O Segundo Reinado
SEGUNDO REINADO (1840 – 1889)
ISADORA TEREZA LOBATO *,
KLEITON BATISTA DA SILVA *.
RESUMO
Este artigo apresenta uma leitura sobre o Segundo Reinado, fase da História do Brasil que corresponde ao governo de D. Pedro II, com início em 23 de julho de 1840, com a mudança na Constituição que declarou Pedro de Alcântara maior de idade com 14 anos e, portanto, apto para assumir o governo. Objetiva analisar e expor as visões e opiniões de historiadores sobre os principais fatos ocorridos neste período, enfatizando aspectos sociais, políticos e econômicos que até então estavam passando por variações significativas devido à instabilidade do poder anterior. Analisar os aspectos da economia cafeeira e sua a relação direta com o sistema escravista. Apresentar as principais características que compreenderam as políticas abolicionistas e seus reflexos na economia, assim como na sociedade. Por fim, compreender os motivos que levaram ao seu fim após 49 anos de duração em 15 de novembro de 1889, com a Proclamação da República.
Palavras-chave: Instabilidade. Escravatura. Cafeeira. Segundo Reinado.
ABSTRACT
This article presents a reading of the Second Empire, the stage of history of Brazil which is the government of D. Pedro II, beginning on July 23, 1840, with the change in the constitution that declared Pedro de Alcântara of age with 14 years and therefore able to take over the government. Objectively analyze and present the views and opinions of historians on key events occurring in this period, stressing social, political and economic problems that until then were undergoing significant changes due to instability of the previous government. Examine aspects of the coffee economy and its direct relationship with the slave system. Presenting the mean features of abolitionists that comprehend the policies and their effects to economy, as well as to the society. Finally, understanding the reasons that led to its end after 49 years of duration in November 15, 1889, with the Proclamation of the Republic.
Keywords: Instability. Slavery. Coffee. Second Reign.
* Acadêmicos do Curso de Licenciatura Plena em História, pela Universidade Vale do Acaraú, sob orientação da Profª. Drª. Rosângela Lemos da Silva.
1 INTRODUÇÃO
A partir de 1840 o Brasil passaria por um momento com maior estabilidade política, desenvolveria sua economia e diversas transformações sociais aconteceriam no país. Dessa maneira, discorreremos dentro deste contexto a temática que enfatizará o Segundo Reinado, com o intuito de desenvolver este artigo focando a seguinte problemática: Qual o papel do Segundo Reinado na construção da República brasileira? Na tentativa de responder esta pergunta, levantaremos a hipótese de que durante o Segundo Reinado brasileiro, desenvolveu-se o desejo de ideais que trouxessem mudança, tanto no campo político, quanto econômico. Através de pesquisa qualitativa e bibliográfica pretendemos caracterizar todo o período do Segundo Reinado em diferentes aspectos, analisar a política cafeeira e a trajetória dos negros dentro deste contexto até o surgimento das políticas abolicionistas, para então avaliar o desfecho e os resultados que a Guerra do Paraguai trariam ao país com a finalidade de identificar os fatores que propiciaram o surgimento do movimento republicano.
Almejamos apresentar a relevância destes fatos para a construção e formação da política brasileira, além dos reflexos nos setores econômicos e sociais tanto naquele momento, quanto atualmente no país. Tais informações serão direcionadas ao esclarecimento do meio docente e discente que possuem interesses ou questionamentos sobre este período histórico. Na construção deste estudo, utilizamos a metodologia bibliográfica através da consulta de livros, resenhas e artigos digitalizados, bases para as partes intituladas que o compõem. São elas: Antecedentes históricos, o Governo de D. Pedro II, a Importância do Café, o Processo de Abolição da Escravatura, a Expansão Cafeeira no Oeste Paulista, a Guerra do Paraguai, e os Fatores para a queda da Monarquia. Cabe ainda informar que esta pesquisa, depois de concluída, será socializada e explanada em mesa-redonda e publicada na internet com o intuito de facilitar a consulta do público.
2 ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Para iniciar os estudos sobre o Segundo Reinado é necessário primeiramente compreender a situação política no fim do Período Regencial era bastante instável. Dentro da Assembléia geral os conflitos entre regressistas e progressistas provocava um vai-e-vem nas relações entre o Estado e a sociedade. Os dois grupos buscavam, por caminhos diferentes, a unidade nacional, acreditavam que o poder de decisão sobre o Estado deveria continuar no Rio de Janeiro. Vendo a situação se agravar cada vez mais com rebeliões eclodindo em diversas regiões do país, no ano de 1840, a mobilização dos liberais progressistas ganhou maior força com a organização do chamado Clube da Maioridade, que passou a difundir de modo mais incisivo a chegada de D. Pedro II ao trono. Não suportando as pressões e as revoltas que tomavam conta do país, os próprios partidários da ala conservadora se mostravam simpáticos à execução dessa manobra política. De tal modo, no dia 23 de julho de 1840, com apenas 14 anos de idade, D. Pedro II assumiu o Poder Executivo do país com aprovação da assembléia, iniciando-se assim o Segundo Reinado que dali estender-se-ia por quarenta e nove anos.
2.1 O GOVERNO DE D. PEDRO II
Politicamente, o reinado de D. Pedro II, se comparado ao período regencial, conseguiu manter-se estabilizado e tendo sob controle conflitos políticos e rebeliões. No Segundo Reinado o país foi pacificado. Cessaram as rebeliões provinciais que marcaram o panorama político dos governos regenciais e ameaçaram a ordem social e a consolidação do Estado brasileiro.
Deste modo, podemos assumir que D. Pedro II, conseguiu reger o Brasil com eficiência baseando-se na política de troca de favores. Esta consistia em possuir o apoio das elites econômicas e assim perdurar seu reinado, agradando liberais e conservadores e evitando rixas políticas. Estas elites lhe concederiam a estrutura necessária para manter-se no poder e em trocas lhes era concedido favores que variavam de distribuição de ministérios, construção de ferrovias e açudes à aquisição de maquinários, assim mantendo o país estável e de certo modo pacífico. Esta política iniciada por D. Pedro II pode ser entendida como a forma primitiva do assistencialismo e corporativismo presente em nossa política atual.
A organização política naquele período baseava-se nos interesses da classe dominante que procurava fazer a manutenção da escravidão, sempre mantendo a população ausente e alienada das decisões políticas governamentais. No entanto, esta elite dividia-se em dois partidos: o liberal – que defendia um poder forte, mas que mantivesse a autonomia entre as províncias – e o conservador – que defendia o fortalecimento do poder central. No entanto, era possível perceber que apesar do discurso ambos os partidos se assemelhavam de tal forma que podem ser considerados grupos quase idênticos separados, quem sabe, apenas por interesses e rivalidades pessoas. Segundo o autor:
Ao considerar a questão, devemos ter em conta que a política desse período, e não só dele, em boa medida não se fazia para alcançar grandes objetivos ideológicos. Chegar ao poder significava obter prestígio e benefícios para si e sua gente (FAUSTO, 2009, p.98).
Deste modo, podemos compreender que o jogo político voltava-se apenas aos interesses dos candidatos e seus partidários, que apesar da diferenciação dos discursos, no final, o importante objetivo a ser alcançado era a obtenção de vantagens e poder.
3 A IMPORTÂNCIA DO CAFÉ
O café chegou ao Brasil por volta de 1727, pela província do Pará, trazido por Francisco de Melo Palheta. E somente 33 anos após sua chegada foi introduzido no Rio de Janeiro, estendendo-se no Vale do Rio Paraíba, atravessando parte do Rio de Janeiro e São Paulo, que possuíam condições favoráveis para a expansão do café, principalmente pela facilidade de escoamento do produto pela proximidade do porto do Rio de Janeiro.
A implantação das fazendas de café se deu pela forma tradicional de plantation, com o emprego da mão-de-obra escrava. E para se implantar uma fazenda de café o fazendeiro tinha que fazer grandes investimentos, que incluíam na derrubada da mata, o preparo da terra, o plantio, as instalações, e a compra de escravos, com tudo as primeiras colheitas só ocorreram após quatro anos. Então, pra se inserir no negocio cafeeiro era preciso possuir uma quantia significativa de riqueza.
Ao que tudo indica os recursos para se implantar uma fazenda provinha do comércio, desenvolvido a partir da chegada de D. João VI, ao Brasil. Com o tempo o próprio lucro da atividade foi sendo reinvestidos, principalmente os capitais liberados pela extinção do tráfico negreiro, fazendo com que a produção se desenvolvesse e se expandisse.
Porém, inicialmente apesar de todo o desenvolvimento da produção, o transporte ainda se encontrava em condições precárias, e esse cenário só seria alterado com a introdução das ferrovias, iniciada por Barão de Mauá.
Apesar do hábito de consumir café se generalizasse no Brasil, o mercado interno era insuficiente para absorver uma produção em larga escala. Com isso Fausto (2009, p. 189) ressalta que “o destino dos negócios cafeeiros dependia, e ainda hoje dependem, do mercado externo.”
Dessa forma os principais consumidores do café brasileiro eram os Estados Unidos, os Países Baixos e a Escandinávia. Com isso apesar da Inglaterra apoiar a produção de café no Brasil, não era uma grande consumidora do produto, seu real interesse era obter mais um mercado consumidor para seus produtos industrializados.
Do ponto de vista socioeconômico, o complexo cafeeiro abrangia um leque de atividades que deslocou definitivamente o pólo dinâmico e econômico do nordeste para o centro-sul. Assim (SILVA, 1992, p.68) define que:
o principal responsável pelas transformações econômicas, sociais e políticas ocorridas no Brasil na segunda metade do século XIX, o café reintegrou a economia brasileira nos mercados internacionais, contribui para as relações assalariadas de produção e possibilitou a acumulação de capital que, disponível, foi aplicado em sua própria expansão e em alguns setores urbanos como a indústria por exemplo.
Com a produção do café em alta, os grandes fazendeiros do Vale do Paraíba receberam benefícios do poder central e sua vaidade foi afagada com a concessão de títulos de nobreza. Dessa forma o Império tinha agora uma base de apoio nos grandes comerciantes e nos proprietários rurais, entre os quais se incluíam os barões do café.
4 O PROCESSO DE ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA
O imperador e a burocracia imperial atendiam a essência dos interesses dominantes, ao promover a ordem em geral, ao dar tratamento gradativo ao problema da escravidão. Assim agiam contrariando o ponto de vista de sua base de apoio. Principalmente com a aprovação de leis que estavam dando cada vez mais liberdade para os escravos.
Com a aprovação da Lei Eusébio de Queiros de 1850, que extinguiu o tráfico de escravos no Brasil, a situação começava a ser desfavorável para os grandes fazendeiros de café, pois tinham sua base de produção na mão-de-obra escrava. E numa tentativa de se solucionar o problema deu-se inicio a imigração no Brasil.
Porém, as barreiras criadas pelo governo para assegurar o imigrante na produção de café substituindo o escravo foram diversas, entre as quais esta a Lei de Terras de 1850, estabelecia que as terras públicas fossem vendidas e não doadas, evitando o acesso a terra por parte dos futuros imigrantes.
O fim da escravidão foi transcorrido paulatinamente até seu final em 1888, os movimentos abolicionistas ganharam força a partir da década de 1880 com a aparição de jornais, associações.
Mas, antes de mencionarmos o processo de abolição tomemos consciência de alguns termos que serão usados adiante, isso poderá servir de auxilio para iniciar algumas interpretações.
4.1 O CONCEITO DE ESCRAVIDÃO
Ao analisar a obra de Silva e Silva (2006, p.110) no que diz respeito ao conceito de escravidão “há um impasse por partes dos autores ao definir a escravidão”, segundo eles “a maior dificuldade está em diferenciar os indivíduos submetidos à escravidão daqueles submetidos a outras formas de subordinação e exploração”, por exemplo, seria errôneo comparar o modelo de servidão instituído na Idade Média por mais que isso fosse exploratório, ao modelo escravista instituído no Brasil no Século XIX.
Claude Meillassoux apud Silva e Silva (2006, p.110) elaborou um conceito de escravidão, que até então está entre os mais significativos para o termo, para ele:
a escravidão é um modo de exploração que toma forma quando uma classe distinta de indivíduos se renova continuamente a partir da exploração de outra classe. Ou seja, a escravidão aparece quando todo um sistema social se estrutura com base na exploração e na perpetuação de escravos continuamente reintroduzidos, seja por comércio ou reprodução natural.
Esse conceito pode ser aplicado perfeitamente no caso brasileiro, pois desde o século XVI a base de todo o sistema implantado no Brasil foi de caráter explorador baseado na mão-de-obra escrava, tanto negra quanto indígena.
4.2 O CONCEITO DE LIBERDADE
Para Silva e Silva (2006, p.262) “a definição de liberdade está em intima relação com a própria noção de escravidão”. Mas para compreender melhor isso devemos visar à estrutura escravista no Brasil e seus aspectos comparados ao conceito de liberdade enfatizado entre os estudiosos.
o conceito mais difundido de liberdade, que vigora principalmente na sociedade contemporânea ocidental, surgiu do imaginário da burguesia da Europa Moderna. Essa definição defende a liberdade como o individualismo, como a autonomia individual, que se materializa nas clássicas liberdades de ir-e-vir, de se expressar, de comprar e vender, de dispor de sua força de trabalho como melhor lhe convier. Tudo isso em um contexto de igualdade perante a lei. (SILVA E SILVA, 2006, p. 263).
Ao fazer uma análise profunda nesses aspectos, percebemos que tudo está diretamente ligado a situação escravista no Brasil, os explorados não tinham esse caráter individualista, pois tudo isso foi reprimido de forma cruel e desumana, pois com o apoio da Igreja Católica esses indivíduos foram tachados de impuros e pecadores, por sua cor, e seus costumes.
Nessa busca pela liberdade, muitos resistentes tendiam a formar comunidades, a forma mais expressiva foi o quilombo. Era uma forma mais sólida de combate a escravidão. Nesse sentido percebe-se que as características conceituais de liberdade estão distantes de ser evidenciadas na sociedade. Assim Silva e Silva (2006, p. 263) enfatizam que “(...) tais liberdades são cerceadas por uma série de fatores: a pobreza, a desigualdade social, os aparelhos repressivos do Estado, entre outros”. Essas características serviram de suporte para que a escravidão durasse tanto tempo no Brasil.
Porém, a partir de fatores externos, iniciou-se todo o processo de abolição da escravidão, não diretamente, mas, paulatinamente.
O Bill Aberdeen teve um grande papel nesse processo de libertação, pois iniciou o processo de interrupção da entrada de escravos no Brasil, tratando os navios negreiros como navios piratas, com o direito a sua apreensão e julgamento dos infratores.
A pressão externa (Inglaterra) também contribuiu para que os escravos alcançassem sua liberdade, porém o interesse inglês era de transformar esse ex-escravo em consumidor, contudo a exclusão e o preconceito fizeram com que o negro fosse considerado um ser inferior, mesmo após sua libertação.
Contudo, apesar da assinatura da Lei Áurea em 1888, a liberdade dos escravos foi concedida, porem não houve um planejamento de inclusão do ex-escravo na sociedade. Para (MATTOSO, 2003, p.207):
essa liberdade nos parece inteiramente teórica, assim como a emancipação outorgada em 1888, quando da abolição da escravatura, a milhares de homens e mulheres, lançados de um dia para o outro à alegria de uma liberdade reconquistada e aos temores de um amanhã sem pão e sem teto.
Por isso Fausto evidencia que muitos ex-escravos mesmo após a libertação, retornarão a condição de escravo. Não por escolha, mas por necessidade.
5 A EXPANSÃO CAFEEIRA NO OESTE PAULISTA
Após o grande avanço da produção do café, o produto acabou sendo implantado em outra região de São Paulo o chamado oeste paulista, porém este não corresponde geograficamente à região oeste de fato. A região compreende de Campinas a Rio Claro, São Carlos, Araraquara, Catanduva, e de Campinas para Piraçununga, Casa Branca, e Ribeirão Preto.
O café foi introduzido para substituir a produção de cana, devido à baixa dos preços. Para Fausto (2009, p.200) “o êxito da economia cafeeira do oeste paulista dependia primeiramente de transportes e de um porto viável para o escoamento do produto”. Porém esse obstáculo foi superado com a construção da estrada de ferro de Santos a Jundiaí, entrando em atividade em 1868.
Com o crescimento da produção e um aumento significativo na economia, surge segundo Fausto (2009, p. 203) “uma nova classe que se denominava de burguesia do café”. Isso se deu pela acumulação de capital provido do café, facilitado pela melhoria nos setores de transportes e portos e nas produções extensivas do produto, utilizando a mão-de-obra escrava.
Fausto (2009, p. 203) enfatiza que em 1887, São Paulo estava em terceiro lugar na população escrava das províncias, com 107 329 cativos; vindo primeiro Minas Gerais com 191 952 e em segundo Rio de Janeiro com uma população negra de 162 421.
Porém com o fim da escravidão no Brasil, esses escravos que serviam como mão-de-obra serão substituídos pela inserção do imigrante.
5.1. O INÍCIO DA GRANDE IMIGRAÇÃO NO BRASIL.
Sobre esse aspecto Fausto (2009, p.205) começa fazendo um comentário de como a região paulista estava dependente da mão-de-obra escrava. E nesse sentido com, com o processo de abolição da escravatura em andamento, a habilidade de solucionar rapidamente o problema, a elite paulista em parceria com o Governo Imperial cria como alternativa a tentativa de atrair a mão-de-obra européia para trabalhar nos cafezais.
Por conseguinte Fausto levanta os seguintes questionamentos: por que não se tentou transformar escravos em trabalhadores livres, ou por que não se incentivou a vinda dos nordestinos para trabalhar nas fazendas de café?
Para responder esses questionamentos devem-se analisar fatores internos e externos. Para o primeiro questionamento, o preconceito surge em primeira instancia isso impedia a hipótese de mudança de regime de trabalho do escravo. Para ele é duvido que após anos de servidão, os escravos estivessem dispostos a ficar em uma situação inversa a que eles tinham.
O segundo questionamento responde-se com uma argumentação extremamente racista na qual, círculos dirigentes do Império consideravam escravos, ex-escravo ou mestiços como seres inferiores, e a única salvação para o Brasil era europeizá-lo.
Não se inseriu a mão-de-obra nordestina nas fazendas de café devido segundo Fausto (2009, p. 205) ao fato de que os senhores de engenho e plantadores de algodão não veriam com bons olhos a transferência de uma força de trabalho sob seu controle para o Centro-Sul. Para os nordestinos o sonho de riqueza ou pelo menos uma vida melhor se localizava na Amazônia ou no próprio Nordeste.
Boris enfatiza que a atração dos imigrantes se fez através de companhias particulares, sem fins lucrativos, cujos recursos provinham do Estado.
Para aumentar o incentivo à imigração criou-se um imposto anual por escravo empregado na agricultura, a ser pago em dobro quando se tratasse de escravo destinado a outras ocupações. A renda seria usada para custear os serviços de imigração. (FAUSTO, 2009, p. 207) sobre esse aspecto destaca que:
a Sociedade Promotora da Imigração, fundada em 1886 por iniciativa, entre outros, dos irmãos Martinho Prado Jr. E Antonio da Silva Prado, tomou uma série de providencias no sentido de atrair imigrantes para as fazendas de café. A entidade publicou folhetos em português, alemão e italiano, nos quais salientava as vantagens da imigração para São Paulo.
A princípio a maioria dos imigrantes vindos para o Brasil eram trabalhadores do campo ou pequenos proprietários rurais do norte da Itália. Esse fato só viria a mudar nos últimos anos do Império, a imigração para São Paulo enfatiza Fausto saltou de 6.500 pessoas em 1885 para 91.826 em 1888, sendo sua maioria italianos; que constituíam 90% do total. Essa política de imigração foi uma manobra da classe dominante paulista e um exemplo claro de seus interesses pelo governo provincial.
6 A GUERRA DO PARAGUAI
A Guerra do Paraguai teve seu início no ano de 1864, a partir da ambição do ditador Francisco Solano Lopes, que tinha como objetivo aumentar o território paraguaio e obter uma saída para o Oceano Atlântico, através dos rios da Bacia da Prata. Ele iniciou o confronto com a criação de inúmeros obstáculos impostos às embarcações brasileiras que se dirigiam a Mato Grosso através da capital paraguaia.
A pior coisa para o Paraguai é que não tem mar, ou seja, é um problema para a economia e exportação, daí a expansão paraguaia querendo ter um “corredor” ate o mar brasileiro para poder alavancar de vez a economia e ser a grande potencia sul-americana. (JÚNIOR 1999, p.74).
Visando a província de Mato Grosso, o ditador paraguaio aproveitou-se da fraca defesa brasileira naquela região para invadi-la e conquistá-la. Fez isso sem grandes dificuldades e, após esta batalha, sentiu-se motivado a dar continuidade à expansão do Paraguai através do território que pertencia ao Brasil. Seu próximo alvo foi o Rio Grande do Sul, mas, para atingi-lo, necessitava passar pela Argentina. Então, invadiu e tomou Corrientes, província Argentina que, naquela época, era governada por Mitre.
Decididos a não mais serem ameaçados e dominados pelo ditador Solano Lopes, Argentina, Brasil e Uruguai uniram suas forças em 1° de maio de 1865 através de acordo conhecido como a Tríplice Aliança. A partir daí, os três países lutaram juntos para deterem o Paraguai, que foi vencido na batalha naval de Riachuelo e também na luta de Uruguaiana. “A guerra do Paraguai conclui pela simples razão de que matamos todos os paraguaios maiores de dez anos”. (CHIAVENATO 1994, p.47).
Esta guerra durou seis anos; contudo, já no terceiro ano, o Brasil via-se em grandes dificuldades com a organização de sua tropa, pois além do inimigo, os soldados brasileiros tinham que lutar contra o falta de alimentos, de comunicação e ainda contra as epidemias que os derrotavam na maioria das vezes. Diante deste quadro, Caxias foi chamado para liderar o exército brasileiro. Sob seu comando, a tropa foi reorganizada e conquistou várias vitórias até chegar a Assunção no ano de 1869.
Antes da guerra, o Paraguai era uma potência econômica na América do Sul. Além disso, era um país independente das nações européias. Para a Inglaterra, um exemplo que não deveria ser seguido pelos demais países latino-americanos, que eram totalmente dependentes do império inglês. Foi por isso, que os ingleses ficaram ao lado dos países da tríplice aliança, emprestando dinheiro e oferecendo apoio militar. Era interessante para a Inglaterra enfraquecer e eliminar um exemplo de sucesso e independência na América Latina. Após este conflito, o Paraguai nunca mais voltou a ser um país com um bom índice de desenvolvimento econômico, pelo contrário, passa atualmente por dificuldades políticas e econômicas.
7 FATORES PARA A QUEDA DA MONARQUIA
7.1 O FIM DA ESCRAVIDÃO
Um dos fatores que contribuiu para aumentar a insatisfação da base de apoio social do Governo Imperial foi o processo de abolição da escravatura. Iniciada pela aprovação da Lei do Ventre Livre em 1871. Questionou-se o que teria levado o governo a propor uma lei que criava problemas nas suas relações com sua base social de apoio?
Via-se no projeto um grave risco a subversão da ordem. Pois, libertar os escravos por um ato de generosidade do senhor levava os beneficiados, no caso os escravos, ao reconhecimento e a obediência. Em contraposição a liberdade através da lei gerava no escravo a idéia de um direito, o que poderia conduzir o país a uma guerra de raças.
Outro fator da crise foi o aumento da força do movimento abolicionista a partir de 1880, com a aparição de jornais, associações e a avanço da propaganda. Entre varias figuras de elite destacou-se Joaquim Nabuco, e entre os negros ou mestiços as de José do Patrocínio, André Rebouças e Luís Gama.
Fazendo uma analise detalha, percebemos que o fim da escravidão era inevitável, tanto que a província do Ceará declarou extinta a escravidão em 1884.
Entre 1885 e 1888 a campanha abolicionista ganhou mais força. Através da desorganização do trabalho nas fazendas de café, com as fugas de escravos devido a ativistas incentivarem atos de rebeldia nas fazendas.
O sistema escravista se desagregava rapidamente. Porém a abolição não eliminou o problema do negro, as escassas oportunidades abertas ao ex-escravo resultaram em uma profunda desigualdade social da população negra.
(...) essa desigualdade acabou por reforçar o próprio preconceito contra o negro. Sobretudo nas regiões de forte imigração, ele foi considerado um ser inferior, perigoso, vadio e propenso ao crime; mas útil quando subserviente. (FAUSTO, 2009, p. 221).
Contudo, apesar de toda a exclusão da população negra, por muito tempo eles foram as mãos e os pés de um Brasil que ainda engatinhava no mundo.
7.2 O MOVIMENTO REPUBLICANO
No fim do Século XVIII, o ideal republicano associou-se a idéia de revolução e de algum tipo de reforma da sociedade. O movimento que nasceu no Rio de Janeiro em 1870 tinha como ícones radicais Lopes Trovão e Silva Jardim que defendiam uma revolução popular como caminho para se chegar a republica. Outros como Quintino Bocaiúva defendia uma transição pacífica de um regime para outro.
Com sua base social constituída principalmente de profissionais liberais e jornalistas, as idéias republicanas chegaram até entre os militares. No Rio de Janeiro associava-se a República à maior participação política dos cidadãos, aos direitos e garantias individuais, a federação e ao fim do regime escravista, destaca (FAUSTO, 2009, p. 228).
O surgimento do PRP (Partido Republicano Paulista) em 1873 de caráter conservador, cujo ponto fundamental consistia na defesa da federação e que as províncias fossem as unidades básicas da mesma. Fausto (2009, p. 229) ainda enfatiza que “segundo estimativas de 1889, um quarto do eleitorado paulista (3.593 pessoas) era republicano, ficando atrás dos liberais (6.637) e dos conservadores (3.975)”. Com isso fica evidente que a mudança de regime política no Brasil não seria nada fácil.
7.3 A INSATISFAÇÃO DOS MILITARES
O inicio do desentendimento entre o governo e os militares se dá quando o Tenente-Coronel Sena Madureira, amigo do imperador, convidou um dos jangadeiros que havia participado de uma luta pela libertação dos escravos no Ceará, para visitar a Escola de Tiro do Rio de janeiro, Sena foi punido com sua transferência para o Rio Grande do Sul onde Deodoro da Fonseca era presidente.
Após publicações em jornais com relatos de militares sobre episódios do Ceará, fato que não agradou ao governo, que de imediato ordenou ao ministro da guerra que estaria proibida a discussão pela imprensa sobre questões políticas ou da corporação.
Deodoro recusou-se a punir os oficiais e o gabinete foi censurado pelo congresso. Contudo, segundo Fausto (2009, p. 234), “em junho de 1887 organizou-se o Clube Militar para defender os interesses dos militares, do qual Deodoro foi eleito presidente”. A insatisfação aumentou quando o Visconde de Ouro Preto, inimigo pessoal de Deodoro, foi convidado a ser presidente da província do Rio Grande do Sul.
Em novembro de 1889, figuras civis e militares como Rui Barbosa, Benjamim Constante, Aristides Lobo e Quintino Bocaiúva reuniram-se com Deodoro para tentar convencê-lo a liderar um movimento contra o regime. Inicialmente ele resistiu ao convite por ser amigo do imperador, porém com surgimentos de boatos sobre a redução dos efetivos e até mesmo da extinção do exército, levou Deodoro a intenção de derrubar Ouro Preto. Contudo (FAUSTO, 2009, p. 235) destaca que:
na manhã de 15 de novembro de 1889, Deodoro assumiu o comando das tropas e marchou para o Ministério da Guerra, onde se encontravam os lideres monarquistas. Seguiu-se um episódio confuso, (...) não se sabendo ao certo se naquele dia Deodoro proclamou a República ou apenas considerou derrubado o ministério. Seja como for, no dia seguinte a queda da monarquia estava consumada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após o fim do nosso processo de pesquisa e do desenvolvimento de nosso artigo ficou evidente que a hipótese: durante o Segundo Reinado brasileiro desenvolveu-se o desejo de idéias que trouxeram mudanças, tanto no campo político, quanto econômico, levanta no inicio de nossa pesquisa é verdadeira, tanto que apesar de todas as dificuldades o regime monárquico foi derrubado e que apesar de todas as pressões os militares foram os primeiros a estarem no poder no regime republicano, e as elites conseguiram seus objetivos que foi o de ter autonomia política nas províncias, ou agora, Estados.
Apesar de todo o esforço, conseguimos alcançar nossos objetivos, e a partir deste trabalho fica evidente todo o processo de transição do regime monárquico para o republicano foi feito de forma gradativa, conflitos de ideais, mais não civil, apesar da força da monarquia, com a crise e os fatores mencionados anteriormente contribuíram para seu enfraquecimento, a queda seria uma questão de tempo, mas que veio com um empurrão dos militares.
REFERÊNCIAS
CHIAVENATO, Júlio José. Genocídio americano: A Guerra do Paraguai. 27ª Ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 13 ed. São Paulo: Edusp, 2009.
JÚNIOR, Antonio Carlos. A guerra do Paraguai. Contexto, São Paulo, 1999.
MATTOSO, Kátia de Queirós. SER ESCRAVO NO BRASIL. São Paulo: Brasiliense, 2003.
SILVA, Francisco de Assis. História do Brasil: colônia, império, república. São Paulo: Moderna, 1992.
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2006.