O HOMEM, O COMPANHEIRO E O POETA

Andréa Jerônimo (*)

Sensibilidade, telurismo e realismo. Assim é o homem que mora em Joaquim Moncks.

Homem este que constrói a sua casa espiritual "pedra a pedra, esgorja o espírito e é de súplicas que os convivas vivem." (in O POÇO DAS ALMAS, poema “Escritura de Nascimento”. Universidade Federal de Pelotas, 2000, pág.76.

Seu realismo, sua vivência, esta transparência, o jeito de falar sem medir palavras, é o do engenheiro que sabe como faz, e o faz por Amor. Aliás, aprendi com Vinicius de Moraes, que o Amor é uma explosão, capaz de denunciar todas as guerras, como se pode ver em sua decantada "Rosa de Hiroshima".

E por falar em amor, JM é uma "Rosa no Bar" (obra citada, p.75), de um amor sofrido e por que não dizer morrido? Sua bailarina brinca e baila em lembranças, como se projetasse seu destino nas sapatilhas da entrega.

Este amor, esta entrega é quase uma dor profunda. Esta forma, esta maneira de ver a vida como se fosse sempre cor-de-rosa com bolinhas brancas, faz o homem, o companheiro e o poeta de um só elemento. Tudo perfeito, nuns quebra-cabeças múltiplos, peças espalhadas, difíceis de juntar à primeira vista.

O poeta Moncks é por vezes, inspiração, mas é a transpiração, o trabalho sobre a idéia original, a que mais prevalece.

Nos últimos anos, descubro que o poeta vê o real como se fosse poesia. Tem vários semideuses que ele cria dentro de si como fosse um Netuno, suas tempestades nas marés da vida, sua doença, como o diabetes, que ele julga que é uma "dádiva" para o aprimoramento do espírito e a nova vida que ele crê que virá no desabrochar de sua (nova) escritura de nascimento. Para nós, simples criaturas comuns, fica apenas a impressão de que o mal, o pecado, se instaura sobre a humanidade.

No poema América, Carnaval e Cinzas, criado durante a sua prisão política, de 28 de junho a 26 de julho de 1981, (em sua lira dos tempos de chumbo, período que ele vivenciou e eu quase nada, tendo notícia somente por literatura, porque nascida em 1975) JM diz, na parte lírica do poema, no qual denuncia a exploração do homem, na América Latina: “E o vinho, sangue vivo do suor de América, assentou liberdades. Em recolhimento, descubro que só a angústia dá a verdadeira dimensão humana. E a alegria é somente um passo, compasso para fechar o círculo.". E como sempre o acompanham os semideuses, figuras míticas de seu interior, aqui é o deus Baco que fomenta a sua criatividade.

É sempre assim, mormente no inverno, quando o cálice de vinho cabernet sauvignon liberta os seus duendes refletidos no monitor do computador, no qual redescobriu o prazer de criar, diretamente, após tantos anos de papel e caneta, porque excepcionalmente escreveu a lápis. Seus versos sempre nasceram à tinta, sem rascunhos.

No entanto, é pertinaz na busca da forma, tanto em verso como em prosa. Para ele, a obra nunca está pronta. Mesmo depois de publicado, está sempre procurando a melhor forma de dizer o que criou. Tem um livro de poemas regionalistas, DE QUANDO O CORAÇÃO ABRE A CORDEONA, que foi iniciado em 1978, e no qual está trabalhando há mais de 25 anos.

Esta capacidade de somar e não diminuir, traz no poeta o homem sensível que canta as misérias do mundo, mesmo que ele entre pela “Porta dos Fundos” (idem, ob. cit., p.104).

Assim é o Moncks, o companheiro-poeta, que vive harmoniosamente este “Amor Maduro”, pág. 35 da mesma obra citada, e sabe que, na vida, "Tudo brinca de esconde-esconde" e "Esfumam-se as imagens nos filmes do ontem" (idem, p.57).

Enfim, a arte poética de Joaquim Moncks apenas copia a vida, tal como ele a vê e a concebe. É a realidade o seu permanente arrimo.

– Do livro EROS E OUTROS TEMAS - Poesias, contos, crônicas, artigos. São Paulo: ALPAS XXI – Scortecci, 2003, p. 19:20. Texto original revisado.

– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre a Prosa e a Poesia, 2003.

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/296490

(*) Professora do ensino fundamental. Técnica em Enfermagem. Tecnóloga em Radiologia Médica. Declamadora. Ativista cultural. Esposa do criticado. Nascida em Laguna, SC, em 25Fev1975. Mercê de sua forte personalidade e dedicação, construiu um admirável espaço na Casa do Poeta Rio-Grandense, na qual freqüenta a promoção “Cafezinho Poético-Musical”, onde granjeou um considerável número de admiradores e amigos. Ocupa a cadeira nº. 04, patronímica de Luciana de Abreu, na Academia Literária Gaúcha – ALGA, sediada em Porto Alegre, cidade onde reside. End. eletrônico: deiajer@ibest.com.br