ONZE EDIÇÕES E UM RECORDE

O Big Brother Brasil chega em 2011 à sua décima primeira edição. Essa expressiva marca impressiona qualquer um. O sucesso desse reality show que mobiliza o país é inegável. É um momento histórico da TV brasileira, que recentemente completou sessenta anos. A capacidade de atrair audiência e as estratégias usadas para alcançar esse notável objetivo são características exclusivamente brasileiras.

Apesar de tudo isso, não é esse o recorde ao qual me refiro. Me refiro ao meu recorde, afinal nunca assisti nenhum trecho de nenhuma das onze edições do BBB. Às vezes, me sinto um peixe fora d'água. O comentário é geral e eu apenas ouço.

Minha consciência dói, porque afinal sou o ET da história e perco a chance de mudar a minha vida deixando de lado um programa com tanto conteúdo, para as revistas de fofoca, não menos importantes.

Fico sabendo os nomes dos personagens, ou melhor, dos participantes, pelos rumores que pairam do primeiro ao último dia da novela, ou melhor, do show da realidade. Sim, trata-se da mais pura realidade, embora alguns lampejos artificiais possam, vez por outra, surgir. Aliás, algumas modelos e atrizes surgem dessa grande experiência de confinamento, onde é preciso ter muita paciência e força de vontade, afinal estar preso numa casa tão pequena em que a sobrevivência é quase um milagre divino, é para poucos. Não é à toa que de lá saiam formadas atrizes, modelos ou ainda repórteres e atores.

Os enredos, ou melhor, as histórias reais, mudam constantemente a cada edição. Fulano tomou banho com sicrano, que ficou com ciúme e, de raiva, ficou com beltrano. Fulana é interesseira, é malvada deve sair e o anjinho deve ficar. Este planta o ódio na casa. Aquele planta a união.

Essa é a síntese da televisão do Brasil, que ilustra perfeitamente a atual condição do nosso povo, que se vê num programa teatral, onde as pessoas fazem sucesso sem o menor esforço, enriquecem num passe de mágica e se utilizam da fortuna, que o telespectador financia, sem saber, da forma que melhor lhes convém.

Freud tinha razão quando disse que os problemas da psique humana vinham da nossa dificuldade em lidar com o equilibrio entre a frustração e o prazer, mas esqueceu-se de um detalhe: talvez o prazer também possa levar a uma vida vazia, sem sentido e sem objetivo, quando a realidade e a ilusão se confundem, num perigoso jogo, onde o fracasso é o único vencedor.

Acho que vou bater mais uma vez meu recorde. Lá se vão onze edições do reality show mais comentado do país e eu aqui, escrevendo...

Acho que vou parar no Livro dos Recordes.

Marcello Santos
Enviado por Marcello Santos em 06/01/2011
Reeditado em 06/01/2011
Código do texto: T2712801
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