NÃO JULGAR PARA NÃO SER JULGADO
Se Jesus mesmo disse que não devemos julgar as pessoas, porque justamente indivíduos que se dizem seguidores de Cristo vivem a rotular isto e aquilo de pecado, julgando os semelhantes por suas opções diferenciadas? Onde estaria a coerência dos cristãos, se muitas vezes eles discriminam os demais por não serem crentes ou por adotarem conduta diferente do comum? Ao mesmo tempo, ao dizer que não devemos julgar os outros, Jesus estaria dizendo que devemos fazer vista grossa para tudo, que não podemos censurar alguém por conduta imprópria, tampouco julgar uma conduta como imprópria; que nem mesmo podemos repreender os filhos, parentes, conhecidos e os amigos quando virmos que seus atos lhes acarretarão concequências desagradáveis? Seria isto que Jesus quis dizer, que devemos assistir passivamente a deterioração das instituições sociais e morais e até nos deixar levar por essa deterioração para estarmos de bem com o mundo e suas correntes ideológicas e comportamentais?
Ao mesmo tempo em que Jesus disse em Mateus 7:1 que não devemos julgar para não sermos julgados (esclarecendo que o mesmo critério que usarmos para julgar será aplicado no julgamento contra nós), discorrendo sobre a conduta dos irmãos na igreja, o apóstolo Paulo disse em I Coríntios 6 que havemos de julgar o mundo (julgaremos o mundo) e os anjos e, portanto, no verso 3 ele diz que cabe-nos julgar as querelas entre nós (os crentes), em vez de levar ao julgamento dos ímpios.
Como conciliar o que Jesus Cristo disse e o que explicou o apóstolo Paulo?
O que Paulo disse sobre julgar não se refere a mesmo julgamento que Jesus trata. Quanto ao que Jesus disse em Mateus 7:1, que não devemos julgar para não sermos julgados, Ele se refere ao julgamento que fazemos das aparências, discriminando as pessoas preconceituosamente, sem levar em consideração seus valores, virtudes e sentimentos, sem conhecê-las, e apontando-lhes o dedo, expondo suas falhas publicamente e difamando-as, condenando-as, nos afastando delas, isolando-as assim e tudo mais por vermos seus defeitos e pecados. Também disse que nossa atenção não deve estar voltada para os defeitos e pecados das pessoas, valorizando-os e procurando-os voluntária e intencionalmente.
Por um lado, porque expomos os erros alheios, arruinamos a reputação das pessoas, sujeitando-as ao julgamento preconceituoso da sociedade, que as discrimina, ofuscando-lhes e destruindo a seus olhos a vantagem da regeneração. Ou seja, nossa discriminação mostra-lhes que não vale a pena regenerar-se. Quando fazemos isso com os irmãos da fé e com pessoas do nosso convívio, afastamos essas pessoas do convívio e elas se vão magoadas para a solidão ou para companhia de pessoas que as consolarão com maus conselhos.
A Bíblia diz que devemos ter simpatia para com os pecadores (não para com seus pecados) e a igreja toda (e os indivíduos como igreja) deve ajudar os errantes e desgarrados a reconhecer seus erros, ajudando-os assim a vencer e retroceder do caminho do erro. E a mesma Bíblia diz que se vermos alguém em pecado, devemos ir ter com a pessoa para adverti-la e ajudá-la a salvar sua alma, pois seremos responsabilizados pelo castigo que ela sofrer e pelo sangue dela que for derramado no juízo final. Ezequiel 3:18 e 20; Mateus 18:15.
Portanto, quando disse que não devemos julgar para não sermos julgados, Jesus disse mesmo que não devemos julgar para discriminar, para segregar, mas devemos buscar santificar-nos através da obediência da Lei pela graça de Jesus (nos purificarmos dos nossos pecados – abandoná-los) para termos moral para bem podermos julgar nossos erros e os erros dos nossos irmãos, parentes e amigos a fim de ajudar-nos mutuamente a salvar-nos.
Se não pudermos julgar de nenhuma forma, como levaremos a mensagem de repreensão e salvação de Deus para alguém se não julgarmos a pessoa e acharmos que ela precisa? Assim amordaçaremos a missão que Jesus deu a todo crente de ir e pregar o Evangelho a toda nação, tribo, língua e povo em Mateus 16:15 e assim Ele não terá como salvar mais nenhuma pessoa. Como poderemos advertir nossos amigos para livrá-los das consequências ruins de seus erros se não pudermos julgar que seus atos não são bons? Todavia, nosso julgamento não pode servir para discriminar, menosprezar, isolar, segregar, mas para atrair e salvar.
É claro também que hoje, mais do que antigamente, as pessoas não estão dispostas a ter seus atos inadequados censurados, mesmo que por Deus, e serem repreendidas por seus caminhos danosos e, tampouco, receberem orientação contrária as suas vontades e intentos, pois a maioria segue obstinada rumo à realização dos seus intentos a qualquer custo. Por isto, como foi profetizado, neste tempo se evoca tanto somente a passagem de Jesus sobre não julgar. Assim impede-se a censura a toda essa promiscuidade que até se criou leis para defender.
Wilson do Amaral
Autor de Os Meninos da Guerra, 2003 e 2004, e Os Sonhos não Conhecem Obstáculos, 2004.