SAIA JUSTA

Alguns seres humanos têm um sentimento negativo que se caracteriza pela vontade de possuir para si próprio tudo que existe ao seu redor. Em alguns casos podemos dizer que se trate de egoísmo excessivo, direcionado principalmente à riqueza material; mas a moderna psiquiatria, que avençou bastante desde os tempos de Freud, caracteriza a maior parte destas pessoas como sendo gananciosos.

Dinheiro, poder e fama podem fazer com que pessoas portadoras de desvio de caráter corrompam a terceiros e também se corrompam; fazendo da prática da manipulação alheia e do dolo social, se acoplem para até tirarem a vida de seus opositores. O grande problema neste caso é diferenciar quem é um inimigo de fato e quem pode torná-lo apenas por não concordar com as idéias destes delinqüentes.

Há homens nascidos para possuir e que sabem vivificar tudo o que possuem. Outros não o sabem; a sua riqueza falta graça; parece um compromisso firmado com seu caráter. Dir-se-ia que roubam os próprios dividendos. Deveriam possuir aqueles que sabem administrar, não os que acumulam e dissimulam; não aqueles que quanto mais possuem, mais mendicantes se mostram; porém aquele cuja atividade dá trabalho a maior número, abre caminho para todos! Ralph Waldo Emerson, filósofo estadunidense disse esta célebre frase antes de morrer em 1882 em seu trabalho “A conduta para a vida”. - Até parece que Waldo Emerson conhecia boa parte da polícia brasileira de hoje!

Em qualquer parte do planeta a polícia deveria servir ao Governo para a aplicação de determinadas leis, garantir a segurança da coletividade, a ordem pública e a elucidação de crimes; pena que nem sempre e raramente isso acontece na prática, pois o medo popular da autoridade policial; acabou por fazer desta turma que carrega armas e algemas, uma espécie de mito urbano. Quem porta arma e distintivo legalmente, sente-se normalmente como um “abridor de portas”. Os mais pobres o quem por perto para se protegerem e os mais ricos também o querem, pela mesma razão. – Mas será que o povo confia na polícia?

Em tese quando avistamos uma viatura policial deveríamos nos sentir protegidos; ou ainda quando ligamos para o telefone 190, que é o número brasileiro de contato policial, deveríamos acreditar que teríamos o apoio devido. Lamentavelmente a sensação que a maior parte do povo tem, inclusive eu, é que em raríssimas exceções, o encontro com policiais gera a tensão e o medo toma conta. Muitas pessoas que já sofreram na pele o que é depender da polícia e ser maltratado, ou até mesmo quando deparamos com o bandido fardado; enxergar qualquer policial gera asco, ojeriza, pânico, repugnância...!

Mesmo alguns de nós que estudamos o comportamento social de quem por ofício deveria nos proteger, sabemos que existem polícias infinitamente piores do que a nossa; que sabemos que em todo conjunto há os bons e os maus e que os bons jamais devem pagar pelos maus; é incrível percebermos que no Brasil haja tanta corrupção e tanto desleixo da justiça em punir esta gente sem escrúpulos que fazem da farda ou da carteira, uma oportunidade para arranhar a imagem de toda uma nação!

Quem já teve alguma vez, por mero desprazer, no Paraguai, Bolívia, Venezuela, Equador ou no Peru, isso em se falando de nações próximas de nós, sabe muito bem que por lá a coisa chega a ser imensamente mais grave que o nosso problema; mas no Brasil a situação é tão crítica e penosa que polícia e bandido andam tão irmanados que raramente sabemos quem é quem.

Muitas pessoas dizem que os Estados do Sul do Brasil são paraísos postais; lugares lindos e diferentes em que geralmente encontramos cidades maravilhosas, a exemplo claro de Curitiba; mas poucas pessoas sabem ou lêem que são nestas cidades em que o crime corre solto e que o índice de corrupção policial chega a se igualar aos dos países citados no parágrafo anterior. Eu não tenho receio algum de citar que o Paraná é um dos estados brasileiros que há um índice de corrupção policial tão alarmante quanto o do Paraguai e o México; e quando cito isso é porque já estive no Paraguai, no México e já morei em Curitiba. Na belíssima capital paranaense se observam policiais furtando toca CDs de carros estacionados nas ruas. Pode-se dizer mais alguma coisa?

O Nordeste brasileiro com suas praias paradisíacas e suas belezas naturais; abriga uma legião incontável de policiais de todas as esferas que vivem mais do crime do que dos salários do Governo; o mesmo se diz do sofrido Norte. Em Belém eu já vi a polícia militar aliciando garotas de menos de 15 anos para praticarem a prostituição e em Fortaleza, na famosa praia de Iracema, é comum vermos a polícia dando proteção a bordeis que vivem da pedofilia. Em Recife, quem quiser comprar uma trouxinha de maconha não precisa ir à favela, basta ligar 190 e esperar o CPD (Canabis Police Delivery).

No Rio de Janeiro que recentemente passou por uma limpa nos morros em busca da sonhada tranqüilidade popular e que o mundo tirou o chapéu para a ação dos Governos, agora revela aquilo que todos sabiam, mas sempre tiveram medo de falar; que a cúpula das polícias Civil e Militar, está envolvida até o pescoço com os traficantes de drogas e as milícias que prometem proteção. Gente do mais alto escalão policial que vendia informações para os bandidos e ainda repartiam os frutos de apreensões, inclusive cocaína e armas desfilavam nos noticiários como sendo os anjos protetores cariocas. Estas pessoas que agora estão presas se forem expulsas a bem do serviço público, retornarão ao crime da mesma forma que sempre tiveram; é a regra!

Muitos podem citar que os salários são baixos, e eu concordo; muitos também dizem que o problema está na base de preparação do policial, que é ineficaz e irrelevante e nisso eu também concordo; mas o que dizer de um jovem de 18 anos que pensa em ser policial já sabendo que não terá o devido preparo técnico e que não ganhará o suficiente para comer? Ou é burrice aguda ou é esperteza; não há meio termo!

O jovem de hoje não quer saber da carreira policial; ele pretende mesmo é portar uma arma e uma carteira de couro com um brasão, de preferência daqueles que se coloca no peito. Muitos dos que entram na carreira policial sequer sabem das atribuições constitucionais e em suas respectivas academias não há tempo para lhes explicar, porque o Governador quer mesmo é aparecer na mídia e mandar esta gente para as ruas para fazer número.

Nas Minas Gerais, estado citado como rural e pacato, onde sua gente é sempre alvo de anedotas ligadas ao caipira, há como em todos os outros estados brasileiros, polícias Militar e Civil, mas aqui, como se raramente observa escândalos, a mídia não cita os mineiros como sendo modelos da política de segurança pública. As delegacias metropolitanas estão aos poucos perdendo a antiga função de presídio; a velha guarda de policiais está dando vez aos novos e estudiosos homens compenetrados com o bem estar coletivo e as corregedorias até têm muito trabalho; mas nada que se compare às estatísticas de outros lugares.

Alguém pode dizer que eu falo isso de Minas Gerais, porque eu sou mineiro; eu não sou nascido em Minas, mas até que gostaria, porque aqui, indiferentemente da minha terra natal, me sinto confortavelmente seguro, protegido e feliz em morar e criar minha família, porque aqui a polícia é melhor e a justiça é mais célere. Um lugar onde o conjunto polícia, justiça e Ministério Público andam lado a lado, o termo bandido não cabe por associação.

Sem querer fazer qualquer propaganda, por que não sou advogado, muito menos tutor, mas em Minas Gerais eu conheço muitos delegados de polícia que moram de aluguel, que pagam prestações do carro popular e que mantêm seus filhos em escolas públicas e nem por isso fazem “correr a sacolinha” do crime para viverem melhor. Se existem os maus policiais em Minas? Claro que sim! E deve ter um monte deles, mas é exceção e não a regra e até onde eu conheço, não estão no alto escalão; e para finalizar, o Governador de Minas é criminalista, rígido e cobrador; na sua equipe “escreveu não leu, é analfabeto”.

Para mudar o quadro de corrupção policial o Governo precisar primeiro querer; não basta ler cartilhas e pedir para denunciar os desmoralizados se não houver uma política clara de punição exemplar. Não adianta em nada fazer uma prisão isolada de um membro de baixa patente para gerar notícia se o problema está muitas vezes no Gabinete mais ilustre e algumas vezes até no Gabinete do próprio Governador; Arruda de Brasília que o diga!

Dignidade e honra não se ensinam nas academias de polícia; ética e profissionalismo sim! Nossas crianças deveriam retornar com aulas severas de Organização Social e Política ou ainda de Moral e Cívica, como tivemos no passado, para que cresçam sabendo que ser honesto e servir ao próximo são obrigações e não direitos. Nossa juventude já deveria ter sido alertada que do jeito que a coisa anda não sairemos do terceiro mundo, mas sim, nos mudaremos para o quarto, quiçá o quinto mundo.

Já vimos que juízes também são presos; policiais são presos; promotores são presos; Governadores também são presos; só precisamos é ter mais este tipo de notícia, com mais freqüência e mais ênfase, porque isso sim mostra ao povo que o Estado de impunidade está diminuindo e que qualquer desvio de caráter futuro, qualquer um pode ser punido também.

Eu gostaria que tivéssemos berço, educação e raízes baseadas na honestidade e no compromisso de fazermos o Brasil se tornar grande de fato; se não conseguimos fazer este caminho pelas raízes do povo, também não vejo mau algum que o seja pelo temor da punição mais severa; então, que nos unamos para mudar as leis. O que não podemos aceitar é vermos os nossos protetores se tornando bandidos, porque um dia, poderá ser que tenhamos que pedir auxílio e ficaremos em dúvida se ligaremos para o Batalhão ou para os traficantes!

No Brasil de hoje, quando precisar ligar para o 190, mensure bem a sua real necessidade, porque ao invés de vir o socorro, pode ser que você tenha que pedir assistência a Deus!

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

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Enviado por CHaMP Brasil em 15/02/2011
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