Diversas traduções
Sim, de fato Moisés proibiu seus contemporâneos de falar com os mortos. Esta proibição está escrita nos Livros Deuteronômio, Levítico, e Números da Torah - livro sagrado dos Judeus – que foi anexado inapropriadamente ao Cristianismo pelo Teólogo Jerônimo no 4º século d.C., sob o beneplácito de Dâmaso, bispo de Roma.
Os primeiros cristãos até o 4º século, somente liam o Evangelho de Jesus, pois a Torah era o livro do judaísmo, uma doutrina que eles não seguiam.
O Cristianismo é baseado nos ensinamentos de Jesus e está escrito nos Evangelhos (Novo Testamento).
O Judaísmo é baseado nas palavras de Moises, dos Reis, e dos Profetas e está escrito na Torah.
Atualmente, os cristãos das religiões tradicionais adotam esse livro com o nome de Antigo Testamento. A Torah é um livro religioso, e o respeitamos, mas pertence aos nossos irmãos Judeus. Não é um livro cristão. Isto por si só, já bastaria para separar a proibição de Moisés, do culto e das práticas cristãs.
Mas, como as pessoas que colocam essa objeção ao Espiritismo professam religiões que acatam o Antigo Testamento como seu próprio livro sagrado, eles entendem que essa proibição é valida para todos, e, portanto, segundo o seu ponto de vista os espíritas a estariam desobedecendo.
Então vamos responder a essa pergunta do titulo da nossa matéria pelo ponto de vista desses religiosos cristãos.
Na Torah – ou Antigo Testamento, como preferirem – os textos dizem o seguinte, segundo algumas traduções :
Levítico 19:31 (exposto por quatro traduções diferentes)
1) “Não se deve achar em ti alguém que...vá consultar um médium espírita...ou alguém que consulte os mortos."
Tradução da Bíblia Católica – Editora Iracema.
2) “Não vos dirijais aos espíritas, nem aos adivinhos: não os consulteis, para que não sejais contaminados por eles: eu sou o Senhor, vosso Deus”. (Levítico19:31)
Tradução dos Monges de Maredsous (Bélgica)
3) “Não vos virareis para os adivinhadores e encantadores; não os busqueis, contaminando-vos com eles: eu sou o Senhor, vosso Deus”. (Levítico19:31)
Tradução de João Ferreira de Almeida.
4) “Não vos voltareis para os necromantes nem consultareis os adivinhos; pois eles os contaminariam. Eu sou Iahweh vosso Deus”. (Levítico19:31)
Tradução para o português diretamente de “La Bible de Jerusalém”.
Levítico 20:27 (exposto por duas traduções diferentes)
1) “Qualquer homem ou mulher que evocar os espíritos ou fizer adivinhações, será morto. Serão apedrejados, e levarão sua culpa”. (Levítico20:27)
Tradução dos Monges de Maredsous (Bélgica)
2) “Quando pois algum homem ou mulher em si tiver um espírito adivinho, ou for encantador, certamente morrerão: com pedras se apedrejarão; o seu sangue é sobre eles”. (Levítico20:27)
Tradução para o português diretamente de “La Bible de Jerusalém”.
Deuteronômio 19:9 (exposto por duas traduções diferentes)
1) “Quando tiveres entrado na terra que o Senhor, teu Deus te dá, não te porás a imitar as praticas abomináveis da gente daquela terra. Não se ache no meio de ti quem faça passar pelo fogo seu filho ou sua filha, nem quem se dê a adivinhação, à astrologia, aos agouros, ao feiticismo, à magia, ao espiritismo, à adivinhação ou à invocação dos mortos, porque o Senhor...”. (Deuteronômio 18:9)
Tradução dos Monges de Maredsous (Bélgica)
2) “Quando entrares na terra que Iahweh teu Deus te dará, não aprendas a imitar as abominações daquelas nações. Que em teu meio não se encontre alguém que queime seu filho ou sua filha, nem que faça presságio, oráculo, adivinhação ou magia, ou que pratique encantamentos, que interrogue espíritos ou adivinhos, ou ainda que invoque os mortos...”. (Deuteronômio 18:9)
Tradução para o português diretamente de “La Bible de Jerusalém”.
O mesmo texto apresenta diferentes versões, dependendo do tradutor.
Como se vê acima, já constatamos serias divergências.
Na tradução católica da editora Iracema encontramos termo médium espírita (!)
Nas traduções dos Monges de Maredsus, encontramos os termos espíritas e espiritismo.
Nas demais traduções e, especialmente na tradução original do Hebraico, encontramos somente os termos adivinhos, necromante, encantador, e espíritos.
Ora, como os termos espíritas e médium espírita foram neologismos criados por Kardec no ano de 1857, como podem os termos espíritas, espiritismo e médium espírita estarem escritos num livro de 3.000 anos antes desses termos terem sido criados?
Obviamente se vê aí uma clara adulteração dos termos do Antigo Testamento perpetrados com a clara intenção de denegrir e atingir diretamente os espíritas e o espiritismo. Como estas alterações não fazem parte da Bíblia Original, não devem ser portanto levados em conta, e continuaremos nossa analise considerando somente o texto original dos Judeus na Torah, pois ali o texto se mantem como foi criado, sem modificações.
Isto posto, vemos que a proibição de Moises referia-se a adivinhos, necromantes, encantadores, adivinhação, astrologia, agouros, feiticismo, magia, e adivinhação, pessoas e práticas que absolutamente não encontramos no meio espírita, e as quais a Doutrina Espírita também reprova.
Portanto, nada há no Antigo Testamento contra o espiritismo.
Mas a lei Mosaica também ameaçava com a morte quem procurasse fazer contato com os mortos, e isto tem servido de argumento para aqueles que censuram o espiritismo. Veremos mais adiante o rebate a essas censuras.
Antes, vamos analisar essas proibições conforme a situação da época.
Encontramos na pessoa de Moisés um legislador que precisava manter a ordem e a fidelidade aos princípios da fé dos Hebreus, em meio a um povo rebelde recém tirado da escravidão do Egito, e que vagava pelo deserto. Esse povo conviveu por séculos com outra cultura e religião, e estava acostumado a consultar tais adivinhos, sem considerar o embuste em que poderiam estar caindo. Para evitar a crendice e a propagação das superstições, e principalmente para evitar que esses adivinhos fossem elevados pelo povo à posição de intermediários divinos, foi que Moises acertadamente proibiu essas comunicações. A punição severa demais para a natureza da falta poderia dever-se ao fato dele não ter como aprisionar os faltantes, pois eram nômades vagando no deserto em demanda da terra prometida. Não havia como promover castigos de reclusão, e portanto restou-lhe a aplicação da pena máxima.
Mas tal proibição visava apenas as consultas aos adivinhos inescrupulosos, pois que as comunicações sérias ele as permitia e até as estimulava como veremos a seguir:
No livro de Números, capitulo 11:16,17,24 a 29, Moises demonstra que sabia perfeitamente diferenciar as comunicações sérias e boas, das adivinhações sem escrúpulos, que visavam exclusivamente o interesse comercial de quem as praticava. Vejamos o que diz o texto:
“O Senhor respondeu a Moisés: Junta-me setenta homens entre os anciãos de Israel, que sabes serem os anciãos do povo e tenham autoridade sobre ele. Conduza-os a tenda de reunião, onde estarão contigo. Então descerei e ali falarei contigo. Tomarei do espírito que está em ti e o derramarei sobre eles, para que possam levar contigo a carga do povo e não estejas mais sozinho. Moisés reuniu então setenta homens dos anciãos do povo e os colocou em volta da tenda. Apenas repousara o espírito sobre eles, começaram a profetizar; mas não continuaram. Dois homens tinham ficado no acampamento: um chamava-se Eldad e o outro Meldad, e o espírito repousou também sobre eles, pois tinham sido alistados, mas não tinham ida a tenda: e profetizaram no acampamento. Um jovem correu as dar noticias à Moisés: Eldad e Meldad, disse ele, profetizam no acampamento. Então Josué, filho de Num, servo de Moisés desde a sua juventude, tomou a palavra: Moisés, disse ele, meu senhor, impede-os. Moisés porem respondeu: Porque és tão zeloso por mim? Prouvera a Deus que todo o povo do Senhor profetizasse, e que o Senhor lhe desse o seu espírito”. (Números 11:16,17,24 a 29)
Tradução de João Ferreira de Almeida.
Como vemos acima Moises não só convocou anciãos para profetizarem, como não proibiu Eldad e Meldad de fazê-lo, e ainda exclamando: “Prouvera a Deus que todo o povo do Senhor profetizasse, e que o Senhor lhe desse o seu espírito.”
Ora, profetizar era o termo usado na antiguidade para designar uma pessoa que falasse “tomada” por um espírito. Era um espírito se manifestando por palavras por intermédio de uma pessoa. Assim, Moises permitiu o ato de falar com os mortos (profetizar), muito ao contrario do que afirmam alguns.
Não bastasse isso, vemos que 1.230 anos depois, o próprio Moisés veio confirmar esta permissão na conhecida passagem da Transfiguração do Senhor no Monte Tabor, onde ele em espírito se apresenta a Jesus acompanhado de Elias. Ora, se o próprio Moises se apresenta em espírito para falar com Jesus aqui na Terra, é porque não havia nada de errado em falar com “os mortos”. E principalmente em frente aquele que é a maior autoridade espiritual que pisou o nosso planeta,
Ora, como se vê, nunca a boa comunicação foi de fato proibida.
Portanto é PERMITIDO falar com os mortos.
Desde o tempo de Moisés.