Crítica ao português dos jornais no Brasil
Sábado passado, publiquei um texto no qual chamava a atenção para alguns erros de português num artigo de jornal. E num jornal de escopo nacional, diga-se de passagem.
Não sou purista e não sou de criticar pessoas só porque escrevem errado, ainda mais porque minha escrita não está livre de erros: não tenho ninguém para revisar o que escrevo, vivo fora do Brasil há alguns anos e estou constantemente sob a influência de várias outras línguas.
No caso de um jornal, no entanto, por ser um meio de comunicação nacional, e que certamente poderá ser usado por algum iniciante como modelo de ‘boa’ escrita, bom, nesse caso não pude me calar, pois quem cala consente e com tal coisa não posso compactuar.
Não sei você, caro leitor/a, porém EU espero que as pessoas que escrevem para um ‘grande’ jornal sejam, no mínimo, profissionais, e se não o forem, há muito o que se desconfiar da qualidade do produto. Um escritor ou jornalista que não domina o seu instrumento de trabalho, a língua na qual escreve, não é digno de respeito, confiabilidade e consideração por parte do leitor.
Alguns poderão julgar-me radical neste ponto; não me importo. No tocante a profissionalismo é assim que eu penso: alguém é profissional ou não é, dispensando o uso de ‘bom’ ou ‘mau’ para rotular.
Pois bem, a maioria das pessoas que escreve hoje na internet, incluindo eu, são cidadãos comuns — está certo que há psicopatas também; é preciso aprender a reconhecê-los para mantê-los à distância e denunciá-los à sociedade se forem perigosos. — Sim, mas deixando os perturbados para lá, as pessoas comuns, creio eu, não esperam servir de modelo de escrita nem deveriam ser tomados como tal, o que não significa que devam descuidar do português.
Erros ‘aceitáveis’ em textos de ‘amadores’, que muitas vezes representam o ‘falar comum’ em contextos informais, não devem ser tolerados em textos escritos por ‘profissionais’ em contextos sérios ou formais. Daí a razão da minha crítica aos jornais.
É triste ver o que tem ocorrido com o português do Brasil. Basta prestar um pouco de atenção na confusão que se vê na mistura do uso de pronomes ‘tu’ e ‘você’ pra se ter uma idéia do quanto a mídia influencia mal o ‘desenvolvimento’ da língua.
Outras línguas sofrem do mesmo problema — o italiano moderno, por exemplo, porém a questão aí é outra, dado a variedade de dialetos históricos da região. No caso do espanhol/castellano, resta ainda uma certa ordem — muitos espanhóis usam corretamente ‘tu’ e ‘vosotros’, o que há muitos anos parece já ter sido abolido no português do Brasil. Pelo menos é o se lê nos livros de português para estrangeiros que tenho encontrado por aqui.
Com o passar do tempo, a tendência é que normalizem os fenômenos lingüísticos típicos de cada região, a exemplo do chamado ‘voseo’ latino-americano, resultado da mistura de pronomes ‘tu’ e ‘usted’ (você) e outras características mais, algo semelhante ao que se vê hoje em muitas variantes do português no Brasil.
No meu tempo de escola fundamental, lembro bem que a professora costumava dizer: “Agente não faz nada, nós fazemos!”. Hoje em dia é mais fácil “aprender japonês em braile” do que tirar o ‘agente vamos’ do repertório nacional.
Como já disse, não sou purista, porém acho que nós que escrevemos, amadores ou profissionais, deveríamos ter mais consciência de como podemos estar contribuindo, bem ou mal, para o desenvolvimento de nossa língua. Quem ama, cuida, preserva, e pensa nas futuras gerações.
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