Há quem em nome da poesia cometa incongruências e  esqueça do que, em verdade, é poesia. 
 
O POETA É UM MÁGICO 

Por trás de cada mágica há um segredo real a ser desvendado, e, quando isso acontece... perde-se o encanto, o mistério desvendado deixa de ser.  

A mágica tem por base o concreto; o real transformado em ilusão – engodo para o imaginário;
 
No texto Autopsicografia do poeta, Fernando Pessoa, se encontra a definição poética sobre quem a escreve – um fingidor. 
 
O poeta é um fingidor. 
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor 
A dor que deveras sente. 
 
E os que lêem o que escreve, 
Na dor lida sentem bem, 
Não as duas que ele teve, 
Mas só a que eles não têm.
 
E assim nas calhas de roda 
Gira, a entreter a razão, 
Esse comboio de corda 
Que se chama coração.
 
O poeta é um mágico, sim! Vivencia - no imaginário - o desejado. Tem a oportunidade de, através dos  seus  escritos viver vários personagens, ter todos os amores, ir a lugares inusitados. Porém, há uma grande diferença entre  surrealismo, estruturações metafóricas e  incongruências poéticas. 
Mesmo quando, a poesia  é denominada “Poesia Loucura", o seu autor  é sábio na estruturação de suas idéias. 
 
Exemplo de incongruência: (...) Um tremor se apossa de nossas almas.  (autor desconhecido). 
 
A alma não treme. E, sim, a carne, o corpo, através da agitação da alma. 
 
2º exemplo: Observe os versos à seguir:
 
  É algo animal... 
  É simplesmente espiritual... 
  É incrivelmente sensual... 
 
É algo animal:  o sexo animal, desvairado, não condiz com a expressão: “é simplesmente espiritual.” Porém, se encaixa com: É incrivelmente sensual. Pode-se abolir o 2º verso por completo, em nada faltará.
 
 
No Jornal da UBE “O ESCRITOR” de Nº 122 /Dez 2010, na página 14 escrita pela  poetisa e dramaturga Renata Pallottini encontrei uma frase em coerência  com este contexto: 
“ Nada do que é conhecido e desejado comumente é o que deseja o Poeta.”  
 
Enfatizo  uma colocação igualmente coerente,  do francês Aléxis Saint-Léger 
31/5/1887-20/9/1975 -.  (Saint-John Perse) Pseudônimo do poeta e diplomata francês  Prêmio Nobel de Literatura de 1960, tem a obra marcada pela riqueza de imagens. Aléxis Saint-Léger nasceu  em Saint-Léger-les-Feuilles, em Guadalupe, no ano de 1884:
 
"(...)A poesia não pode repetir o que já conhecemos, ainda que o faça de maneira a produzir Beleza. A poesia deve ser portadora da novidade, do desconhecido, do ainda apenas entrevisto(...)” 
( Alexis Leger)
 
As ricas metáforas de Alexis Leger:
 
POESIA DE EXÍLIO
 
“Eu edifiquei sobre o abismo 
e o nevoeiro
e o fumo das areias
Nas cisternas me deitarei
e nos navios côncavos
E em todos os lugares vãos e insípidos
Em que jaz o gosto da grandeza...” 
 
(Saint-John Perse)
 
A metáfora bem estruturada nos conduz ao mundo da magia:(...) Mergulho em teus olhos, (...)  
 
Jamais poderemos mergulhar nos olhos de alguém. Porém, o poeta é um mágico que, muitas vezes faz do surreal, real e mergulha, metaforicamente onde quer - digo, metaforicamente, jamais incongruentemente. 
 


 
 


EstherRogessi
Enviado por EstherRogessi em 03/02/2011
Reeditado em 10/04/2016
Código do texto: T2769155
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