RAIO X DE UM PSICOPATA - RETRATOS DE REALENGO
As perguntas não descontinuam, através da imprensa que insiste em cobrar pela elucidação do motivo causador do morticínio de Realengo; quando o ressentido ex-aluno da Escola Tasso da Silveira, Wellington Menezes de Oliveira, ao que se sabe; recebeu algum tipo de treinamento de tiros e curta distância com arma simples, para somente depois disso, executar o seu plano maléfico de exterminar parte do corpo dissente da instituição pública, que vitimou até agora 13 pessoas, incluindo o próprio homicida.
Porque, para que, como, enfim; todos querem saber quais os motivos que impulsionaram Wellington a matar crianças e sob qual estado mental ele estava vivendo. Uma psiquiatra forense a convite de uma rede de televisão chegou a afirmar que o assassino teria nascido assim. Mas será mesmo que Wellington Oliveira nasceu criminoso? Esta é a teoria de Cesare Lombroso, inteiramente em desuso pela maioria dos criminalistas da atualidade.
Uma das perguntas mais intrigantes para os policiais cariocas é “como Wellington” conseguiu as armas e a munição utilizadas durante a operação terrorista. Se fosse nos Estados Unidos da América, salvo em alguns estados, Wellington poderia ter comprado até fuzis de grosso calibre em lojinhas simpáticas do tipo “General Store”, bastando não haver nenhuma queixa crime contra o comprador; já no Rio de Janeiro, eu não entendo porque a polícia está tão preocupada com este fato, porque todos sabemos que na Cidade Maravilhosa o que não falta a disposição de qualquer um são armas e drogas.
Certa vez eu conheci um motorista profissional que havia saído recente da prisão; condenado por assalto a mão armada a bancos, este motorista conversou muito comigo e praticamente me contou a sua vida inteira. Na ocasião eu publiquei um relato sobre a sua vida “HISTÓRIA DE PRISÃO BRASILEIRA” e o chamei de “Irmão”. Durante um dia inteiro em que tive a oportunidade de conversar com “Irmão”, uma das muitas coisas que lhe perguntei foi: - Onde você conseguia as armas variadas para a execução destes assaltos? Sem pensar e sem titubear nas palavras, Irmão me disse que muitas vezes ele alugava de outros criminosos; outras vezes ele fazia contatos em delegacias e alugava as armas da própria polícia, que no final cobrava-lhe além do aluguel, um percentual do fruto criminoso obtido com os assaltos.
Eu não quero dizer que Wellington tenha alugado ou comprado os revólveres, utilizados na chacina de Realengo, da polícia; apenas reiterei que é fácil se comprar armas, principalmente às de calibre mais usuais, como revólveres 38; basta se infiltrar nos meios onde pequenos crimes são praticados e tiver pelo menos uns 200 Reais disponíveis. Costumamos dizer que “filho feio não tem pai”, quando procuramos saber a autoria de algum delito; frase muito apropriada para o caso das armas que Wellington utilizou.
Traçar o perfil deste assassino frio para saber quem ele era de fato é outra preocupação de muitas pessoas ligadas ao meio da criminologia, mas esta não é uma tarefa muito fácil, salvo ele tenha deixado registrado.
Esta tal teoria de que Wellington teria nascido criminoso vem do médico Cesar Lombroso, que viveu entre os Séculos IXX e XX; estudou na Itália, Áustria e França. Até o surgimento das idéias deste médico psiquiatra que pôs o nome definitivamente na história, tudo que se sabia sobre o comportamento do criminoso era tratado de forma esparsa dos capítulos do Direito Penal; depois dele e de sua pesquisa, muitos passaram a acreditar no criminoso nato, ou seja, aquele que nasce com características que o rotulam como tal; Segundo Lombroso, criminosos e não-criminosos se assinalam entre si em virtude de uma rica gama de anormalidades e estigmas de origem atávica ou degenerativa.
Quero deixar claro que eu sou completamente cético quando o tema é Lombroso e sua teoria que agora estão aplicando ao criminoso Wellington Oliveira, cujo alguns sites sensacionalistas já o estão rotulando como “O Satanás de Realengo”. Caso não tivesse morrido, somente após o critério do depoimento e comparações de fatos é que se poderia dizer o motivo que levou um rapaz jovem a cometer tamanha atrocidade.
Lombroso apontava as seguintes peculiaridades corporais do homem criminoso: proeminência occipital, órbitas grandes, testa fugidia, arcos superciliares excessivos, zigomas salientes, prognatismo inferior, nariz torcido, lábios grossos, arcada dentária defeituosa, braços excessivamente longos, mãos grandes, anomalias dos órgãos sexuais, orelhas grandes e separadas e polidactia. As características anímicas, segundo o autor, são: insensibilidade à dor, tendência a tatuagem, cinismo, vaidade, crueldade, falta de senso moral, preguiça excessiva, caráter impulsivo.
Se Wellington Oliveira de fato reunir 100% destas qualidades, ainda assim eu diria que pode ser mero acaso, porque se formos medir partes do corpo das pessoas e suas tendências sociais, como por exemplo; a tatuagem e a preguiça; poderíamos rotular, como mero exemplo antagônico, que os que nascem num determinado Estado brasileiro são criminosos naturais, porque reza a lenda que eles em sua maioria são indolentes e possuem uma forte tendência para usar tatuagens; mas como disse, isso seria uma brutal comparação e apontamento.
Ter ou não ter uma anomalia cerebral não é também um traço ligado ao crime, porque a psiquiatria moderna afirma que 75% dos seres humanos nascem com pelo menos uma atividade moderada de perturbação mental. Para sorte nossa esta perturbação é tão pequena que raramente afeta a vida social destas pessoas. A questão do caráter impulsivo, ou como podemos dizer: explosivo; isso é um traço tão comum hoje, por causa do estresse da vida moderna, que também não pode nos servir de parâmetro. Conclui-se por estas e outras que a teoria de Lombroso é inerte. Se formos comprar, por exemplo, Hitler; um dos maiores sanguinários da história, ele não reunia quase nenhuma destas características de Cesare Lombroso e talvez se fosse estudado por ele, passaria perfeitamente por santo...
Todo ser humano após nascer é submetido a uma carga excessiva de cuidados; é o animal que mais tempo necessita de cuidados dos pais; não é a toa que muitos de nós permanecemos ao lado da família primária por mais de 50 anos, ou mais da metade da expectativa de vida. Neste tempo ele também passa a conhecer mundos diferentes daquele em que nasceu e alguns desenvolvem a enorme capacidade de adaptação e incorporação de uma vida, muitas vezes irreal; caso específico do crime os das apologias às sensações chamadas de paradisíacas.
Uma criança que nasce em uma família no Brasil, se for adotada imediatamente por uma família russa, passará a falar russo por volta do primeiro ano de vida e dificilmente falará português durante a vida adulta; o mesmo ocorre com a mesma criança se for introduzida, explicita ou implicitamente ao mundo delituoso. Tentem, por exemplo, ensinar ao seu filho de 5 anos que toda vezes que for ao supermercado ele deve criar uma confusão por causa da qualidade dos produtos e do atendimento dos caixas. Este menino vai crescer e quando for adulto passará a praticar não só o que aprendeu, mas também desenvolverá outros métodos para sempre “sair por cima”.
A faculdade criminosa é inserida na vida das pessoas de acordo com seu parâmetro de vida, necessidade ou total ausência de coordenação mental; muitos de nós podemos até ter nascido com anomalias mentais tão graves que não se manifestam claramente ante a sociedade, que nos faça delinqüir pelas razões das próprias anomalias; mas eu acredito que esta condição se manifeste apenas nos casos mais monstruosos como matar, estripar e ocultar o cadáver. Este é apenas um dos muitos exemplos onde o agente criminoso, salvo adotando uma razão que para ele é forte, como a vingança, pode ser analisado como nascido com um problema mental capaz de fazê-lo criminoso já nos primeiros anos de vida. Toda pessoa que produza esta capacidade, uma vez diagnosticada, pela Lei brasileira é considerado inabilitado a responder judicialmente pela sua delinqüência.
O caso de Wellington Menezes de Oliveira pode gerar dúvidas para alguns, mas para mim está claro, depois que se pode analisar a carta deixada por ele. O rapaz cita ter sido “bulinado” em um site de relacionamento e por este prisma, podemos deduzir que: ou ele foi vítima de bulling, que é uma espécie de perseguição ou quis dizer “bolinado”, aludindo para uma questão de atentado violento ao pudor, ou ainda, uma espécie de estupro. Não se sabe se isso foi verdade e caso tenha sido, se quem o praticou foram pessoas da escola. Em todo caso, não afastando esta hipótese deixada escrita na internet, Wellington poderia sim ter criado um caráter violento e ter se preparado por ano para executar uma espécie de vingança; o que pode explicar, em tese, uma das razões pelo qual ele veio a cometer os crimes.
Eu me recordo de meu tempo de estudante, quando tinha uns 14 anos; eu saí da escola e fui assaltado; um rapaz que morava na vizinhança me abordou com uma faca e tomou meu relógio, que foi um presente de minha mãe. Na ocasião eu não tinha acesso a arma de fogo, mas pensei em comprar uma “garruncha” de dois tiros para assustar o ladrão; como não era fácil, acabei me armando com uma tesoura pontuda para no caso de voltar a vê-lo. Para minha sorte, um professor educado e competente, soube do fato e me chamou para uma conversa franca, onde me explicou tudo que poderia ocorrer, caso eu fizesse jus a vingança. O resultado foi que eu esqueci o caso e passei a enxergar a vida por outra ótica. Agradeço a intervenção do professor Alberto que se tornou um amigo e confidente e por conta deste preparo psicológico de meu professor, eu também não delinqüi, de igual ferocidade ou pior do que o praticado por meu algoz!
Este é um dos casos claros em que, dependendo do meio em que vivemos e das intervenções após os sinais claros da vida; podemos ou não ingressar por um caminho delituoso; mas é preciso que aqueles que convivem conosco tenham o devido preparo para enxergar nossas debilidades e intervirem de modo correto no momento exato. Pode ter sido sim o caso específico de Wellington Menezes de Oliveira; seja quando ele foi molestado, ou discriminado, ou quando perdeu sua mãe, enfim; seja pelo motivo que fosse é provável que este assassino tenha sofrido uma perda ou uma ação tão grave que sua mente abalada foi buscar razões em passagens religiosas, como descrito na sua carta de despedida, para cometer tais atos brutais.
O que se espera de fato é que se tenha elucidado os motivos, por mais estapafúrdios que possam parecer, para que o Estado cuide de uma estratégia educacional e de saúde mental de forma generalizada, para que evitemos mais ações como esta. O que não se pode esperar é que Wellington Menezes de Oliveira se torne uma espécie de obra a ser seguida e neste caso a impressa pode colaborar e muito para que isso não ocorra; porque a depender do que for divulgado, muitos iguais a Wellington podem surgir, fazendo das salas de aula do Brasil um campo aberto para chacinas e mortandades parvas.
Um dos caminhos mais belos que o mundo deveria percorrer é o do PERDÃO. Se ensinarmos nossos filhos a perdoar, pelo menos na medida do possível, com certeza iremos ver cada vez menos cenas como os dos crimes de Realengo; num dia em que o estudo mais forte foi o do horror e do medo!
Carlos Henrique Mascarenhas Pires
www.irregular.com.br