Suspense Político

Leonardo Lisbôa

Poeticamente belo. Belissimamente poético. Estamos falando da cena em que as folhas do Rascunho são levadas pelo vento.

Rascunho que mesmo não sendo humano não deixa de ser uma personagem dada a dimensão que ganhou no enredo (como o autor explicita em sua entrevista na seção dos extras).

A cena não deixa de ter um simbolismo muito grande. As páginas do rascunho, que eram restritas a um número mínimo de pessoas, que tinham acesso aos segredos de entrelinhas daquela personalidade, são levadas como folhas de outono ao alcance de todos que as catassem na sarjeta da rua por onde esvoaçaram. Representação, paralelamente, da trama que envolve o filme. Aquele político aparentemente honestíssimo tem seus crimes descobertos. Suas atitudes corruptas, autoritárias, arbitrárias são lançadas na mídia para o conhecimento de todos.

Estamos falando do filme “O Escritor Fantasma”. Brilhante! Como jóias são as atuações de Ewan Mcgregor, Pierce Brasnam, Kim Cattrall e Olívia Williams. O autor da história é Robert Harris e a produção e direção do áureo Roman Polanski (só isto já basta e serve como motivação para ser assistido).

É suspense do primeiro ao último instante. É suspense clássico, inteligente, à moda de Alfred Hitchicok. O filme suga nossa atenção do início ao final. O cenário faz parte como elemento para este estado psicológico de interesse e apreensão. Ele beira à nostalgia, melancolia (estado da esposa do ex-político, que se vê assim refletido no meio físico e geográfico do filme) e solidão. Solidão de cada uma das personagens do drama.

A pergunta que se tornou comum quando se assiste a qualquer dramaturgia, qual seja, ‘A Arte imita a Vida, ou é esta que imita a Arte?’ é respondida na entrevista dada por Robert Harris. Ele diz que tinha a história projetada em sua mente, mas que não sabia precisar o período histórico em que ocorreria. Sua angústia findou quando em 2006 a mídia bombardeou revelações sobre proeminente sujeito histórico europeu (aqui deixamos mais um incentivo para que, além de assistir ao filme, aprecie-se também a fala do autor na seção dos extras) envolvido em escândalos políticos. O próximo passo foi encaminhar o enredo a Roman Polanski. O produtor e diretor com maestria soube transportar o contexto do enredo político para a dimensão cinematográfica. Foi com competência à altura do autor, do produtor e diretor que os atores também encarnaram suas personagens.

Em suma, perde quem ainda não teve oportunidade de assistir ao ‘Escritor Fantasma”. Quem o fizer terá quase dois pares de horas com distração de qualidade, informação com as entrevistas dos dois gênios que souberam contar, produzir e dirigir o filme. Além de ser motivado a refletir sobre a ação e intenção daqueles que elegemos para nos representar na vida real, na vida pública.

LL. Bcena, 02/2011.

TEXTO 09 - CADERNO: VOLTANDO PARA CASA.

Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 07/02/2011
Reeditado em 22/05/2012
Código do texto: T2778262
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