Das Escolhas

Das Escolhas

Clevane Pessoa de Araújo Lopes

Aprendi em meus tempos de faculdade de psicologia, no CES-Centro de Ensino Superior(Juiz de Fora, MG), que ns escolhas, o stress é muito maior quando a pessoa tem de escolher entre duas coisas positivas,prazerosas.Ou pessoas .Há um comportamentode esquiva para que é desagradável, outro de aproximação para o que é agradável.
Então, vejam das dificuldades do ser humano em traçar escolher e seguir algumas.Entre a amante fogosa e a esposa amiga?Dificílimo escolher.Entre a mulher megera , o marido violento, e a namorada doce, o homem gentil?Parece fácil?Não, ainda, pois um poderá ser um má escolha pessoal mas representar valores culturais ou pessoais muito importantes, como família.Às vezes, os valores são bens materiais:o carro , a casa com piscina, o apartamento quitado depois de muitos sacrifícios.Deixar aquilo que se tem para outra pessoa?A quem não se quer mais?Ah,mas e os filhos?E as Leis?
Padres se apaixonam e nem sempre conseguem abandonar o Clero(deixar a batina, dizia-se antigamente, o hábito, para as freiras: algo difícil, que requer medidas dentro da ordem,dentro da Igreja, severas.No caso de sacerdotes, as mãos são consagradas para a Eucaristia, a Extrema Unção, e outros Sacramentos.Ainda assim, alguns conseguem decidir .Outros canalizam os desejos,sacrificam-se.
Pergunte ao adolescente em crescimento, saudável e desportista se prefere a macarranada da mamma ou um big isso ou aquilo, um fast food da moda...Ele vai querer ambos:um agora,ou com os amigos.Outro depois, em casa.
Festa de quinze anos ou viagem? Prais ou montanha nas férias?...
Ah, a difícil arte de tomar decisões acertadas, escolher caminhos!Goethe dizia que precisamos de ousadia.Quebrar qualquer estrutura em prol de outra, requer maturidade.Um pouco de loucura.Um tanto de amor próprio.Um chute no balde pode ser ótimo no momento e depois obrigar o” chutante” a passar a vida pagando por seu ato medular...
Há medidas viscerais, traumatizantes.Quem viu o filme “A Escolha de Sofia”(no original, Sophie’s Choice),protagonizada na tela por Meryl Streep(Oscar de melhor Atriz, pelo papel cito), arrepiou-se ao se imaginar no papel daquela mãe judia , obrigada a uma decisão extrema: ter de apontar um dos filhos pequenos , para ser exterminado.Ficaria um deles apenas.Quando li o livro, ainda foi mais dramática a cena da escolha.
Duas vertentes de aproximação –aproximação : decidir entre dois filhos amados.E um morrerá, pela decisão materna...

Até onde existem limites para se suportar a vida?A crueldade humana?Quantas vezes é preciso decidir pelo pior para o crescimento espiritual ou intelectual, para sobreviver?Entre passar fome e entregar o corpinho púbere, quantas prostitutas meninas têm certeza de que a segunda opção é a melhor?E não será?Afinal, o instinto de sobrevivência é o mais forte...

Quando eu era pequena e assistia muitos filmes de faroeste, não era raro vermos um cavalo que quebrasse a perna, ser sacrificado- o dono se armava mais de coragem ...A cena, ficava martelando-me:a mão se erguia, o tiro era disparado.
E eu passava horas discutindo a necessidade ou não do cruel ato.Ou do ato de caridade para com o animal? Minha mãe criaria o cavalo aleijado.Em casa, tínhamos a Sammy, depois apelidada Tripé, que perdeu uma perna sob o caminhão de lixo.Viveu muitos anos e pariu muitos filhotes, cuidada por ela e pelo macho amante, o Milu.

Lembrei-me, enquanto escrevia ,do livro “Opções”, de Liv Ullmann, a atriz sueca que foi mulher de Ingmar Bergman, por ele dirigida, por exemplo, em Gritos e Sussurros. Nele, a autora faz retrocessos, rememórias.
Levantei-me e fui a meu banheiro buscá-lo (tenho livros em todos os cantos da casa). Opções foi escrito depois do primíparo, Mutações (no Brasil,Opções foi lançado em 1985 em edição da Nórdica, bela capa argêntea, com desenho a bico-de-pena de Jane Maia e tradução de Sonia Coutinho).
Quando Liv andou pela Somália, presenciou e relata uma dura decisão materna.Folheeei-o,rapidamente,em busca do trecho, pois tenho uma certa memória fotográfica para livros que aprecio, sei mais ou menos onde está escrito o que me chamou atenção, se no alto, se no canto inferior,no meio da página...

Logo achei a história, entre as várias tocantes que ela conta e vou transcrever o trecho:

“Vejo-a ,mergulhada em sua angústia,com um bebezinho nos braços. O campo de refugiados onde vive está gravemente afetado por uma seca.Seu filho morre de sede, em silêncio.
Diante dela,está um poço cheio de grossa água poluída.
Tem uma opção a fazer-deixar seu único filho morrer de desidratação ou fazê-lo beber água envenenada.
Observo-a optar.
Abaixa-se ,enche o côncavo da mão de lama;leva-a,lentamente, á boca do bebê.”

Ao ler, pensei:não teria a atriz, uma garrafa de água mineral ?Ela viaja em um helicóptero durante a Guerra da Etiópia.Um helicóptero do Ministério da defesa está a serviço da UNICEF.Um velho aparelho russo.Ela confessa ter medo, pois podem ser atingidos.Mas faz sua opção de continuar seu trabalho.Acho-a corajosa por revelar o fato sem cxontar porque não ofereceu água à mulher.
Muitas histórias, nesse livro interessante.
Penso que as pessoas, todo o tempo, devem pensar e repensar para tomar um caminho.No entanto,às vezes é mesmo necessário arriscar .As mudanças são obtidas através de atitudes mais drásticas.O resto é acomodação.Talvez, o que importe realmente,seja ponderar tanto quanto possível, para não se arrepender depois.O resto, ficaria por conta das próprias variáveis humanas e circunstanciais . O importante mesmo,é manter a dignidade pessoal e a auto-estima.E esperar que as energias cósmicas trabalhem a nosso favor.”Ou isto, ou aquilo”...conforme a poesia de Cecília Meirelles:impossível fugir à necessidade de escolher, sempre!...

Belo Horizonte,20/11/2006