A criatividade necessária nos processos de mediação de grupos humanos

A criatividade necessária nos processos de mediação de grupos humanos: mobilidade e flexibilidade cognitivo-emocional. (1)

Prof. M.Sc. João Beauclair.

Atuar no vasto campo da formação humana, focado na aprendizagem e numa perspectiva abrangente e aberta, tem sido minha tarefa (e imenso privilégio) como mediador em diferentes oportunidades de trabalho e vida.

A cada nova experiência, muitas reflexões e pensares posteriores, que busco sistematizar com o intuito de conjugar meu verbo-ação preferido: compartilhar.

Uma dessas reflexões faz parte do título deste escrito: a criatividade necessária. Necessária pelo fato de são muitas as demandas emocionais que se encontram presentes nos espaçostempos de intercâmbio e formação continuada.

Cada sujeito aprendente que se posiciona como ser em construção, elabora e exerce sua presença, com inúmeros desejos de fazer valer sua singularidade, sua dimensão de co-participante nos processos de estar em busca de novos pensares, estratégias e técnicas que sejam disponibilidades ao seu acervo pessoal.

E o que isso acaba por gerar? Uma imensa necessidade de sermos, enquanto mediadores, sujeitos criativos que se lancem ao contato com os outros, possibilitando a inserção de novos atores e compartilhando nosso provisório protagonismo.

Tendo sido beneficiado com diferentes convites de diversas instituições (entre universidades, fundações, secretarias, ongs, empresas), para estar neste movimento. O que tenho vivenciado, de um modo até mesmo ousado, é o compartilhar angústias, alegrias, tristezas, pensares, potencialidades e desejos de construção de uma outra vida nos espaçostempos institucionais, onde as pessoas sejam o que faz, de fato, a diferença.

A qualidade de qualquer processo de elaboração de idéias, ações ou de produtos, só é possível no ato humano de compreender, dialogar, ‘estarjuntocom”, expressão que grafo deste modo para reforçar a idéia de estarmos, de fato, em grupo.

Criar novas abordagens, para temas já amplamente discutidos, favorece a melhoria do uso de nosso cérebro, pois contribui efetivamente para a “eliminação” de ações e hábitos não mais desejáveis.

Para irmos adiante, em todos os campos de nossas vidas, naturalmente devemos realçar os nossos bons hábitos e compartilhá-los com os outros que, porventura, presentes estejam em nosso cotidiano viver: somos seres humanos porque vivenciamos enquanto espécie, desde remotas eras, o fato de estarmos em grupo.

Nossa maior permissão deve ser a de, individualmente, alcançar maior desenvolvimento de nossa criatividade. E não há, é óbvio, uma receita pronta, fechada, visto que cada um age, interage e reage a seu modo, de acordo com suas vivências anteriores e com sua formação oriunda do convívio com outros humanos nos espaços das instituições.

Entretanto, vivencio estas experiências faz duas décadas, desde o início de minha carreira como Animador Cultural nos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) até meus atuais trabalhos de assessoria, consultoria e docência em diferentes instituições empresariais, educacionais e organizacionais brasileiras. Algumas pequenas “dicas” relacionadas ao desenvolvimento da criatividade humana para momentos de compartilhar saberes e “ignorâncias” posso aqui elencar.

Utilizo tais dicas freqüentemente e penso/sinto aqui o desejo de compartilhá-las, pois são oriundas das experiências acima colocadas. Por enquanto, elas são dez dicas, mas com o tempo, algumas outras poderão ser agregadas a estas.

Primeira Dica:

Esforce-se para olhar as pessoas, pois os “olhos nos olhos” criam uma energia/sinergia inicial que possibilita excelente interação.

Segunda Dica:

Movimente-se. Hoje competimos com espaços virtuais extremamente dinâmicos, com imagens, sons, cores e movimentos atraentes.

Não dá para ir para uma conferência, um simpósio, uma palestra e ficar atrás de uma mesa, lendo de modo enfadonho um artigo seu. Como dizem meus amigos mineiros: “ninguém dá conta disso”!!!

Terceira Dica :

De acordo com o tempo que você tem a seu dispor, elabore estratégias com uso de músicas que sejam conhecidas. Isso trás alegria ao pensamento e possibilidades maiores de abertura à atenção. Nosso cérebro não consegue se concentrar, com competência e habilidade, durante muito tempo, numa única modalidade de estímulo. Tenha mobilidade e flexibilidade cognitivo-emocional para se permitir a ousadia e ao novo: é só uma questão de experimentar. Diversifique!

Quarta Dica:

Use o lúdico, a brincadeira. Necessariamente não é o excesso de teoria presente nas nossas “falas sobre as coisas” que fazem com que possamos compreendê-las com mais significado.

Quinta Dica:

Em diferentes momentos, insira a linguagem metafórica, pois seu uso facilita outras conexões e sinapses. Jargão muito específico e técnico gera dificuldades de compreensão.

Sexta Dica:

Nunca parta do principio que seus “ouvintes” são crianças sentadas num “banco de escola”: são adultos repletos de vivências extremamente ricas e podem, com certeza, apresentar visões de mundo e vida tão ricas quanto as suas.

Sétima Dica:

Técnicas criativas exemplificam inovações bem-sucedidas. É fundamental estar em movimento e desenvolver processos criativos, ou seja, invente novos modos de se expressar, novas maneiras de encantar as pessoas com a sua presença. Para tal, esteja por inteiro naquilo que está fazendo. Recentemente presenciei um fato muitíssimo interessante. Uma autora, ao lançar seu livro, me fez o seguinte comentário: “Tenho que ficar aqui dando plantão!” Inusitada tal situação, pois é preciso viver cada conquista desse nível com muita alegria e inteireza, diante do efêmero que é o viver.

Oitava Dica:

Não tema ao relatar suas experiência de vida, mas seja cauteloso e cite apenas questões que, de algum modo, ilustrem o tema que você está trabalhando. Pierre Weiil já nos ensinou que o corpo fala, então, cuide-se muito bem e preste atenção à sua linguagem corporal, pois ela traduz, e muito, sua postura diante da vida.

Nove:

Sempre insira questões da atualidade no decorrer de sua apresentação, de modo contextualizado, é óbvio. Abordar temas ligados à gestão da inovação e do capital intelectual de uma organização, por exemplo, exige certa bagagem sua neste setor. Fale somente sobre temas que você realmente goste. Com afeto (no sentido de afetar de algum modo o outro) e amor (no sentido do exercício pleno da amorosidade), pois esses quando “em cena”, fazem com que a absorção dos conceitos apresentados por você seja muito mais competente e saborosa.

Dez:

Seja humilde e recuse a empáfia: o conhecimento, quanto mais compartilhado, mais crescerá. Oportunidades novas se abrirão cada vez que você se colocar em movimento de ser um sujeito atuante, objetivado, proativo e colaborador em projetos de outros.

Se me solicitassem eleger algumas palavras-chave para o mundo do trabalho no século 21, talvez eu pensasse na seguinte organização de pares de idéias: paciência e escuta, perseverança e polidez, silêncio e cuidado, presteza e solicitude, análise e gestão da inovação, capital intelectual e alentos, talentos e corporação.

Nossos empreendimentos no século XXI só sobreviverão se fizermos uso dessas palavras como hábitos e condutas. Nossos empreendimentos no século XXI só sobreviverão se tivermos parcerias, modo único, a meu ver, de irmos adiante às nossas trajetórias, pois é preciso prosseguir, reinaugurar a própria VIDA.

Sobre isso nos escreveu o poeta Carlos Drummond de Andrade:

“Prosseguimos, reinauguramos

Abrimos olhos gulosos a um Sol

Diferente que nos acorda

Para descobrimentos.

Esta é a magia do tempo”.

Então, só nos restar pensar: adiante!

(1): Para Laura Montserrat, que recentemente, numa situação vivenciada em comum, me falou: “João, você sempre nos trazendo o novo”.