Enfraquecer para vender barato
Enfraquecer para vender barato
Qualquer brasileiro com um mínimo de patriotismo na alma, sente um nó na garganta ao observar um símbolo nacional fragilizado. Seja ele representativo de uma entidade pública ou privada. É triste vermos nossas câmaras legislativas desmoralizadas por integrantes que se locupletam fazendo uso da procuração que o povo lhes concede através do voto. Igualmente lastimável recebermos notícias sobre a decadência da VASP e da VARIG, cujas siglas nos trouxeram orgulho por muitos anos, mesmo para aqueles que jamais entraram num avião. E agora apenas são lembradas por fotos guardadas em velhos arquivos de jornais e entidades ligadas à aviação. Ou por relato de sobreviventes da época áurea.
A decadência de uma empresa tem várias origens. Isoladas ou entrelaçadas. Entre elas, percebemos as seguintes: má administração, flutuação do câmbio, mudanças irresponsáveis da legislação, sabotagem (até no primeiro escalão), criação de impostos de surpresa e outros diversos fatores. Algumas vozes clamam que empresas que não sabem gerenciar seus negócios devem fechar e pronto. O governo não é casa beneficente para socorrer maus administradores. Pena que o mesmo não se aplique para bancos falidos que são sustentados pelo PROER.
Um fator que eleva custos é o desperdício. Tanto de material (ferramentas, objetos decorativos, utensílios, móveis, livros, vídeos, etc) como de talentos caseiros. Em diversas empresas ocorrem cursos de especialização de funcionários, que depois de treinados e com algum tempo de experiência, são atraídos pela concorrência. Em outros casos, são desmotivados pela chefia imediata, por motivos obscuros. Acabam não disseminando entre os demais colegas, o que absorveram nas palestras que visitaram. Ocorrem também contratações de elementos por curto período para realizar tarefas rápidas sem maiores estudos.
Passei por esta experiência na empresa onde trabalhei por 31 anos. A área de Informática é muito dinâmica e constantemente exige mudanças e adaptações de seus processos em função das novas necessidades de seus clientes internos e externos. Alguns processos de gerenciamento são regularmente alterados para possibilitar o fornecimento de dados arrumados com rapidez e precisão para permitir decisões com presteza e segurança. Nosso quadro de funcionários era altamente capaz de desenvolver rotinas apropriadas pela 4ª. parte do custo do “pacote” adquirido de empresa do exterior. O que deu certo na Suíça não tem de dar certo no Brasil, com outra cultura e uma área 20 ou 30 vezes maior. Para matar baratas, basta um chinelo caseiro. Não precisamos de pistolas com telescópio para usar no escuro.
Na maioria dos casos, estas mudanças podem ser realizadas pelos profissionais da própria empresa, que dão suporte aos programas ao longo de alguns anos, armazenam altos conhecimentos técnicos, possuem o sentimento do ambiente onde vivem e as características das pessoas com as quais se relacionam diariamente. São pilares fundamentais na cultura da empresa.
No entanto, nos últimos anos foi iniciada a criminosa prática da terceirização em nossas empresas públicas sem critério. Desde a limpeza dos banheiros, até o gerenciamento dos bancos de dados das informações sigilosas e estratégicas. Com esta prática, facilita-se a dispersão das informações entre as concorrentes e perde-se na qualidade dos serviços prestados, pois um funcionário de carreira que cria vínculo emocional com seu ambiente e possui potencial de criatividade e improvisação é preterido sob o rótulo de “economia”(?). Funcionários terceirizados até podem possuir virtudes profissionais. Mas não possuem tempo nem interesse para soldar o elo de relacionamento que humaniza uma empresa de médio ou alto porte. Podem ser deslocados (ou despedidos) dentro de 3 meses. Representam a versão moderna da “legião estrangeira”. Não têm pátria. Servem a quem remunera melhor.
Desta forma, os intermediadores deste processo ganham polpudas comissões explorando a mão de obra massacrada pela escassez de postos de trabalho e colocam em alto risco uma importante parcela da memória técnica das empresas, que perdem o clima “família” entre seus funcionários com mais tempo de casa. Quando atuam em pontos delicados, colocam em risco populações devido a acidentes na área de produção. Lembrem-se dos vazamentos químicos que contaminam rios e plantações.
A todo instante surge uma cara nova no pedaço. E não é de um jovem novato iniciando carreira, absorvendo a experiência dos mais antigos para solidificar a posição da empresa em seu ramo. É mais um massacrado pelo mercado desumano que agride as relações pessoais confiáveis. Ele trabalha quase o dobro do tempo e recebe a 3ª. parte do que merece. A espontaneidade fica tolhida pelo receio de cada um estar de frente para algum tipo de “espião” ou “delator”. As conversas passam para sussurros ligeiros. A corrente de união em torno da “camisa” da empresa fica enfraquecida. A qualquer instante a firma pode ir a pique. Pode ser leiloada e engolida por um grupo de concorrentes ávidos por retirá-la da competição para ditar suas normas desvantajosas para os consumidores pela falta de concorrência sadia.
Depois de nossas empresas de alto padrão, poderemos ver nosso solo ser leiloado oficialmente por migalhas, pois a ocupação “branca” já acontece em várias partes do nosso rico território.
Haroldo P. Barboza – Matemático, Analista de computador e Poeta – out/2006
Autor do livro: BRINQUE E CRESÇA FELIZ!
Referendo de sucesso será o que permitir expurgo no Congresso!