DEUSES E DIVINDADES DO EGITO
A trigésima primeira dinastia dos faraós egípcios terminou em 332 Antes de Cristo, quando Alexandre o Grande invadiu o Egito e sem guerra destronou o enfraquecido Artaxerxes III, último faraó legítimo. Alexandre acabara com o legado de 31 dinastias onde os reis eram chamados de faraós e onde o povo viva a ferro e fogo!
Depois dos faraós o Egito se viu governado pelos greco-romanos, macedônios, ptolomaicos e finalmente dominado pela máquina mais poderosa da terra na época, sucumbiu diante de Roma, ficando quase 2 mil anos sob domínio estrangeiro e vendo a sua rica história ser degradada. Todo tipo de maluco tirou sua casquinha do velho e surrado Egito; até Napoleão meteu o bedelho e ficou por lá um tempinho, mas os ingleses, de olho nas riquezas; tiraram os intrusos e foi ficando, ficando até tomar posse também; e somente em 1922 é que de fato, ou fantasia, o Egito fora novamente devolvido aos egípcios!
Mas somente em 1953 é que de fato proclamaram a República do Egito, como conhecemos hoje. Com tudo isso e depois de ter passado por poucas e boas o povo egípcio jamais viveu em completa harmonia. Se na época dos faraós, que eram genuinamente da terra, eles já não tinham paz e prosperidade, imaginem depois de tantos intrusos querendo o controle das riquezas naturais do país? É difícil acreditar que alguém nestes mais de 5 mil anos de história tenha querido o bem estar do povo!
Os últimos a criarem problemas com guerras no Egito foram os israelenses, mas desde 1979, após um tratado de paz histórico, que os dois não se entram em choque. Quem assinou o tratado de paz e governou o Egito foi Anwar Al Sadat, que morreu assassinado e foi sucedido pelo militar da força aérea egípcia Hosni Mubarak desde 1981 e onde está ocupando posto de governante até hoje, 30 anos depois; Mubarak o homem que criou a 32ª Dinastina e pretendeu ser também um Faraó!
De 1981 até 2003 os egípcios não tiveram muita força para reclamar; se de um lado havia uma crescente miséria se alastrando por um país que jamais foi grandioso desde a época dos faraós, havia também uma eminente promessa de dias melhores, porque Mubarak para a maioria era como um grande pai, que tinha acesso firme com os árabes da Ásia e África, laços comerciais com a Europa e uma atração querida com os últimos cinco presidentes dos EUA. O sofrimento popular era sempre contido com uma esperança de o Egito voltar a crescer e ser um paraíso africano.
Mas depois de 2003 os graves problemas, atentados a bomba e outros distúrbios de ordem social fizeram surgir os primeiros rumores claros de se querer mudança; as pessoas começavam a se manifestar através de reuniões populares cada vez maiores e logo uma espécie de partido político, o Movimento Egípcio pela Mudança, começou a ganhar mais notoriedade e força nas ruas de todas as cidades do país. O Cairo já não mais via somente peregrinações de turistas que visitariam seus monumentos milenares; as ruas da capital passava a abrigar milhões de pessoas, que gritavam palavras de ordem exigindo que a democracia de fato existisse e não mais toleravam Mubarak por tanto tempo a frente do Palácio Abdeen.
Hoje o Egito tem quase a metade da população brasileira, cerca de 90 milhões de habitantes; é o mais populoso país africano e de tão importante, não só para a cultura do mundo, mas também para a economia, devido a seu petróleo e seu controle do Canal de Suez, fica cada vez mais evidenciado que um distúrbio naquela região provocaria conseqüências trágicas pelo resto do mundo.
O que mais preocupa o mundo atualmente, com relação ao futuro do Egito, é que seu comando seja conseguido através da força e que seja administrado por alguma facção política islâmica radical. Muitos fundamentalistas ligados as milícias criminosas da Al Qaeda de Bin Laden, estão radicados em solo egípcio e só esperam a hora certa para darem o bote no regime de Mubarak e uma lição ao resto do mundo; portanto se conclui que o povo egípcio e o restante do mundo estão diante de um dilema e como se diz no ditado oriental, estão correndo de um tigre, numa estrada cercada por um rio cheio de piranhas.
Analistas acreditam que a presença de Mubarak no poder pode gerar certo conforto para o mundo, pois ele possui laços estreitos com a diplomacia internacional, gozando de certa credibilidade até mesmo no Conselho de Segurança da ONU, mas não é isso que estão pensando os milhões de manifestantes que deixaram o Egito em estado de alerta máximo nos últimos dias. O povo foi às ruas como jamais se havia visto antes e promoveu a maior confusão nas grandes cidades, inclusive a maior delas, o Cairo, que hoje tem cerca de 10 milhões de pessoas vivendo.
O tumulto generalizado que chama a atenção do mundo e para forçar Hosni Mubarak a deixar o poder já deixou cicatrizes gravíssimas, como hoje a invasão do Museu do Cairo, onde peças expostas que pertencem a quase todas as dinastias dos faraós foram saqueadas ou danificadas; uma cena curiosa chegou a ser observada durante a baderna criminosa; pessoas comuns dando os braços umas as outras fizeram um cordão de isolamento para impedirem os saques das peças de valor inestimáveis. Outro importante sítio arqueológico, onde ficam as pirâmides, foi atacado e as conseqüências ainda não puderam ser medidas, porque andar no Egito agora sem a proteção do exército é suicídio!
Muhammad Hosni Said Mubarak é considerado um militar de linha dura; blogs ligados a juventude universitária egípcia o traduzem como um novo Hitler; eles também afirmam que o presidente sempre quis ser uma espécie de Faraó, que é equivalente a Rei; alguns sites dizem que Mubarak implantou a trigésima segunda dinastia e pretende ficar no Poder até a sua morte; e também diz que ele já preparou uma linha sucessória familiar o que de fato perpetua a linhagem à frente do Egito pelas próximas gerações.
Nas ruas a polícia mata e reprimem com forte violência os protestos, já o exército que é leal a Mubarak, posiciona-se de forma quase passiva. A imprensa internacional que está no país desde o início dos violentos protestos afirma que bancos, supermercados e grandes redes de mercadorias já foram saqueados e que boa parte da população já não tem o que comer nem água para beber.
E o que o mundo pode fazer agora? Acredita-se que tropas internacionais já estejam em alerta máximo para, se possível, invadir o Egito e conter as manifestações; isso seria um apoio evidente a ditadura Mubarak e poderia gerar outras conseqüências pelo mundo árabe. Por outro lado, se ninguém fizer nada agora, pode ser que estejamos diante de outro dilema: o sumiço por completo de um local tão importante para todos, que poderia ser o fim pela busca de muitas respostas acerca do início da humanidade; sem querer ser dramático, mas eu afirmo que isso pode ser o início do fim!
No Egito estão mais do que lindos e imponentes monumentos históricos; naquele chão há mais mistérios e respostas do que em todos os outros locais do planeta reunidos e não se pode acreditar ou deixar que a vontade de poucos coloque este tesouro em risco. Para os fundamentalistas ignorantes e lesados de juízo, pouco importa se as pirâmides fiquem ali ou virem um condomínio residencial moderno; pouco importa se as águas do Nilo servem para tantas outras partes da Terra ou se serve apenas para o sustento do próprio país.
Os esforços diplomáticos do todo o mundo devem sim desembarcar imediatamente em solo egípcio e garantir ao povo que deseja mudança, uma transição democrática e razoável, permitindo que um novo governante seja empossado, mas que este também seja o fiel da balança, entre os anseios populares e pela paz que tanto se espera daquele entorno geográfico.
A missão é pra lá de difícil, sabemos disso; os mulçumanos mais radicais esperam que haja uma guerra e que vença o mais forte, desde que o mais forte seja de sua coligação; porque se o mais potente for contra seus ideais, que seja declarada nova guerra!
Não há necessidade de haver guerra; o que se necessita fazer agora pode parecer impossível, mas deveríamos tentar colher no deserto aquilo que jamais plantamos. Os grupos fundamentalistas crescem cada vez mais, porque está a deriva há séculos; porque nenhum governo de credibilidade tentou ajudá-los sequer para matar a fome de seus filhos ou ainda porque seus nomes sempre foram pronunciados como sendo uma ameaça.
O Governo atual se quiser ter a paz interna e amar de fato o país deve ceder um pouco; eles deveriam criar alternativas mais viáveis de diálogo com o povo, como por exemplo, a participação de líderes políticos nas decisões legislativas e executivas. Conhecer estas líderes que fariam a ligação popular ao Poder já deu lições importantes de pacificação, como a junta governativa que se implantou no Iraque depois de Sadam Hussein. Pode até demorar mais um pouco, mas este dilema que Mubarak por o Egito precisa ser encerrado.
Cortar comunicação e reprimir com mortes as manifestações todos nós já sabemos no que vai dar; fechar as portas do palácio e fingir que nada está ocorrendo, isso também não funciona; mas fugir da responsabilidade que ele próprio quis para si há 30 anos, pode ser a alternativa mais fácil, porem deixará o mundo inteiro a mercê da regra em que a religião comanda os destinos e isso é além de lamentável, desastroso!
Resta-nos esperar para ver como se encerra esta novela egípcia; se haverá novamente outro Alexandre, ou se Mubarak se tornará o mais novo Faraó da 32ª Dinastia; a mais nova divindade das bandas de Alexandria até Abu Sunbul; deixando bem claro que os lobos ao redor do Egito estão de olhos arregalados, que o digam o Sudão, a Líbia e Israel; esperando também se desta brincadeira de mau gosto haverá mortos, feridos ou ambos!
As múmias devem estar se revirando dentro de seus sarcófagos!
Carlos Henrique Mascarenhas Pires
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