RESPEITEM O BANDIDO

Para sair de casa, preciso abrir o portão trancado por dentro, tirar o carro, voltar para dentro, trancar o portão novamente, sair pela porta da garagem e trancar a porta. Para maior segurança, ponho no bolso da chave do carro durantes o minuto que ele fica na rua. Um amigo já me condenou por não ter portão automático uma vez que é muito perigoso chegar em casa e sair do carro para abrir a porta da garagem.

Estamos nos acostumando e convivendo com a rotina do medo. Medo de sermos roubados, medo de termos algum membro da família seqüestrado, medo de sermos mortos. Estamos vivendo numa selva, onde a propriedade privada só tem valor se protegida por cadeado, cerca elétrica, câmeras de filmagem, alarmes que fazem alarido e acionam telefones e muito mais.

Mas não são apenas as casas de gente que mora bem que passam por perigos. Trabalhadores, estudantes e pessoas que levam poucos objetos de valor, muitas vezes nenhum dinheiro também são vítimas dos amigos do alheio e passam por atos de constrangimento, quando não de ameaça e até de agressões violentas. Quando há resistência ou revide, as conseqüências podem ser fatais.

É louvável que os carros e caminhões tenham cada vez mais dispositivos de segurança. Afinal, eles trafegam por percursos que nem sempre são pré-definidos. Contudo, bens imóveis, como o nome diz, não se locomovem e podem ser protegidos sem este risco adicional.

O ônus da culpa mudou de lado. Agora você é culpado por não ter sistemas de segurança em casa. Para aqueles que fazem do carro a extensão de sua casa ou escritório e o estacionam com uma bolsa à vista, correm o risco de terem o vidro quebrado em plena luz do dia, e os objetos surrupiados. Alguém ainda dirá: “Você facilitou demais!”

O mesmo se aplica a bancos. Quando o assaltante rouba o cliente na saída do banco, este costuma levar a culpa, quando ela é do setor público a quem compete dar segurança. Ainda somos obrigados a ouvir comentários do tipo: “Ainda bem que levaram apenas o carro, o dinheiro, ou os eletrodomésticos e não bateram, estupraram ou atiraram em ninguém.” Já estamos nos preparando para tolerar a violência em grau maior.

Neste início de ano, quando governos substituem os anteriores que alardeiam progressos, vamos refletir um pouco sobre isso tudo. O cidadão com renda boa pode pagar pela educação dos filhos, pode pagar pela saúde, mas não pode sair por ai combatendo a bandidagem.

Se o povo precisa se enclausurar, falar com os vizinhos através de grades, gastar o seu dinheiro para se manter a salvo dos bandidos, onde está o progresso? Que a polícia está melhor aparelhada e o ganho dos policiais aumentou são fatos. Porém, se a violência não diminuiu é porque alguma coisa não está funcionando. Quando a família gasta seu dinheiro, que estava destinado às férias, em equipamentos de segurança familiar, não podemos falar em aumento de qualidade de vida.

Luiz Lauschner – escritor e empresário

lauschneram@hotmail.com

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 09/01/2011
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