A vingança do silicone

Uma leitora, por sinal dona de uma extrema lucidez sociopolítica, afirmou que “deve haver um excesso de silicone no Primeiro Mundo, a ponto de eles exportarem para cá sua produção, de forma maciça...”. Outra pessoa, pelo jeito um especialista, que preferiu não se identificar, referindo-se ao silicone, revela os malefícios que aquele produto pode acarretar ao organismo humano, desde o simples deslize da prótese injetada (numa bicha de são Paulo, a massa que formava o seio desceu, por efeito da gravidade e virou uma terceira banda de bunda), ou problemas de intoxicação e até o surgimento de câncer.

O problema é que uma boa parte da mulherada está desesperada para fazer um up grade, mudar de fachada, dar um tcham, buscar um new look. Um filósofo contemporâneo disse que as mulheres estão injetando silicone para aumentar os seios, não para tanto para agradar seus parceiros (afinal, o seio de silicone só é bonito, mas incômodo ao manuseio), mas para fazer morrer de inveja suas amigas. O negócio não é para o marido tocar, mas para os outros desejarem.

A primeira coisa que uma "turbinada faz" é colocar uma blusa decotada e sair por aí mostrando as tetas, como se essa exibição pudesse suprimir sua cabecinha oca. Não me refiro a todas, é claro, mas a uma significativa parte das "reformadas".

Dentro do desvio de algumas narcisistas, cujo maior prazer é serem comidas com os olhos (apenas com os olhos), até pode. Outra coisa, no que se refere às tentativas de algumas se fazerem bonitas e mais jovens, está na cirurgia plástica. Em geral, junto com o desejo de rejuvenescer, há um certo masoquismo.

Diz uma amiga, especialista em ciências do comportamento, que a primeira coisa que a mulher carente faz, é uma plástica. Primeiro para tentar “ir à luta”. Depois, para mostrar ao marido fujão, “o que ele está perdendo” e, por último, a auto-mutilação as vezes ajuda a punir eventuais sentimentos de culpa. Coisa complicada, né?

O grande problema é que a natureza, por sábia, tem suas leis, e contrariá-las é pedir “chumbo grosso”. O ideal é a pessoa tomar consciência de suas carências e limitações, de sua idade e de sua condição física, viver sua vida gostando de si, aceitando-se tal como é, e não como idealizou.

O ato de buscar transformações contrárias à natureza, nem sempre é adequadamente acompanhado pela cabeça. Isso sem considerarmos a vingança do silicone, que pode se instalar onde bem quer, diferentemente do local previamente projetado.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 07/11/2006
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