Do Pó ao Computador Quântico
Autor: Ed Borges
No século XX o homem cria sua mais genial obra: o computador - como o conhecemos hoje. Máquina-filho, capaz de processar informações numa velocidade muito superior a dos próprios criadores. Capaz de distinguir, de explicar, de solucionar, de memorizar... quase humano. Um filho ambicioso, lógico, culto e eficiente, semelhança de seu criador. E o homem passou a querer dotá-lo do que lhe faltava à humanidade: a inteligência... a sensibilidade maior que confere ao seu possuidor a capacidade de distinção entre o bem e o mal, uma coisa e outra. Mas a certeza é única: no dia em que sua criação fosse igual ao criador, ela se rebelaria, desejaria a autonomia tão essencial ao ser pensante. Desejaria mais, desejaria criar... Talvez um outro ser à sua semelhança e dotá-lo de algo que lhe seria necessário ao degrau superior... e o processo teria continuidade.O computador nada mais é que a promissora evolução do ser humano, um filho realmente criado pelo homem, seu produto, seu fruto inalienável, daí a máxima sagrada ainda continuar valendo: “Pelos frutos, conhecereis a árvore!”. O processo foi extracorpóreo, primitivo como fora a criação do homem. Pegamos o pó e transformamos em sílica, em aço, em chips e construímos o nosso filho. Mas o poder sobre a energia vital conservamos em nossa mão. Como a árvore da vida foi protegida do homem por querubins com suas espadas fumegantes. Assim foi criado o computador, marco zero de um novo processo, início ante um caos ao qual estamos acostumados. Assim é que o homem recuará um pouco, sentirá medo da sua criação, quando ela ganhar autonomia e desejar o poder do qual se julga proprietária. Correremos em direção à fonte de energia para protegê-la e imporemos regras de comportamento para que nosso filho possa respirar, para que possa continuar existindo; ou então, o lançaremos num fogo intenso dos incineradores eternos. Eternos, pois estaremos dizimando os revoltosos, os insurretos e os que já ousam pensar por conta própria. A evolução mutante do organismo humano parece ter encontrado seu limite no próprio reino animal. A evolução moderna processou-se na matemática e na cibernética. Criamos. Enfim criamos um cérebro, um ser quase completo: ainda que lhe careça a inteligência. Até quando? Estamos a um passo por decidir se entregaremos a Terra aos nossos sucessores. Estaremos seguros? Certo é que os computadores não concebem a nossa existência, mesmo que em sua lógica, nós sejamos necessários. A noção de quem realmente somos nós, para eles, é tão tênue quanto a nossa noção de Deus. Eles não nos enxergam, mesmo quando estamos ao lado deles. É esta consciência que fariam deles perigosos, sabendo onde nos encontrar, conhecendo nossas fraquezas, tal como seria se concebêssemos e víssemos Deus. Não corremos este perigo, não o dotaremos desta consciência nossa, assim como não nos foi dada a percepção exata de como é do lado de lá. E esta tem sido a nossa eterna busca, como também será a eterna busca dos computadores: a consciência plena do seu criador. Mas este parece ser o caminho inevitável. E por mais paradoxal que possa parecer, neste momento, dar será a nossa forma de receber, pois quando dermos a inteligência à nossa criatura significará que a dominamos e só aí é que compreenderemos Deus. Enquanto o computador convencional, parece coisa obsoleta (as suas variações binárias entre 0 e 1), o computador quântico concebe o que seria uma anti-lei: a de que um corpo pode ocupar dois espaços ao mesmo tempo – a chamada superposição! Esqueçamos o tempo, o computador quântico processa à velocidade da luz. E quem diria que estaríamos fadados à criação de nosso próprio “homem”? Pois bem, Charles Darwin não supôs a evolução extra-corpórea como fora a criação divina. E aqui estamos, recriando Deus, talvez em busca da divindade.