Tributo a Roberto Carlos gera polêmica com a Igreja

Tributo a Roberto Carlos gera polêmica com a Igreja

(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza.

Beija-Flor trará, hoje, Roberto Carlos em carro cheio de crianças e imagens religiosas.

O PROBLEMA

O carro alegórico que trará o cantor Roberto Carlos, hoje a noite, na Marques de Sapucaí no enredo da escola de samba da Beija-Flor, virou alvo de polêmica com a igreja católica exatamente por trazer símbolos religiosos, como um rosto que seria de Jesus Cristo, quatro imagens de Nossa Senhora e anjos.

Centenas de crianças desfilarão ao lado do Rei, com o intuito de representar o céu. A criação foi analisada por representantes da Arquidiocese do Rio, que visitaram o barracão da escola.

O diretor de Carnaval da Azul e Branca de Nilópolis, Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, o Laila, em entrevista a nós concedida, explicou que o carro representa a religiosidade do artista. Ele não acredita que a escola tenha problemas: “Não estamos denegrindo qualquer símbolo da Igreja, mas exatamente exaltando a fé e a religião presentes no cotidiano de Roberto Carlos, nosso homenageado. Além disso, não representamos Jesus Cristo, mas um ser de luz”.

A Beija-Flor alega que não tem como falar de Roberto Carlos sem mostrar sua fé, mas essa não seria a primeira vez que a Igreja opinaria sobre o conteúdo dos desfiles. Em entrevista por telefone na quarta-feira passada, ou mais precisamente em 12.01.2011, a assessoria da instituição religiosa por telefone nos dizia o seguinte: “Ainda estamos checando melhor os detalhes. Não podemos descartar nada. É provável que haja uma visita ao barracão da Beija-Flor”. De fato, essa visita aconteceu.

Em caminho paralelo, a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) afirmou não ter tido conhecimento da polêmica, mas que, assim que recebesse qualquer comunicado, tomaria providencias. Pelo visto, nenhum comunicado chegou a Liesa.

OPINIÕES DIVIDIDAS

A picuinha divide a opinião dos carnavalescos. Chico Spinosa criticou a interferência da Igreja. “Classifico como incompatível. O desfile de escola de samba não é lugar de religiosos. Eles tem que se preocupar com o templo deles”, disse, entre furioso e sarcástico.

Já Milton Cunha se manifestou no sentido de não misturar símbolos da Igreja Católica com o Carnaval: “Acho que o sagrado deve estar separado do profano”.

A VELHA POLÊMICA SE REPETE

A Beija-Flor já esteve envolvida em confusão acirrada semelhante a esta com a Igreja em 1989, quando o carnavalesco Joãozinho Trinta quis mostrar imagem do Cristo Redentor como mendigo em carro alegórico do enredo “Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”. A justiça, na época, obrigou a escola a cobrir a escultura, que foi para a apresentação na avenida sob um plástico com a faixa com os dizeres “Mesmo proibido, olhai por nós”.

OPINIÃO

Como se pode ver, a Igreja Católica costuma dar piruadas onde não deve. Seria de bom alvitre, que seus representantes, cuidassem de assuntos mais sérios e graves, como a pedofilia entre seus pares, bem ainda parar de colocar paninhos quentes na cabeça de seus apaniguados, cobrindo as falcatruas de padres e monsenhores que fazem da batina seu escudo para encobrir escândalos que geralmente acabam em pizzas. Não gosto de carnaval, odeio essa festa de malucos. Todavia, acho que no caso específico do tributo a Roberto Carlos, na homenagem que a Beija-Flor de Nilópolis quer prestar, a ele, diga-se de passagem merecidamente, o carro em que o cantor desfilará ao longo do sambódromo (com uma imagem semelhante ao rosto de Cristo e santos), em nenhum momento denigre, deturpa, fere ou afronta a imagem da Santa Amada Igreja Católica. Somente um bando de incompetentes que não tem o que fazer -, certamente para mostrar serviço ao Papa, em Roma -, tem o desplante de vir a público e, dando uma de santinho do pau oco, tenta colocar a religiosidade manchada da Igreja num pedestal eirado, base que ela própria tem deixado, ao longo dos anos, sujar, macular e infamar a vista de acontecimentos que abalam praticamente todos os dias, a opinião pública em decorrência das barbaridades e das atrocidades varridas para debaixo das sagradas sacristias.

(*) Aparecido Raimundo de Souza, 57 anos é jornalista.

Aparecidoescritor
Enviado por Aparecidoescritor em 07/03/2011
Código do texto: T2834403