Qual sua vocação?
A minha vida toda desejei ser jogador de futebol, craque da seleção, camisa 10, o substituto do Zico, quem sabe...
Depois de encontros e desencontros descobri que apenas desejar não ganha jogo. É preciso muito mais: perseverança, coragem, dedicação e disciplina. Alguns anos depois pensei em ser biólogo, mas constatei também que apenas pensar não leva longe. Atento a frase de que “querer é poder” apostei em cheio, talvez levado pela paixão ao esporte, em Educação Física. Entretanto, algum tempo depois o velho fantasma do futebol voltou a me assombrar: eu definitivamente não apreciava correr, fazer exercícios e ter disciplina, características imprescindíveis para quem quer ter sucesso nessa área. Aprendi com isso que “querer” nem sempre é poder. Eu mesmo queria tanto, mas apenas queria e nunca tinha nada. Falta de foco? Pode ser, aliás, não apenas de foco, mas de perseverança, coragem, dedicação...
Ante a tantas escolhas equivocadas sentia-me perdido além de preocupado, afinal todos ou pelo menos todos que eu conhecia diziam ter uma vocação. Por que a minha não aparecia? Por onde ela andava? Seria eu uma espécie de jovem sem vocação?
Bem, um belo dia minha saudosa avó deu-me um simples conselho, porém efetivo:
“ Filho, esqueça um pouco a busca pela sua vocação e procure fazer as coisas com amor. Lembre-se, primeiro o amor e no futuro quem sabe sua vocação aparece”.
Achei estranho aquele conselho. O que o amor tinha a ver com a vocação. Amor apenas nos relacionamentos, pensava eu do alto de minha ignorância. No entanto, quando o desalento nos assola a alma perdida no oceano da vida costumamos abraçar a primeira bóia que nos aparece. Segui o conselho daquela sábia senhora e decidi fazer as coisas com amor. Bingo, ela tinha razão!
Encontrei um trabalho de vendedor e inseri amor naquela profissão. Posso não ter sido um vendedor camisa 10, mas fiz o melhor que pude. Resultado: sucesso pessoal. Sentia-me feliz, realizado, satisfeito... Depois veio a paternidade e repeti com meus filhos a tática do amor. Com certeza não fui nem sou o melhor pai do mundo, contudo o exercício constante do amor ajudou a dirimir minhas gritantes limitações. Alguns anos mais tarde resolvi estudar Administração de Empresas e fiz o curso com amor. Resultado: satisfação pessoal. Nesse ínterim eu já não me lembrava de procurar minha vocação. Havia esquecido completamente aquela paranóia de procurar a profissão perfeita que me realizaria para todo o sempre. Até que a vocação me achou. Eu não a achei, mas ela me encontrou. Você deve estar se perguntando qual é a minha vocação. Pouco importa. O mais legal foi aprender graças ao conselho de minha avó a ter disciplina, perseverança, coragem. Nada mais natural, ao fazermos as coisas com amor tudo o mais vem por acréscimo. Perseverança, coragem e dedicação são filhas do amor.
Alguns jovens ficam aturdidos quando o assunto é vocação e, naturalmente, a escolha do que querem fazer profissionalmente. Independentemente de qual for nossa vocação, se encontramos ou não é fundamental realizarmos o que nos compete com amor, porque assim certamente mesmo que não encontremos nossa vocação iremos nos desenvolver em alguma área do conhecimento o que propiciará algo muito mais importante do que o sucesso profissional: o crescimento como ser humano.