser notados e assim se martirizam no intuito de serem lembrados como “santos”, e, há que se concluir: não há caminho mais rápido para imortalizar-se historicamente, caminho mais rápido para tal “ascensão”, seja do envolvimento da alma e/ou do espírito nas questões religiosas que a martirização.
   Reparei também que quanto mais pobre se é financeira e/ou intelectual e emocional, mais se busca apoio, amparo, mais se carece de “empurrões”, conselhos práticos, auto-ajuda, frases feitas e de um convívio com semelhantes fracos e problemáticos. A maioria dos religiosos que conheci vem de adversidades comuns da vida e encontram na religião, seja qual for, um grupo de pessoas identificáveis: reúnem-se! Encontram em tal “agrupamento” um mártir e/ou um líder como espelho; alguém ou algo que expia e/ou expiou todas ou quase todas as falhas, pecados, delitos; acompanhado de um texto, um livro, um compêndio que sirva de regra doutrinal para todo e qualquer tipo de inconveniência e adversidade, base histórica e motivações que simplificam os mais profundos “mistérios” da “verdade” que cercam a existência; aponta supostos motivos para a mesma, responde as mais inconcebíveis perguntas numa simplicidade brutal a qualquer um que seja de um espírito independente.
   A religião priva as pessoas do pensamento individual, as adequa à “sociedade” e os torna seres aceitos pela mesma, total ou parcialmente aceitos; salvos raros casos de grupos verdadeiramente dementes, como um que se alimenta da luz solar, do deus Sol.
   Não me sentiria livre estando envolvido em grupos religiosos; adepto de algo que do nada me promete tudo, ou quase tudo que realmente preciso ou/e acham que preciso. Caso seguisse preceitos, ordenanças, cerimônias com a finalidade de obter a salvação contanto que fosse fiel às mesmas, caso contrário me restaria a morte, o inferno, o sofrimento eterno, estaria em processo de insanidade, loucura e emburrecimento.
   O lado positivo das religiões é que apelam, em sua maioria, ao amor ao próximo, à ética, à moral, aos bons costumes, organizam a sociedade numa convivência mais pacífica e menos amarga, porém vejo tais eventualidades possibilitadas independentemente de religiosidades, instituições beneficentes e afins. Basta que se seja espírito livre.
   Consigo conceber satisfação pessoal quando livre de imposições, quaisquer que sejam. Não seria hipócrita ao ponto de dizer que não tenho vontades, uma certa queda ao “pecado”, ao “proibido”, aos prazeres numa conveniência fortuita à realização dos mesmos, caso contrário, caberia-me ser mais um religioso, crente (em que?); um misturador de coisas!
 Repulsa sim, aos falsos religiosos. Já que se esmera em levantar uma bandeira, um ismo, que se leve à risca, na íntegra.
Rejeito para mim qualquer fantasiosa solução para tornar “atrativa” a morte, como de igual, matar a vida. Qualquer explicação da vida após a morte por pessoas que não morreram ainda. Experiências extra-corpóreas que geralmente ocorrem em pessoas com sérios distúrbios emocionais, mentais. Descarto o diálogo com seres fanáticos; aqueles “agraciados” em visões, sonhos, revelações, vozes, chamados, enquanto eu, não “iluminado” ou ”chamado” para tais experiências curo-me da mesma gripe.
   Cabe ainda dizer que, vivemos num país laico e ainda assim sou sabedor que qualquer tipo de preconceito religioso é punível criminalmente. Acho que a religião resolve, salva, cura e ameniza a vida de 90% dos brasileiros. Acredito que existe um Ser Superior criador disso tudo, mas não sei seu nome, nunca o vi e não sei se o verei; provavelmente não.
   Esse texto, por mais polêmico que seja, exprime apenas minha forma pessoal de conceber a religião, respeitando o direito de todos de procederem aquilo que lhes é mister, como eu também conheço meu direito de ser agnóstico sem que as pessoas interfiram ou me firam preconceituosamente.
  E finalizando, estou pronto às críticas até mesmo dos ateus, que não é o meu caso.
   Reitero, agora me lembrando que, tenho apenas um preconceito: sou preconceituoso em relação aos preconceituosos. Tenho amigos de várias religiões, agnósticos e ateus, convivo pacificamente com todos, no entanto tenho minhas considerações pessoais sobre religião.
   O lado das religiões que exercem funções sociais e morais eu admiro, mesmo tendo eu nascido com o conhecimento do bem e do mal manifesto logo em meus 2 anos de idade.
   Ouso ainda a dizer que, quanto mais desamparado e quanto menos assistido é um grupo na sociedade, quanto mais afligido por descasos institucionais e públicos, maior se torna a proliferação de doenças, conflitos, males, epidemias e igrejas.
   Concluo serem, as religiões, a borra do irreciclável, o colostro que alimenta os miseráveis famintos e o subterfúgio dos incapazes viventes que, sobreviventes e flutuam apáticos na inércia da palidez e mudez cerebral.
   O papel religioso limitando-se apenas ao social, seria suficientemente cabal.
   É necessária a existência de religiões; a grande maioria de meus semelhantes somente se aproximam da moral, ética e bons costumes por intermédio da mesma, lhes é inconcebível a filosofia e o instinto natural de percepção do bem e do mal, carece-se de uma motivação para que se contenha o ímpeto lado ancestral violento, carnívoro e ainda não selecionados naturalmente.

   Reparem que há religiosos de ótimo caráter, agnósticos de ótimo caráter e ateus de ótimo caráter e vice-versa.
Marcelo Braga
Enviado por Marcelo Braga em 13/05/2011
Reeditado em 13/05/2011
Código do texto: T2966995
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