TEMPO, POSTERIDADE E POESIA

Mais uma vez estamos expostos em praça pública. Sim, porque expor o livro ao mercado de consumo é um desafio. Chegar à materialidade do bem com ares de profissionalismo é produto de competência da equipe e de bem-querença. Ainda mais numa obra como esta, que comemora os 42 anos de vida da Casa do Poeta Riograndense, nascida em 24 de julho de 1964. Chegamos com a sola gasta e vestes rotas de tanto andar pelos caminhos.

Sobrevivemos em Porto Alegre, megalópole no Rio Grande, tão diversa dos anos sessenta, quando a CAPORI veio à luz pelas mãos de idealistas capitaneados por Nelson Fachinelli, que acaba de passar para a outra margem da vida no último abril, a 26. Uma entidade associativa que tem mais de 1.500 sócios é digna de nota e, no mínimo, de respeito. Nesta casa de aprendizes de feiticeiro tudo é fruto do esforço coletivo.

Este livro é produto da cooperação dos que o representam, em verso e prosa. Alguma poesia a mais para o registro do tempo de viver. Sonhos de amor e paz. A vida simples do povo sendo registrada para a posteridade. Lavramos nossas searas com música, dança, poesia e arte plástica. Estão aí as promoções que as recolhem: o Cafezinho Poético-Musical, o programa Vozes da Cidade e a EXPOESIA. Tudo produto cultural popular.

A vida se recria a cada página desta obra. Comprova-se que ainda há lugar para a poesia no século XXI. E que se acredita nela. Como no início dos tempos, quando os gregos a cantavam nos jardins de Academus e nas salas prenhes dos que tinham acesso à metáfora. E lá só havia lugar para os senhores do poder e da economia. Os plebeus ficavam de fora, porque nem sabiam ler, quanto mais interpretar os códigos verbais. Nós entendemos que é preciso democratizar o poema, para que a Poesia continue respirando em nosso tempo, haurindo saudade, amor e liberdade.

Mario Quintana, nosso patrono espiritual, o grande feiticeiro, é oriente de sabedoria. Deixou para os pósteros o traço genial de sua verve. Esta obra nasce como memória e homenagem aos seus 100 anos.

- Prefácio à Coletânea dos 42 anos da Casa do Poeta Riograndense, entidade-líder da POEBRAS, sediada em Porto Alegre, RS.

– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre a Prosa e a Poesia, 2006 / 2008.

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/275670