A Sustentável Leveza do Ser
Fagner Roberto Sitta da Silva
Gostaria que os meus escritos tivessem a leveza como grande qualidade. Que fossem feitos de palavras simples e lidos com o sabor que há no ato de beber água da fonte nas conchas das mãos.
Guimarães Rosa costumava dizer que na vida devemos ser “lépidos, límpidos e luminosos”.
Essa reunião de três adjetivos mostra um caminho para que possamos nos tornar seres melhores. Começarei com os significados dos três adjetivos. Lépido, segundo o pai dos burros, quer dizer ligeiro, jovial, de bom humor e gracioso. Límpido significa nítido, puro, polido, claro e ingênuo. E, por final, luminoso é o que imite luz, iluminado, ilustre, glorioso, etc.
Vejo a junção destes três adjetivos como um constante aprendizado. Um aprendizado que é o resgate de uma leveza que parece ser natural das crianças, a que com o tempo perdemos.
Ainda mais nos tempos em que vivemos onde as pessoas parecem não se importar muito com isso, pois o que importa hoje é ganhar a competição, qualquer que seja, não importando os meios utilizados.
As pessoas estão pulando na jugular das outras, e é necessário ver que precisamos de certa leveza para não enlouquecermos.
Sabemos que estamos ficando impacientes, indelicados, intolerantes e outros maus adjetivos pelo fato de que precisamos ser os vencedores.
Gosto das redes sociais por poder ver o que os outros pensam ou agem, não para bisbilhotar a vida alheia. Vejamos um exemplo de indelicadeza retirado do nome de uma dessas lotadas comunidades orkutianas chamada Odeio gente lerda. Acho isso o cúmulo da ignorância o não saber esperar o tempo dos outros.
Sem saber vamos cultivando a intolerância e prefiro nem pensar onde acabaremos se isso continuar. Para quem acessa essas redes sociais há uma infinidade de outros exemplos que podem ser garimpados digitando a medonha palavra odeio.
Talvez isso que eu esteja falando pareça um monte de bobagens, mas gostaria de saber o que o leitor acharia se eu dissesse que precisamos ser, urgentemente, mais educados, tolerantes, delicados, ternos… Gostaria de saber como essas palavras soariam dentro do leitor. Se elas seriam bem ou mal recebidas.
Precisamos ser urgentemente mais delicados. Apesar de sentir que as pessoas vão torcer o nariz ao ouvir isso, só que há mesmo uma urgente necessidade de leveza, ou de delicadeza, pois a vida nos sufoca, há violência lá fora, as pessoas não são agradáveis, não há confiança e o mundo parece cair sobre nossos ombros.
É curioso mas se pegarmos uma frase do poeta Affonso Romano de Sant’Anna para analisar iremos ver que “a delicadeza tem a ver com a lentidão. A violência tem a ver com a velocidade.”
Vejo que estamos querendo que as pessoas daquela comunidade que falei acima, e que vivem com um relógio que marca as horas de uma forma diferente, acabem se tornando velozes, ou ferozes, como nós. Mas, se elas ficarem assim, igualzinhas a nós, isso não quer dizer que iremos amá-las.
Não digo para que sejamos delicados ao ponto de nos tornamos falsos. Não. Necessitamos de certa leveza de espírito que faça com que resgatemos a nossa face mais humana, isso porque a humanidade no fundo é boa, apesar dos muitos que discordem disso.
Ultimamente acho que só a arte mesmo para dominar a fera que existe dentro de cada um nós. E não falo isso pelo fato de escrever, de desenhar ou de tocar um instrumento. Como artista, sei que esse mundo é caótico e sem explicações. Mas a arte tem o poder de nos educar e de fazer com que fiquemos mais humanos.
Sei que ela não cura dor de dente, não cura a queda de cabelo, unha encravada e outros males. Mas acredito na arte como um modo de poder compreender a vida, de ver que ela é maior do que me é apresentada. E sem a presença dela a minha vida seria bem menor.
E é claro que existem outros modos de tornar a vida mais leve, só que o importante é saber que estes meios devem torná-la melhor e não ser um modo de escapar dela.
Então, não percamos tempos, sejamos delicados. E nestes tempos difíceis, poderemos até, como disse um Che Guevara, “Endurecer, sem jamais perder a ternura”.
Tentemos nos tornar mais lépidos, límpidos e luminosos, apesar dos pesares. E , quem sabe, possamos chegar numa delicadeza que se aproxime da de um São Francisco de Assis ou de um Gandhi. Bom seria se fôssemos delicados tal qual Jesus Cristo é descrito nos quatro evangelhos, ou que cheguemos no ideal de pureza que este falou numa das passagens do evangelho de Mateus: Quem se faz pequeno como esta criança, esse é o maior no Reino dos Céus.
Crônica publicada no meu blog "Tempus Fugit" hospedado no Portal de Garça: http://www.blog.portaldegarca.com.br/fagnersitta/2011/01/08/a-sustentavel-leveza-do-ser/#more-336