Erros de "Passione"...
Escrever ou não escrever minha avaliação da novela Passione? Eis a dúvida que me acompanha há três dias, desde que assisti ao último capítulo... “Ok, você venceu, batata frita!” E lá vou eu “gastar meu latim”... lembrando que é apenas minha opinião pessoal como telespectadora – telespectadora esta que por sinal não teve paciência para acompanhar fielmente a este folhetim. E este artigo explica o porquê...
O autor e o diretor da novela “Passione” já começaram errado ao escalar o elenco. Ora, Gianechinni no papel de vilão? Por que não Wagner Moura ou Thiago Lacerda? Nada contra o Giane, rapaz bonito e esforçado, fez cursos ‘fora’ tentando aprimorar a arte da atuação... mas sinceramente, como vilão ele NÃO convence. Da mesma forma que Carolina Dickman não convence como ‘mocinha’. Penso que alguns atores devem ser escalados apenas para personagens com os quais sua personalidade real tenha alguma identificação... Assim, Giane deve ser sempre o bom moço, da mesma forma que Dickman e sua dose de arrogância combinam mais com a ‘menina malvada’. O mesmo erro aconteceu em “Viver a Vida”, pois Taís Araújo no papel de mocinha não combinou... tanto que Aline Moraes cresceu nesta novela, levando “Luciana”, de garota mimada e intransigente, ao papel da boa moça. Afinal, mocinhas são meigas, divertidas e ganham o público!
Voltando à Passione, já que Gianechini não convenceu como malvado, então Sílvio de Abreu foi obrigado a inventar uma desculpa para a falta de caráter de Fred... e assim foi criada no meio da novela uma história de vingança pelo sofrimento de seu falecido pai Lobato. E vimos ainda que no último capítulo Fred assumiu o “papel” de garoto injustiçado... ah Giane e sua cara de bonzinho! É assim que se acaba com um vilão: escalando o ator errado!
Só lembrando que gosto muito de Gianechinni, mas um papel forte como vilão, ele não “segura”... mais uma vez digo: repensem as cenas com o Wagner Moura como Fred... teria sido show!
Referente a personagem Diana, o autor perdeu uma ótima oportunidade, no meio da novela, de ter desmascarado os verdadeiros planos da jornalista, quando ela retomou o romance com Mauro justo no momento que ele tornava-se Presidente da empresa. Aquele era o momento de mostrar uma garota interesseira, disposta a subir em sua carreira a qualquer custo... Mas não... ele insistiu que Diana era a “boa moça”, e contrariando todo o público, tentou tornar Melina a vilã. Erro fatal, que foi remediado no final da novela, pois todo o público viu – só o autor demorou a ver e aceitar – que o verdadeiro par romântico de “Passione” foi Mauro e Melina – respectivamente Rodrigo Lombardi e Mayana Moura, dois atores revelação em seu talento!
E como li hoje na Internet em um comentário postado no orkut: “Até a Lurdinha se destacou mais que a Diana” (risos). Se bem que ao criar a personagem Lurdinha, o autor Sílvio de Abreu fez plágio de si mesmo, pois basta puxar um pouquinho a memória para lembrar do jargão “Cala a boca, Luzineide!” na novela Torre de Babel, exibida em 1998/99. O jargão era usado pela personagem de Cláudia Jimenez, falando com sua amiga Luzineide que entrou muda e saiu calada na novela, mas tinha fama de tagarela na trama, entre os demais personagens de seu núcleo. Como foi divertido em 98... mas copiar agora em Passione não caiu bem.
Voltando à questão de que alguns “atores” só deveriam fazer papeis parecidos com sua real personalidade, é preciso destacar que atores “de verdade” encaram qualquer papel com maestria: do mocinho ao vilão, do operário ao intelectual, do assassino ao bom moço... E claro que neste caso estou falando de Tonny Ramos; e sua trajetória nos mostra quão grande é seu talento! Considero Tonny Ramos o MELHOR ator brasileiro de todos os tempos! Quem não lembra do verdureiro Juca em “A Próxima Vítima”, novela de sucesso de Sílvio de Abreu; e depois Tonny Ramos como o intelectual Miguel, dono de uma livraria chamada Dom Casmurro, em “Laços de Família” de Manoel Carlos... E em outra novela de Sílvio de Abreu, “Torre de Babel”, Tonny Ramos deu vida a José Clementino, que tomado de ciúme matou a esposa agredindo-a com uma pá? E o que falar do grego Nikos contracenando com Glória Pires em “Belíssima”, outra novela de Sílvio?
Quanto à atuação de Tonny Ramos, meus aplausos e elogios! Também meus aplausos a Sílvio de Abreu, nas novelas citadas acima... Porém, em "Passione", a escolha pelo núcleo italiano é que não caiu bem... aliás, por favor, CHEGA de italianos em novelas! Ou melhor, chega desse sotaque ridículo misturando italiano com português! Essa mistura pode ter dado certo no passado – quem não se lembra de “Terra Nostra”? – mas agora já cansou! Por mais que as cenas gravadas na Itália tenham trazido belíssimas paisagens, por que não investir na pesquisa e apresentação de outras culturas e etnias? Em vez de “Passione” em italiano, a novela poderia ter sido “Passión” em espanhol... poderia ter sido ambientada em Madrid, por exemplo... ou em qualquer outro lugar e cultura que não a Itália novamente! – Não é à toa que as novelas de Glória Perez sempre se destacam, uma vez que INOVAM. Quem não lembra da novela ”Explode Coração” retratando a vida e cultura do povo cigano? E o que dizer do grande presente ao público brasileiro, a novela “O Clone”, apresentando-nos o Marrocos e a cultura muçulmana? Glória nos mostrou que inovação e criatividade são possíveis nos folhetins.
Outro erro de Passione foi o fato de tentar ‘remendar’ a história no final. Tentaram fazer o telespectador acreditar que tudo já estava traçado desde o primeiro capítulo; sendo que quem acompanhou a história certamente percebeu que o assassinato de Eugênio e de Saulo NÃO estavam programados... foi apenas uma tentativa desesperada de recuperar o interesse do telespectador, tentando repetir o sucesso da incógnita “Quem matou Odete Roitman?”, na novela “Vale Tudo” de Gilberto Braga, em 1988/89.
O que acredito que estava traçado, era a “dupla bandida”, formada por Clara e Fred. Talvez inspirando-se nos trabalhos de Gilberto Braga, a exemplo de Cláudia Abreu e Márcio Garcia formando uma “dupla bandida” em “Celebridade”; e Glória Pires interpretando a malvada “Fátima”, que agia em companhia de seu amante e comparsa César, vivido por Carlos Alberto Riccelli em “Vale Tudo”.
Mas desta vez, em Passione, a dupla de malvados não deu certo... Também pudera, Gianechinni malvado? Realmente não "colou"... por isso tentaram de todas as formas arrumar outro parceiro para Clara. Primeiro apostaram no Danilo (talentoso Cauã Reymond!), mas ele tinha outra história para defender... depois tentaram o Diogo, que no final não era bandido, e sim policial – e aí sim “tiro o chapéu” para Sílvio de Abreu, uma surpresa bem montada (e provavelmente copiada de Hollywood, a exemplo do filme “Não Fale com Estranhos”, onde o telespectador passa o filme todo com medo cada vez que aparece o personagem de Antonio Banderas abordando e assediando a psicóloga interpretada por Rebecca de Mornay, e só no final descobrimos que Banderas era o policial investigando o caso de um possível assassinato cometido pela ‘mocinha’, que não era tão indefesa assim...).
Pegando carona na citação da personagem de Cauã Reymond, o drogado Danilo, no final, no momento dos beijos entre os casais, Danilo que não formou par romântico aparece ao lado de sua carinhosa avó Beth Gouveia... mais uma cena que ‘não colou’, uma vez que vovó Beth estava sempre preocupada com os interesses financeiros de sua família, sempre envolvida com a guerra travada dentro da “Metalúrgica Gouveia”, e pouco se preocupou com o drama envolvendo o neto e as drogas, durante a trama... Mas meus aplausos à Fernanda Montenegro sempre!
E como não falar do “Segredo de Gerson”? Eu tenho apenas uma única palavra: decepcionante! Eu esperava que no final Gerson fosse, pelo menos, o assassino do irmão Saulo e do pai Eugênio... durante a trama imaginei que ele nutrisse algum tipo de sentimento insano pela própria mãe; uma espécie de “complexo de Édipo”... e que isso o levasse a ter comportamentos sexuais inadequados, como ter estuprado Felícia no passado – o que teria garantido final feliz para Felícia ao lado de Totó – e até mesmo a possibilidade de Gerson matar membros de sua própria família por ciúme doentio de sua mãe, e ao mesmo tempo tentando manter seu segredo em sigilo... Pensei até que a vida de Diana fosse correr perigo quando ela descobriu o segredo vendo o misterioso computador, que na minha imaginação, poderia muito bem conter fotos-montagem de Gerson e sua mãe ou outras coisas sórdidas deste tipo... Sei que minha imaginação viajou e que a sugestão seria até mesmo “nojenta”, mas o autor afirmava que o segredo de Gerson era algo nunca antes abordado em nenhuma telenovela... Para ser sincera, penso que nem ele sabia qual era o segredo... deixou para inventar depois e ‘deu no que deu’. Decepcionante!
Outro erro grave, foi no meio da novela mudar o nome e a nacionalidade de um personagem. De repente, do nada, o brasileiro Antero passou a ser o italiano Giovani. Aí inventaram uma história para justificar a mudança... mas esse é o tipo de segredo que já é apresentado ao telespectador desde o início da novela... o telespectador deveria saber que havia algo de "errado" com o personagem Antero... criar um misterio em volta disso... Mas não foi isso que aconteceu. Foi uma mudança de repente, "sem pé nem cabeça"!
Mas entre tantos erros, o mais grotesco foi o triângulo formado pelo italiano Berilo e suas duas esposas. Gostaria de salientar que Bruno Gagliasso é um ator de grande talento; afinal, quem não lembra do personagem Júnior abordando o tema homossexualidade em “América”? Ou o esquizofrênico Tarso de “Caminho das Índias”? Gagliasso, grande talento desperdiçado em Passione! Já Gabriela Duarte teve oportunidade de brilhar, fazendo enfim uma personagem diferente e arrancando gargalhadas do público. Parabéns a Gabriela Duarte por sua atuação! E quanto a Leandra Leal, é outra atriz que sempre nos brinda com ótimas atuações, quem não se lembra da doce e meiga Bianca de “O Cravo e a Rosa”? Ou a revoltada Maria Cláudia contracenando com Renata Sorrah no papel maravilhoso de Nazareth, em “Senhora do Destino”? Leandra Leal, atriz de talento reconhecido! Mas infelizmente, e apesar do talento dos atores, o acordo do trio no último capítulo, foi de um MAU GOSTO incrível! Antes Berilo descobrisse por quem tinha amor verdadeiro e se dedicasse a esse amor... antes Berilo acabasse sozinho na amargura, penando seus “pecados”... Mas infelizmente o autor optou pelo machismo que não respeita a mulher e seus sentimentos, tornando a figura feminina mero capricho e objeto sexual de seu personagem ‘garanhão’. Lamentável!
Aqui gostaria de abrir um parênteses: a Globo tem veiculado propagandas destacando os temas de utilidade pública abordados em seus folhetins, como: drogas, alcoolismo, direitos dos deficientes físicos, etc. Mas tudo isso tem um peso muito pequeno na balança, quando do outro lado colocamos toda a perca de valores também exibida em suas telenovelas. O “caso Berilo” é o maior exemplo disso! E quem conhece pessoas que tiveram o casamento e vida familiar desfeitos por conta de situações como essa, apresentada através de "Berilo e seus dois amores", sabe quão anti-ético foi o final da história deste trio!
Quase finalizando minha avaliação, não há como negar a grandiosidade da atuação desta moça tão linda e talentosa: Mariana Ximenes. Assim como Tonny Ramos, é uma atriz que vem colecionando personagens de sucesso. Sua atuação é digna da nota 10! Mariana nos mostra que é possível unir beleza e talento verdadeiro – ela e outras atrizes como Patrícia Pilar, Cláudia Raia, Aline Moraes e Camila Pitanga (que felizmente estará presente na próxima novela), nos mostram que não é preciso escalar “pseudo-atores” somente pelo rostinho bonito. Os nomes que acabei de citar considero verdadeiras ATRIZES, com todo meu respeito por essa profissão que nos traz entretenimento, informação e emoção.
E como último erro “gritante” de Passione, gostaria de lembrar o fato de Fred receber um postal na cadeia, vindo de Clara, citando inclusive o local onde ela se encontrava e assinando um atestado de culpa ao citar o “presentinho” deixado escondido atrás da geladeira... Numa continuidade, qual seria a primeira atitude de Fred tendo recebido esse postal via correio? Certamente chamar seu advogado de defesa, o que acionaria a busca pelo paradeiro de Clara, uma vez que já se tinha até o nome do local que ela estava...
Clara escapar impune seria jogada de mestre do autor. Mas o postal estragou tudo... foi um erro gritante... um atestado de “anta” assinado pela Clarinha. Mas as cenas dela contracenando com sua avó Valentina, interpretada pela atriz Daisy Lúcidi, foram dignas de nota 10!
Agora, não querendo perder a piada... “Tadinho do Totó, escapou da Clara/Lara e caiu nas garras da terrível Flora...” (citando “A Favorita”).
Agradeço a aqueles que tiveram a paciência de ler o texto completo. É claro que este artigo reflete apenas MINHA opinião pessoal como mera telespectadora... mas como mensagem final, gostaria de salientar que já é hora de repensar os programas brasileiros, havendo maior cuidado com o conteúdo veiculado no tocante à qualidade, à moral, à ética e ao bom senso. É preciso valorizar o talento verdadeiro, e adequar atores, personagens e histórias. Certamente os meios de comunicação – e aqui não poderia deixar de citar a Globo pelo seu “poder de mídia” – têm grande RESPONSABILIDADE com a formação da sociedade em que vivemos. Não há como negar que os meios de comunicação são formadores de opinão, lançam modismos que são seguidos cegamente por grande parte da população; parte esta que “compra” sem questionar, que permite entrar em seu lar tudo que é passado através dos meios de comunicação em massa; que não dosa nem avalia o conteúdo que crianças e adolescentes, em processo de formação de caráter, estão recebendo diariamente direto da TV, Internet, e outros... Mas é claro que não podemos generalizar; estou falando apenas de uma parte da população - que infelizmente ainda é uma maioria.
Por isso, após certa indecisão, resolvi afinal escrever este artigo, como forma de chamar atenção de cada cidadão, na condição de telespectador, para que olhe além do entretenimento e diversão... para que leia as entrelinhas e decida por si o que deve chegar ou não ao seu lar, a seus filhos... às suas famílias.
Chamo todos aqui à RESPONSABILIDADE! Tanto aquele que produz, quanto aquele que “consome”... E acredito que opiniões críticas unidas poderão um dia mudar o quadro atual, garantindo mais qualidade em nossa programação.
E agora, que venha “Insensato Coração”... !