Agonia do Patrimônio Histórico e Cultural de Jundiaí/SP
A palavra ‘patrimônio’ significa um bem herdado ou um seja de uma família, seja de uma comunidade. Para estudar Ciências Sociais os pesquisadores devem se utilizar de diversas ciências humanas como por exemplo, a Geografia, Sociologia, Antropologia, Arqueologia, Economia, Filosofia, a História, Política, ou outras mais específicas, como, numismática, heráldica, filatelia, entre outras. O historiador tem como instrumento de pesquisa os documentos: sejam escritos ou objetos deixados pela cultura humana: os objetos móveis feitos pelo homem, artesanato, vestuário, as comidas, língua, costumes, religião, moradia, iconografia ( escultura, pintura, fotografia ) e também a arquitetura e os chamados ‘sítios arquitetônicos’.
O ser humano é o único que tem registrado o seu passado e sua cultura. Ela muda conforme o tempo e o espaço, ou seja, conforme a época e o local o que diferencia o ser humano entre os seres vivos e também entre si.
O estudo da História no entanto, não é apenas responsabilidade do pesquisador, mas de todos os agentes da História, ou melhor, todos interferem na comunidade, de forma direta ou indireta, agindo conscientemente ou por omissão. O funcionamento de uma comunidade, cidade ou País é feito pelos cidadãos que formam a Nação. Esta interferência pode ser política partidária ou não. Como iremos saber o que se passou a influência que o passado nos trouxe? Através de documentos. Esses podem ser escritos ou o patrimônio deixado, que deve ser interpretado futuramente.
A História é feita no momento em que acontece, são os chamados ‘fatos históricos’, que podem ser importantes apenas numa família, comunidade , num País ou interferirem no Mundo atual e futuro. Somos todos agentes da história, pois, cada um deixa a sua contribuição, boa ou não para a comunidade.
Jundiaí, já foi Jundia-y, Jundiahy em outras épocas, pois sua história começou muito antes da vinda do português, quando ocupado pelos nativos, que influenciou inclusive no nome e depois, já no século XVII, com a vinda de paulistanos da Vila São Paulo de Piratini, ao ocuparem a Serra do Japy, expulsando os indígenas, criando um povoado que mais tarde, já com uma capela dedicada a Nossa Senhora do Desterro, em 15/08/1961 e passou politicamente à Vila Formosa de Nossa Senhora do Desterro, a 14 de dezembro de 1655.
Este arraial que passou a Vila com uma Câmara Municipal de Vereadores ((uma forma política de administrar o local durante a Colônia) tinha influência até os limites da Capitania São Vicente ( hoje Estado de São Paulo), conhecida como o ‘Mato Grosso de Jundiahy’. Depois com o Império passou a ser Cidade, em 28/03/1865em , já com uma geografia muito menor, pois surgiram outras Vilas e Cidades no interior paulista.
Durante o segundo semestre do século XIX foram instaladas companhias de estradas de ferro, como a Santos-Jundiaí, a Cia. Paulista de Estradas de Ferro, a Mogiana a Sorocabana. A cidade recebeu imigrantes nacionais e estrangeiros e a sua economia passou a ser rural com uma agricultura voltada para a uva e seus derivados daí o cognome ‘ Terra da Uva’, com a vida dos imigrantes italianos.
A indústria da cerâmica tornou-se importante e também a fase industrial, principalmente voltada à indústria têxtil. Surgem indústrias de grande porte, como a São Bento, a fábrica de Tecidos Japy, a Argos Industrial, a Milani, entre outras. A cerâmica de tijolos ou telhas cresceu. A cerâmica branca, também. Vieram indústrias de diversos ramos. Mas, com o tempo, grandes fábricas foram entrando em colapso econômico: algumas se mudaram de Jundiaí, outras fecharam, e com elas trouxeram grandes problemas com os trabalhadores que dependiam disso.
Assim, muitos prédios foram sendo substituídos por outros ramos ou mesmo por outras construções. Atualmente, muito pouco resta desses prédios construídos no século XIX e início do século XX. Perdemos recentemente a fábrica de tecelagem São Bento, onde atualmente estão sendo erguidas seis torres com mais de vinte e quatro andares, na Vila Arens, a ‘coluna vertebral’ geográfica da cidade, num local sem infra-estrutura para receber tantos novos moradores, trazendo o caos de trânsito ao lugar.
Outros empreendimentos estão na pauta da Secretaria Municipal de Obras, que aprova condomínios verticais e horizontais, transformando a cidade de Patronílha, antes com uma vida ainda interiorana, numa verdadeiro caos de metrópole, embora a sua estrutura geográfica não comporta esta demanda.
Um dos últimos redutos que até agora se manteve praticamente intacta, está por um fio: o empreendimento de quatro torres a serem aprovados no local onde está a fábrica de tecelagem Japy, na Vila Arens. Pretendem preservar somente a frente à Rua Lacerda Franco, e a chaminé, já tombada pela municipalidade. A luta pela preservação na sua totalidade desse patrimônio histórico e cultural de Jundiaí existe e vários moradores e sociedades civis, representadas por entidades legais, como associações e sindicatos estão se movimentando no sentido da conservação desse que é um patrimônio importante tanto para o município, para o Estado como para a Nação. Não podemos deixar esse verdadeiro ‘sítio histórico’ urbano se tornar somente uma ‘caricatura’ do passado grandiosos desta cidade quatrocentona.
O local pode se tornar um espaço público com oferecimento de serviços da prefeitura , ou um local que receba a cultura local, pois fica ao lado da Estação Ferroviária e do Terminal Urbano da Vila Arens.
Não podemos simplesmente nos omitir dessa destruição do nosso passado para dar lugar a empreendimentos lucrativos a empresas forasteiras. Os órgãos que cuidam da preservação do patrimônio, COMPAC- Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Jundiaí, CONDEPHAAT- Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo, IPHAN-SP- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,devem lutar pela conservação de um bem que é da história de Jundiaí, e não serem os próprios carrascos do nosso patrimônio.
Jundiaí, dezembro de 2010.
___________________________
Bibliografia:
CIPOLATO, Aldo – Jundiaí na História, Jundiaí, Ed. Japy, 1994.
MAZZUIA, Mário – Jundiaí através de Documentos, Jundiaí, Edição patrocinada pela Prefeitura Municipal de Jundiaí, 1976.
MAZZUIA, Mário – Jundiaí e sua História , Jundiaí, Ed. Patrocinada pela Prefeitura Municipal de Jundiaí, 1979.
PONTES, Alceu de Toledo – O Barão de Jundiaí, Antônio de Queroz Telles, Instituto Histórico Geográfico de São Paulo, 1970.
TOMANIK, Geraldo Barbosa – Jundiaí Cronologia Histórica, Jundiaí, Ed. Literarte, 1992.
TOMANIK, Geraldo Barbosa – As fotos, os traços e a História- Jundiaí, Ed. Literarte, Livros e Artes Ltda. 2005.
http://pt.wikipedia.org
____________________________
Regina Dragiça Kalman – Socióloga, jornalista, professora de História, pós-graduação em História do Brasil, e especialista em Restauração em Bens Culturais Móveis ( EBA/UFMG).
Currículo resumido:
Formação: Bacharel e Licenciada na( Escola de Sociologia e Política de São Paulo). Bacharel em Comunicação Social, Habilitação em Jornalismo (PUCCAMP). Licenciatura em Desenho e Plástica (FABESP), Licenciada em História ( FFCL de Guaxupé), Pedagogia com Habilitação em Supervisão Escolar ( FFCL Nossa Senhora do Patrocínio). Bacharel em Direito (UNIANCHIETA). Pós-Graduação em História do Brasil ( Fac. Integadas Simonsen), Pós Graduação em Didática Superior (UNIG), Especialização em Restauração de Bens Culturais Móveis ( EBA/UFMG).
Membro da Academia Jundiaiense de Letras, Membro da Associação dos Artistas Plásticos de Jundiaí, Membro do Grêmio Cultural ‘Pedro Fávaro’em Jundiaí, Membro da Comissão Municipal de Literatura- Conselho Municipal de Cultura de Jundiaí, Membro do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Jundiaí.
Atuou durante 28 anos na Rede Oficial de Ensino de São Paulo, como professora de Artes e História, no ensino fundamental e médio. Atuou, em 1985, como professora de Cerâmica na FFCL ‘Nossa Senhora do Patrocínio’.