DEFENSORES DA NOSSA LÍNGUA

Sempre tivemos defensores da língua para impedir certos modismos de origem externa que ferem nossos ouvidos. Isso, no entanto é impossível, uma vez que as línguas vivas são formadas de cacos de línguas mortas, coladas e remendadas com partículas de línguas vivas faladas em outras regiões. Há incorporações em nossa língua cuja origem não nos damos ao trabalho de analisar.

A tecnologia nos impõe aberrações e traduções mal feitas. Quem escreve, usa o programa word do computador e ao terminar de escrever “justifica” o texto. Um absurdo contra o qual os puritanos da língua não se levantam. “Justificar” pode significar muitas coisas, mas nunca “ajustar” que é o sentido que o programa de computador dá à palavra.

Na década de 60, no período militar, até músicas estrangeiras, passavam a ter uma versão nacional que, em alguns casos nada tinha a ver com o sentido original da letra. Interessante reparar que o ritmo podia ser importado livremente, mas a letra sofria restrições. Mais tarde, nos anos 90 o deputado Aldo Rabelo quis proibir todas as palavras de origem estrangeira no país. Como era de se esperar, sua proposta, sabiamente, nunca foi levada a sério.

Na nossa culinária também incorporamos e até criamos palavras de outras origens. A começar pela própria palavra “restaurante” que era usada originariamente na França para designar sopas restauradoras para doentes. Quando se dizia, há 250 anos, que se vendia “divinos restaurantes” não se falava em estabelecimentos e sim nas sopas “milagrosas”. Hoje designa as casas que vendem comidas prontas para o consumo, em substituição a horrível “Casa de Pasto” usada por nossa língua mãe.

O modelo “Self Service” embora o nome possa sugerir outra coisa, é uma criação tipicamente brasileira, sendo copiada em muitas partes do mundo. Embora seja a maneira mais rápida de alguém se servir, não conseguiu conquistar a categoria de fast food já consagrada pelas, muitas vezes demoradas, lanchonetes.

Uma outra palavra que soa muito chique é bistrô, embora sua origem seja muito popular. Atualmente usada para designar pequenos botecos, onde também se vende comida, como os Kneipe alemãs ou os Pubs ingleses, têm sua origem atribuída aos russos. A palavra “bystro” quer apenas dizer pressa que era sempre presente nos soldados russos, na dominação da França no início do século XIX. Mais tarde foi usada para pratos prontos, elaborados por donas de casa para ajudar em sua renda familiar, enquanto os maridos estavam guerreando. Assim, bistrô (bistreau) originariamente nada mais é que o nosso prato feito, o famoso PF.

Assim como as palavras migram de uma língua para outras, assim também alguns costumes culinários. O carne no espeto, nosso conhecido churrasco, que nasceu nos pampas gaúchos (leia-se sul do Brasil, Argentina e Uruguai) hoje é unanimidade nacional e está sendo copiada em diversos países do mundo, com algumas modificações.

História sempre é melhor ser estudada que vivida..

Luiz Lauschner – Escritor e empresário

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Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 01/03/2011
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