Dependência química e suas necessidades
Uma cidade não é formada somente por edifícios e prédios, sejam residenciais, comerciais, industriais entre outros. Ela, antes é formada por pessoas e pela sociedade que é complexa, principalmente quando recebe o fluxo migratório, seja rural, intermunicipal ou internacional. É o caso de cidades como a metrópole paulistana e suas vizinhas, que vão crescendo de forma ‘inchada’, ou seja, não da população já existente e seus descendentes, mas recebe mão-de-obra para o trabalho, principalmente a área industrial.
Não basta terem moradia, mas uma infra-estrutura social, de educação, saúde, segurança, cultura e lazer. O ser humano é complexo e precisa viver em comunidade em harmonia e não vive isoladamente em ‘ilhas’ comunitárias, sejam em condomínios luxuosos ou comunidades carentes, nas periferias. O micro faz parte do macro. Ninguém vive simplesmente no seu cantinho, pois tem uma influência e interferência em toda a comunidade.
Numa sociedade as pessoas também vivem em conflito, e para isso existem escapes: sejam saudáveis e úteis para a comunidade, como por exemplo, a cultura, o lazer sem exageros , as comunidades religiosas , os encontros com amigos no esportes entre outros. Tem também os que extrapolam e se tornam anti-sociais e pressionados pelo consumo fácil e sem esforço, tornam-se marginais da sociedade, como os ladrões e até assassinos profissionais.
Existem também os conflitos sociais e pessoais que são controlados de várias maneiras pela própria sociedade. No entanto, alguns, talvez menos prejudiciais à comunidade, tentam extravagar usando de drogas, sejam lícitas ou não, como por exemplo a bebida e o fumo. Outros passam a usar remédios e acabam dependendo disso.
A dependência química é muito variável e cada segmento tem suas fases e alguns precisam de interferência, visto que não conseguem desintoxicar-se sem ajuda. Nesse sentido os chamados ‘dependentes químicos’ não estão em algum segmento privilegiado, pois estão em todas as classes sociais, sem distinção de idade, sexo , raça ou religião. É um ‘tumor’ que precisa ser tratado como doença social,que atinge tanto os familiar, os mais chegados, como a toda a comunidade macro.
Os dependentes químicos não podem ser escondidos como uma chaga, uma vergonha. Eles existem e precisam ser encarados como doentes, antes que sejam vistos como ‘caso de polícia’, mas como caso político, sim.
Os elementos que estão na classe mais abastecida, podem pagar o tratamento em clinicas particulares, longe das vistas dos seus conhecidos. No entanto, esta chaga existe em qualquer lugar, e se não tratada, explode e vai se alastrando como um tumor maligno e acaba proliferando em todos à sua volta, seja perto ou mais distante.
Nos casos policiais, a maioria é problema de conflitos que gera atos impensados e alguns apenas, como delito propriamente dito. Assim, as drogas estão minando famílias inteiras, jovens, adultos, homens e mulheres.
Não adianta tampar o sol com a peneira, os casos de dependentes químicos aumenta sim, seja de drogas lícitas, ou ilícitas, que por sua vez têm outros envolvimentos com tráficos e enriquecimentos faraônicos para uns, e a desgraça de muitos.
A cidade e o urbanismo não é formado apenas de residências, pois ninguém fica confinado apenas àquele espaço. Precisa de infra-estrutura com saúde, educação, comércio, lazer, e tem como vias de ligação as ruas, o transporte e tantos outras necessidades estendidas aos seus habitantes. É formada por diversas classes sociais, idades e religiões. É uma estrutura complexa que tem vida e está em constante adaptação e mudanças.
Deve haver espaços principalmente para o lazer, seja intelectual, como bibliotecas, teatro, cinema, esportes, ou uma como simples praça de encontros e bate-papos.
Os conflitos existem em muitos dos seus membros acabam se divertindo usando drogas, lícitas ou não, usadas, primeiramente em grupos, ‘tribos’, que inicialmente dão prazer e sociabilidade, e que de maneira exagerada acabam trazendo dependência física e psicológica, afetando conforme a resistência individual. Isso acaba muitas vezes, por trazer consequências dentro da família e dentro do próprio grupo, estendendo até para a sociedade em geral.
As páginas policiais estão lotadas de comportamentos desviados, seja por verdadeiros bandidos que se tornaram profissionais na inversão de valores, por crimes passionais, muitos gerados por conflitos de relacionamento, ou na maioria das vezes pelo mal uso da droga lícita, como a bebida alcoólica , ou por dependentes químicos que fazem de tudo para satisfazer seus delírios com a droga, ou na falta, para obtê-la. Quantos acidentes de trânsito são causados por bêbados, que em delírios acabam destruindo vidas jovens matando-as ou mutilando?
Os dependentes químicos, que proliferam cada vez mais, devem ser vistos como doentes, e a sociedade cuidar disso de forma profissional, antes que se tornem notícias nas páginas policiais porque são um perigo para toda a sociedade, a qualquer um que passe na rua ou pode ser vítima,ter sua casa invadida e seus entes queridos violados. Os exemplos são diários. Pensem nisso. Vamos criar locais para tentar salvar nossa gente.
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Regina Kalman – professora de História e Artes, socióloga, pedagoga e escritora.
Jundiaí, abril de 2011