O QUE TEMOS FEITO COM O NOSSO TEMPO?

“O tempo esta correndo... Voando... Passando mais rápido que os ponteiros do relógio! Seria possível? Bem, esta é a sensação que nós temos. A vida se tornou frenética, e a cada dia assumimos mais cedo uma quantidade exagerada de responsabilidades. É a escola, o curso de línguas, a natação, o balé, o reforço escolar, o teatro, e quando vemos, ou melhor, ouvimos no final do dia é um “estou cansado!”. Achamos um absurdo, como pode uma criança, cansada?! Cansados estamos nós! Que a levamos na escola, nos cursos e demais atividades, vamos ao trabalho, e exercemos com afinco nosso ofício, e ainda resta-nos as obrigações do lar, como fazer a feira, a faxina, etc.

Nossa! só de falar cansa, mas, infelizmente, muitos de nós temos vivido assim, dormimos e acordamos fazendo cronogramas na cabeça, relembrando a agenda e as obrigações do dia e da semana, e não é comum o fato de algumas vezes estas obrigações “passarem batidas”. Nos estressamos e redobramos os esforços para enfim refazermos os horários e encaixar novamente a atividade esquecida.

Mas, o mais engraçado nesta rotina diária é que acabamos nos acostumando, entramos literalmente no ritmo, mesmo que cansativo, e seguimos a vida muitas vezes até infelizes, e, em alguns casos, felizes, sim, há quem literalmente é feliz em meio ao caos, mas, são raras as exceções.

Estes são os seres humanos que compreende a importância do tempo e a sincronia de tudo mais que existe neste universo. São pessoas que além do trabalho, da universidade e atividades do cotidiano conseguem enxergar a profundidade do viver e encontram na falta de tempo lacunas para experimentarem a sensação de paz e de sossego em meio ao “tic-taquear” do relógio que não pára.

Me peguei vivenciando algo parecido há alguns dias atrás, me surpreendi com a sensação que senti, e assumo, sou daquelas pessoas cheia de atividades e cronogramas, e que mesmo tendo a consciência da necessidade de parar em momentos do dia para contemplar o belo da vida, sigo correndo paralelo aos ponteiros que informam a hora. Mas, enfim, foi no caminho da universidade que literalmente “viajei” com os pés no chão, o motivo? Algo tão simples e ao mesmo tempo tão gostoso, que não poderia deixar de descrevê-lo em meus escritos, assim, compartilho a minha experiência.

Era final de tarde e seguia eu a pé o caminho em direção ao meu centro de estudo, este, é um campo aberto, ao lado de um “laguinho”, algumas árvores, uma construção de extensão do prédio, e um espaço delineado em meio a grama pelo tramitar dos estudantes. Estava envolvendo os meus livros e cadernos, pensando nas aulas daquele dia, quando avistei dois cachorros, sim, dois cachorros! Um de pelagem clara, quase um bege, e outro escuro, literalmente preto, e eles corriam, um atrás do outro, saltavam em pulos e direcionavam mordidas no ar, caiam e se levantavam, e voltavam a correr, saltando um sobre o outro, como uma dança, usavam livremente todo o espaço do campo, pouco se importando com quem ali passava, e eu, seguia aquele momento sem nem olhar o caminho, meus pensamentos ficaram inertes, e sorrindo, brinquei com os meus sentidos junto com aqueles animais. Foi um momento único, delicioso, me senti livre e sem responsabilidades vivenciando aquela situação, me esqueci de tudo, literalmente, e me fiz novamente criança naquele instante, mas, o que mais me chamou a atenção, foi o que ocorreu para me trazer de volta à realidade. Um rapaz desconhecido que passava ao meu lado proferiu com um sorriso no rosto: “Muito legal os cachorros brincando, neh?!” eu, ainda atônita pela situação, apenas respondi com um meio sorriso e prossegui no caminho.

Voltando a realidade, comecei a refletir sobre o ocorrido, o coração ainda um pouco eufórico, se sentiu feliz pela sensação de renovo. Este ocorrido habitou dias em minha mente, até que decidi transcrevê-lo. E, o caminho escolhido para contar o fato foi refletir sobre o que temos feito com o tempo. E conclui que viver é muito mais que apenas cumprir tarefas, é muito mais que apenas conquistar títulos e bens, vai além de tudo que é material, viver é experimentar tudo aquilo que constitui o homem, é buscar o equilíbrio entre o corpo, a alma e o espírito, é encontrar o eu nos outros e no universo. Mas, o tempo, este, esta correndo... Voando... Passando mais rápido que os ponteiros do relógio! E o que temos feito da vida nele?

Fernanda Alves F. da Silva

10/05/11

Fernanda A Fernandes
Enviado por Fernanda A Fernandes em 10/05/2011
Reeditado em 10/05/2011
Código do texto: T2960893
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