O virtuosismo como demonstração de talento, genialidade e arte e a falta disso como o contrário(Artigo 1)
A modernidade inventou o mito da arte verdadeira, em música, a burguesia do século XIX erigiu como música de talento aquela que vai
direto as suas ideias e gostos sobre música, as vanguardas artísticas, a despeito de não terem rompido com todas as regras acadêmicas, eram vistas como indecentes, imorais, frias e erradas no contexto e na forma.
O virtuosismo foi alçado não apenas a categoria de exibicionismo , mas a de perfeita e completa dominação de uma Arte, em música, o pianista que toca com mãos rápidas uma mazurca ou polonaise de Chopin, ou uma sinfonia de Mozart, é mais que hábil manualmente, os jornais irão dizer que ele(a) tem um talento nato, uma emotividade sincera e transparente, que contagia os espectadores. A velocidade é notória e sinal de genialidade.
Em literatura, o número de obras escritas, os títulos ganhos legitimam o escritor, não importa quais ideias, conceitos e pensamentos uma obra veicule, ela é cânone por ter ganho um título, o escritor pode alçar-se a categoria de intelectual que a modernidade tanto aclama o ecsritor, hoje o escritor fala de Literatura a Física, não que seja uma atitude que é restritiva, mas todo escritor hoje é um palestrante.
Quando a modernidade diz que obras artísticas devem ser produtos de sua própria mentalidade, ela cria um conceito não apenas narcisista, mas também exclusivamente individualizante, os programas d etelevisão, os filme sromânticos cujos happy end legitimam uma ideia presa dentro de alguém, os best sellers, mas até mesmo uma audição forçada da Nona Sinfonia de Beethoven, tudo imiscui-se num brilhante e veraz virtuosismo.
Mas este virtuosismo é apenas artístico? A forma ainda é senhora de todo " bom gosto"? Não, evidentemente que o virtuosismo mesclar-se-á ao aspecto manual( uma boa ferramenta ou objeto é aquele que impressiona nossos sentidos, sem termos necessidade de saber a funcionalidade. Exemplo: batedeira elétrica).
Virtuoses sentem-se num mundo cuja arte e técnica( a palavra grega para arte é tekné) devem ser rápidas, velozes, martelantes( os pianistas que se apresentam tem a ideia de martelo no teclado); nada mais além do imprevisível, do inaudito( mesmo que em tantos milênios de música universal universal tenhamos visto todas as estéticas), da especificidade, muitos virtuosos dirão que são especialistas em determinado compositor, isso tudo no entanto não é mais que um novo filistinismo, um termo que os românticos Schumann e Schubert já haviam comentado, divulgado e escarnecido publicamente, não deve-se no entanto levar o termo além de um comentário fortuito.
A necessidade de sempre romper uma tradição, uma geração, época ou comportamento, cria bizarrices e idiotices que são mais alardeadas que fofocas de traição conjugal, isso no entanto serve aos show- business, às revistas; aos panfletos e até mesmo aos virtuoses, já no século XIX não víamos Paganini, aquele " demônio do violino" fazendo acrobacias circescas com as cordas? Liszt( enquanto virtuose, não compositor), não se mostrava nos alões parisienses indo de um teclado a outro como se uma chuva de notas invadisse o local?
Mas devíamos nos perguntar: qual a necessidade de tanto exibicionismo? E a vontade de se auto- afirmar?Hoje alguém pode criar qualquer obra de arte que seja " nova" e com isto torna-se um brilhante executante, os best sellers são um exemplo, um determinado autor que tenha captado o gosto do público, sempre repete as mesmas fórmulas, o cantor de músicas populares idem, assim tudo passa pelo mesmo crivo de seletividade: a engenhosidade e o virtuosismo.
Acreditamos mesmo que virtuoses são deuses mandados a nós; pois nada conhecemos, fazemos ou concretizamos, o que é a humanidade senão uma grande aldeia mal realizada?Assim, precisamos de uma pessoa que preencha nossas expectativas, ela deve ser diferente em tudo aos nossos olhos, até mesmo sua respiração é perfeita, equilibrada.
Fala-se de um Inconsciente Coletivo, ele teria força se a humanidade fosse completamente individualista? Heróis, virtuosos, estadistas, existiriam se pouco ligássemos para o que tem a dizer com a grande necessidade de atenção?Ou a escolha é realmente individual como muitos pensam fazer?
Três perguntas pertinentes, mas as quais serão sempre abertas, talvez nem respondidas, exceto pelos presunçosos.
A modernidade erigiu o mito de sofisticação ligado ao gênio, mas vamos nos assustar, a própria modernidade não acredita mais em gênio, talvez apenas aqueles que são vendidos em lâmpadas a modernidade apenas acredita no êxito, o famoso " estar acima " dos demais, mesmo que saibamos que virtuose não seja tão diferente dos outros, talvez pior em aspectos ignorados.
É lugar comum também que quem não segue o breviário dos virtuoses seja desqualificado, atrasado, rude, invejoso, o não seguir as regras virtuosísticas que tolhem até os mais estúpídos dos artistas, encontra ecos em grandes e imortais espíritos, em música, Debussy e os modernistas, em pintura, Kandinsky, Picasso, Braque, etc, e assim a falácia do artista ou cientista ou mesmo qualquer tarefa que seja efetuada em alguns aspectos diferentemente do usual seja considerada errada e refeita para que alguns ditadores da correta forma possam se snetir honrados com um trabalho que pertence a humanidade, não apenas a ele.
Em literatura, uma arte que até então não havia fixas regras para a prosa, lembremos que havia conselhos( como a Arte Poética, de Horácio), torna-se completamente opressiva, a linguagem, o léxico, agora é praticamente toda a obra, isso, obviamente entre os mais puristas, aqueles que provavelmente querem ainda tentar uma linguagem do século XIX, não o conseguem, frustram-se, e acabam pregando o breviário da escrita hermética.
A desqualificação de tudo que seja acintosamente obscuro nos faz pensar que hoje tudo é em qualquer grupo, um clube, uma sociedade secreta, e quem não está inserido em qualquer grupo, pode ser considerado alhures um sem eira nem beira, até memso tem-se a coragem de nomear um filme com o título: Sociedade dos poetas mortos, acaso os poetas são um grupo à parte? Socializou-se tudo que era individual; nada mais é feito através de um pensar ou agir autônomos, pode-se até mesmo conjecturar sinceramente se tudo isso não é uma prática nacional-socialista, a coletividade depois das loucas e malfadadas teoria sobre grupo do Nazismo, sempre retornam quase com o mesmo escopo, tudo define-se ao Volk, ao que pensa, age e legitima, eis o pensamento de nossa época.
A crença cega e arragaida em um Volk que canta em coro todas as ideias, não morreu com a queda dos regimes fascistas, ainda está viva nas propagandas d ecarros, perfumes, objetos sofisticados, etc. O cinema transformou-se em um intenso desnrolar de ideias preconcebidas, atitudes e valores morais ou amorais são ressuscitados várias vezes: a punição de um ambicioso ou alguém que deseja saber mais do que deve, o incentivo a avareza e o poder são colocados como pontos máximos da vida de um homem; o desrespeito as diferenças, a ainda submissão feminina vista como atitude honrada e correta, e a punição a mulher que tenta se libertar desse jogo cruel, há muitas personagens feminas fortes e que são protagonistas mas que também não se alçam sem ajuda e sempre sendo masculina. São ideais, perfeitos aos olhos de quem os produz, cresceram sob estas leis autoritárias, são ideias fixas que apenas através de um longo e sistematizado processo de desconstrução pode-se vir a entender. O happy end talvez não seja o grande paradigma, ele conforta e até alimenta o interior do ser humano, o que seria de tramas tão pobres em conteúdo sem um happy end?, apenas um eterno e imutável jogar o que se passa no papel através de personagens é o que desqualifica qualquer obra de arte, a arte não é imoral ou moral, é amoral, como disse um escritor inglês.
Arte virtuosística apenas nos serve para deleitarmos nossa incapacidade manual, claro que, não neguemos que é sedutora, charmosa, porém realmente interna? O que é bem fazer uma obra? Depois das vanguardas; podemos ainda retornar aos antigos sistemas em pintura, poesia, conto ou mesmo ao romance? Quando se abre um leque por demais estreito, deve-se fechá-lo imediatamente ou jogá-lo fora? Se o talento está em seguir normas e imposições, qual seria a capacidade para isso? Prática? Estudo?
O gosto de uma mídia experiente em quase 300 anos, isso apenas para citar a famosa indústria cultural é completamente padronizado, todas as classes sociais tem seus ídolos, seus representantes, poderíamos dizer que até cada país tem seus ou seu representante, porém seria precipitado tal afirmativa. Des- condicionar um gosto arraigado é tarefa das mais difíceis, toda pessoa que já tem um gosto padronizado, mudará pouco, convidemos um apaixonado por rock a ouvir a música de Bach e teremos uma recusa seca, idem em literatura para os autores mais salutares, o gosto não apenas é uma escolha, mas um universo fechado, estático, imóvel, é sem conceito a qual Kant escreve.
A cisão entre a cultura erudita e popular ainda acolhe milhares de seguidores, um muro de ideias e conceitos ainda se mantém, há teatros que não apresentam os dramas menos clássicos, as peças populares, há bibliotecas que pode-se ver pelo acervo que é devotada a um tipo apenas de Literatura, eis essa pequena estupidez que ainda toma conta de nós.
O virtuosismo encarrega-se de amalgamar os dois aspectos artísticos: o popular e o erudito, não que a cisão seja plena, mas em música uma sinfonia de qualquer compositor sendo tocada em um violão nos faz estranhar e pensar se ao menos houve um pouco de estudo para isso, se sim, por que fazer isso para o violão, um instrumento que revela mais sons salutares aos ouvidos ? Aquele pianista que é tão aclamado, precisa tocar uma valsa de Chopin ou Strauss, inconsciente ou conscientemente, rejeita de todo a prática pianística em executar a obra plenamente em seu estilo, sem contudo apenas fazer um pastiche, ele( a) prefere viver sua própria ideia musical, nunca se esquece porém de demonstrar sólidos conhecimentos em harmonia e melodia aos demais, assim, a obra é mais um pou- pourri que originalidade, o artista é esquecidopela performance de um virtuose!
Assenta incrivelmente favorável as pessoas de nosso tempo, a diferença, mas nãoa diferenã meditada, refletida, não, esta é considerada um ultraje ao nosso tempo, mas a diferença dissonante, aquela que fere dentro de si cada pequeno pedaçoda alma que deseja exultar ao lado de toda realização, ser diferente é não preocupar-se se o que se mostra é salutar, obviamente que nisto também há um valor peesoal, porém diluído.
É costume dizer que a volta as antigas fontes é falta de criatividade, talento, mera cópia, aceitemos parcialmente a premissa, mas as ideias que jorraram durante o turbulento ano de 1789 na Europa são compltemante originais? Digo, não havia quase quatro séculos de absolutismo despótico na Europa? Vamos A falta de criatividade não está em usar um acontecimento histórico, assim cria-se muitos filmes e pequenos quadros na televisão, mas em quebrar algumas estruturas de reconhecimento, Shakespeare não é mais aquele escritor em busca de uma verdade para ele e para nós, mas um homem que vive de sua pena, atormentado por ter conquistado um público tão vasto na sociedade. Vemos claramente que alguns filmes e outros relativos ao gênero audiovisual, colocam seus próprios conceitos d evida em personagens tanto fictícios quanto reais. Até mesmo as obras podem ser algo relacionado a vida, apenas aqueles aspectos mais prosaicos, como se a Literatura fosse prosa chã e simplória.
Quando os virtuoses encaram ou analisam( são verdadeiros manuais) mostram que a qualidade deriva de esforço, vitalidade, prática habitual, esquecem que as grandes obras taqmbém são simples, acessíveis, claras e parecem mais brincadeiras que nos encantam, isso porém, deve ser esquecido, a técnica que assemelha-se a produção de automóveis é soberana.
A produção virtuosística , entretanto, não é de toda ruim, ainda vemos solos em piano sendo executados não apenas com habilidade monstruosa, mas com sincera e visível produção snetimental, vê-se que a música principalmente, ainda não tornou-se mecanizada, automatizada( sem excetuarmos obviamente algumas estéticas que aproximam a música do som aleatório), ainda é fluida, escorre como uma linfa ou uma gota de mel, nos transporta para longos sonhos que não queremos acordar.
Fosse o virtuosismo apenas o motivo, esse motivo ainda deve ser explicado e também sentido com as nossa sfaculdades cognitivas-sensoriais, se vejo um violinistamais destruindo que tocando um Stradivarius, a sensação além da visual d evê-lo eclodir milhares de arpejos em escalas quase indistintas mesmo aos ouvidos especialista, ainda é um exercício de técnica, não artístico, exercício de superioridade em estudos.
O motivo enquanto fim e não meio, comove alguns grupos que veem a técnica como todo o trabalho artístico, não apenas uma causalidade e digamos das primeiras, mas acessíveis, fosse assim nosso Ocidente teria que desprezar as músicas orientais, não por falta de estruturas, mas sim o cromatismo que se assemelha a outras experiências em música.