A ITINERANTE POESIA
Graças ao milagre da virtualidade, acabo de receber os originais de POESIA DESCALÇA, o novo livro de Darci Cunha, prosador, poeta e ativista cultural. Este gaúcho radicado há cerca de dez anos em Campo Grande, formação acadêmica em engenharia agronômica, vem lavrando bem suas plantações espirituais. É cuidadoso com estas coisas da mente humana. Sabe que, antes de criar o verso e a prosa torna-se necessário ler, e muito.
Temos uma convivência intelectual que muito me honra e, hoje, já podemos usufruir de uma excelente bonomia no trato do que é incomum, o versejar. Este, para muitos, é tarefa fácil, mas, para quem aceita o desafio de marcar passagem, sabemos que a inspiração não é suficiente. Também aprendemos que nada está pronto, nada é definitivo, em matéria de Poesia.
Apresento a você amigo leitor, um andejo, um poeta itinerante que marca a sua passagem como pessoa, como ativista cultural e belo chefe de família. E que tem dado tudo para a sua morada de eleição, de escolha pessoal. Tal qual Antonio Pereira, o fundador de Campo Grande, é também um visionário. Apostou e ganhou a parada. E quer deixar a sua obra lavrada nesse solo bendito.
Agrada-me depor para a história literária do Mato Grosso do Sul, estado federado dos mais significativos, por sua formação, por sua história. Fico feliz em ser mais um a ajudar na sua construção. Se tantos outros fizeram tanto e bem, nessa terra abençoada minha alma tem feito morada.
Aposto no futuro literário dessa “beleza guaicuru”, agreste, em apreciável processo de contemporanização, inclusive na Cultura. Agrada-me depor para a memória de um estado que possui homens e mulheres comprometidos com o passado, o presente e o futuro. Desde as reduções guaranis até o estro criativo e empreendedor de Hildebrando Campestrini, Manoel de Barros, Raquel Naveira, Américo Calheiros e Ruberval Araújo Cunha, só para relembrar os que estão profundamente introjetados em mim.
Leitor amigo! Sê bem-vindo ao sol, ao louro dos trigais, às flores dos caminhos, à beleza dolente dos mugidos dos bois em comitiva, à placidez anônima do Pantanal, onde a vida se faz silenciosa. Construa-se, DESCALÇO, neste templo urbano moderno, de quase oitocentas mil pessoas que fazem a vida citadina em Campo Grande.
Talvez encontres um pedaço de Deus nesta obra, porque ela anda descalça como Jesus Cristo. Amorosa, falando a sua linguagem doce. Humana, porque o seu autor sabe que o poeta é o anjo pecador do fato de viver, contando a sua saga com a coragem dos que amam o dia-a-dia. Desta para a outra margem, sempre roto de vestes e joelhos.
E tu, leitor, queres dar uma voltinha nas trilhas amorosas de POESIA DESCALÇA?
Porto Alegre, RS, 13 de novembro de 2006.
– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre a Prosa e a Poesia, 2006 / 2008.
http://www.recantodasletras.com.br/artigos/290305