O professor e a puta

O amor não se vai de um dia para outro. É claro que não! Se morre, vítima da distância e das mágoas, tinha outro nome. No auge da paixão, as pessoas juram amor, prometem fidelidade, sugerem até morrer juntos, mas na hora da verdade, se escondem, dizem que não disseram, mascaram...

Há dias me contaram uma história curiosa, hilária (para quem está de fora) e dramática (se é mesmo que aconteceu). O amor daqueles dois era uma novidade. Ela vinha de vários fracassos, mercê seu gênio de “vaca louca”, sua inconsistência de personalidade, e seus notórios deslizes morais.

Ele era um pobre diabo, interiorano, obscuro, portador de um curso superior "de segunda classe", sustentado pela mulher, vivia de boina, fumava palheiro, comia feijão com massa e coçava a bunda em público; professor estadual num colégio de periferia. Alguém sem expressão.

Eles se conheceram (diz o ditado que Deus cria, o diabo separa e eles se juntam), treparam e se iludiram na novidade. Aliás, ele se iludiu com os gritos e sussurros dela; ela sabia bem o que queria: um encosto, “um homem pra chamar de seu”, etc.

No Natal foi uma pândega: ela levou-o para a festa da família; os presentes, ao serem apresentados ao dito cujo, disseram em voz baixa, uns aos outros: “outro?”. Como ele era casado, ela lascou o clássico chavão: “ou ela ou eu!!” E lá se foi a devotada esposa (que pagava a conta!!) temporariamente para o ostracismo.

O novo casal desfilava pelos lugares da moda, hotéis da região, lanchonetes da esquina, enquanto planejava ir para outro estado, construir vida nova, cavar dinheiro, ficar ricos!! Como era de se prever, o negócio não deu certo e não durou muito. Ele enjoou dela; afinal, ela estava com ele, mas lembrava o anterior, em cujos braços experimentou os maiores orgasmos de sua vida. Constatando o gênio autoritário e volúvel da namorada, ele viu que estava entrando numa fria, e como lhe faltasse peito para assumir tão tresloucada mudança, deu no pé. Simplesmente não apareceu; deixou a percanta na rodoviária, sentada na mala.

Um maldoso filósofo de corte germânico diria que ele “preferiu ficar com a ‘jararaca’ velha a ter que aturar a nova”. Iludida, ela havia comprado as passagens e ido para a rodoviária, a espera do “príncipe”, antegozando os folguedos da viagem e a nova vida sonhada. Qual um Humphrey Boggart, do filme “Casablanca”, ela esperou na estação, debaixo de chuva, por um amor que não veio.

Abatida com mais esse fracasso, lá se foi ela para o novo destino, frustrada como sempre, sozinha, sentindo-se, mais uma vez, usada por seus homens. Todo o romance sempre deixa um saldo: um filho, uma porta aberta à retomada, uma dívida, uma foto... Esse não ficou por menos.

Voltando ao que ficou do romance com o obscuro professor, observa-se que o saldo foi bem mais desagradável do que se poderia imaginar: o professor largou a princesa infectada por uma desconfortável, mal cheirosa e constrangedora infecção venérea, que ela - como vingança - saiu largando pelo Brasil afora, contaminando seus eventuais, desavisados e numerosos parceiros. De fato, dizem que “quando o amor se vai” a gonorréia permanece. Coisas da ficção? Ou coisas da vida?

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 07/11/2006
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