O sentido da vida

Por incrível que pareça, já estamos no século XXI e o homem ainda não respondeu satisfatoriamente, nem para os outros nem para si, as questões que no século V a.C. inquietaram os primeiros filósofos: Quem sou eu? de onde vim? Qual o meu destino? Aparentemente, nos tempos modernos, estas perguntas são banais, mas em sua essência, muitos desconhecem as respostas. As equações dos estóicos definiram o ser em relação aos fenômenos: o ser é água, é fogo, é terra, é ar.

Essas respostas com o tempo caíram em descrédito, foram substituídas, revogadas. Entretanto, muita gente, até hoje, não sabe para quê veio, para onde vai e por que existe. E justamente por desconhecer tais coisas, vive por viver, desconhece o real sentido em sua vida, ou melhor, nem vive, apenas existe.

Entre os gregos, os órficos veneravam a môira, ou seja, o destino, do qual o homem não escapa. Os estóicos do século I d.C. comparavam a vida humana a um carro que puxa dois cães. Um luta, mas é arrastado. O outro se deixa conduzir, mesmo não sabendo para onde. O carro era o factum: o destino. Ao avalizar a mudança de um eventual destino, através do “peçam e receberão” o cristianismo põe abaixo quaisquer formulações fatalistas, do tipo ocidental “tinha que acontecer” ou islâmico “estava escrito” (maktub). Na verdade, muitas pessoas não têm um sentido em suas vidas.

Perguntados sobre sua destinação no mundo, muitos respondem: nasci para trabalhar, existo nem sei para quê. E o pior é quando o ser não conhece suas origens e objetivos, deixa de exercer e exigir o respeito devido à sua dignidade de pessoa. Muitos afirmam ter como objetivo, o gozar a vida. E cabe perguntar: Você é totalmente feliz assim? A resposta, invariavelmente, é não, devido à transitoriedade desse gozo. E por que não é feliz?

Porque falta alguma coisa, um real sentido em sua vida. Nos outros reinos, por exemplo, a pedra nasce para ser pedra, e o é eternamente. O animal vive de acordo com seu papel. O vegetal cumpre fielmente sua finalidade. E o ser humano? Ele nasce para ser feliz, e em liberdade. Como muitas vezes, não sabe administrar essa liberdade, torna-se infeliz. Notem como existe gente angustiada, desiludida, sem esperança, entregue aos vícios, às drogas, à bebida, desesperados alguns até se matam...

As ciências modernas, os modismos, as falsas crenças não têm ajudado em nada o ser humano. Ao contrário. Têm confundido mais sua cabeça, afastando-o, muitas vezes, do real sentido de viver. Sentido da vida, desnecessário até dizer, é a direção que damos à nossa existência, buscando algo que é nosso direito: a felicidade. E, em algumas oportunidades, vemos como felicidade aquilo que sucede na casa do vizinho...

Dirigindo-se a Deus, e parafraseando o salmista, Santo Agostinho afirmou: “... porque nos criaste para ti e o nosso coração vive inquieto enquanto não repousa em ti...”(Conf. I, 1). Na verdade, mesmo na opulência, o homem não é feliz se não tem Deus consigo. A partir da constatação dessas realidades o homem começa a descobrir no transcendente o sentido de sua vida presente e futura.

o autor é filósofo e escritor.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 14/11/2006
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