VIVE LA DIFÉRENCE! Em francês, mas é a América do Norte que parece dar um bom exemplo
Conviver com as diferenças é o mais complicado, difícil e limitado exercício. Difícil porque somos ensinados há séculos a manter distâncias do nosso semelhante. Complicado porque, depois de apreendido um conceito, fica difícil pensar diferente. E limitado porque, em virtude de ser difícil e complicado, logo nossas forças são vencidas pelo ensinado e cristalizado.
Acredito que eram inocentes nossos pais, e treinados também, quando diziam sempre não, não pode, com este ande, com aquele nunca; este é certo e aquele é errado; este é branco, aquele é preto e aqueloutro é desbotado; este é gordo e aquele é magro; esta é jovem e aquela é velha; este é direito e aquele é desviado. Continuamos repetindo as lições e atitudes adquiridas e, simultaneamente, tentando compreender os novos ensinamentos advindos de estudos e reflexões. Mesmo quando nos convencemos, introjetamos e nos conscientizamos, apontam os velhos costumes de criticar, excluir e julgar.
Há muita dissimulação de nossa parte quando demonstramos compreender as diferenças tão somente para atender ao novo pensamento que se espalha por muitos pontos deste mundo. Entretanto, momentos existem, de pressão e o dissimulado explode, como foi o caso da médica sergipana que deu um show de falta de civilização no Aeroporto de Aracaju, ofendendo um funcionário chamando-o de negro, cachorro, selvagem, etc. Uma médica!
Situações há em que a dissimulação atinge um nível de desempenho impressionante. Isto acontece em busca de sucesso e dinheiro, especialmente. Mesmo se o dinheiro é pouco, a personalidade se corrompe. Exemplifico dentro da minha área de atuação, o ensino. Muitas vezes vi colegas elogiarem jovens pervertidos somente para agradar às ricas famílias que os mantinham em escolas cujas mensalidades são muito caras.
Há também quem confunda liberdade com libertinagem, tolerância com permissividade, paquera com assédio e conviver com as diferenças com o fingimento social e conveniente. Não usamos detector de mentiras e todos são inocentes até que se prove o contrário. Nem mesmo sabemos quando, quanto, onde e como estamos agindo com sinceridade, pois o próximo segundo poderá destruir as nossas convicções e causar estranhamento e surpresa.
Isto de aprender a conviver com as diferenças exige muito de cada indivíduo. Exige desprendimento e paciência, carinho e amor, dedicação exclusiva e olhos da alma abertos para a compreensão da beleza e grandiosidade que existem na diversidade. Se o ser humano fosse padronizado não haveria a poesia. Um negro não governaria a América do Norte.