NOTAS DE LEITURA * 6-Mãos, de Soares Feitosa
Francisco José Soares Feitosa é um poeta contemporâneo, brasileiro de nascimento, poeta de toda a Língua Portuguesa.
Falar de Soares Feitosa, quer como poeta, quer como divulgador de outros poetas ou candidatos a poetas, é falar da Poesia.
Ainda que seja um lugar comum, aqui digo que a melhor maneira de falar de Soares Feitosa é ler a sua poesia, é amar a Poesia.
O Brasil, a grande Pátria Irmã deste Portugal já vestido das neves da anciania, foi e será a terra prometida dos portugueses deserdados e vergados às intempéries de uma pátria exausta e sempre adiada no objectivo de se cumprir. O povo português foi à Índia, mas não provou as especiarias; foi ao Brasil, mas nunca comprou o pão com o ouro. Esta é a verdade. Já João de Barros, nas suas décadas, no século XVI, lastimava haver nas ruas de Goa portugueses estendendo a mão à caridade. Portugal foi sempre assim! Como disse o poeta José Duro, português-alentejano como eu, falecido na última década do século XIX, «o ouro de um palácio é a fome de um casebre».
A história de um povo foi sempre a história da sua classe possidente. Até quando?
Como sucede com a maioria dos portugueses, palpita em mim uma saudade de África, uma saudade do Brasil, uma saudade do mundo além... Dos meus antepassados próximos, há descendentes em Moçambique e no Brasil. Por lá tive tios e tenho primos que não conheço e de quem nem sei o rasto.
Vim ao mundo na década de trinta. Morria-se em Espanha, na dita Guerra Civil, onde mataram os sonhos de Picasso, de Lorca, de Alberti, de Dolores Ibarruri, e onde vilipendiaram a vontade e a dignidade do povo espanhol. Na década seguinte, tive o privilégio de conhecer as primeiras obras da Literatura Brasileira. Na minha estante, conservo e releio, até hoje, um pouco do que se escreve no Brasil. Recentemente, já com a disponibilidade da Internet, tive e tenho também o privilégio de ler diariamente os tentames literários de tanta gente e de conviver virtualmente com alguma dessa mesma gente. E foi pela Internet que conheci o Poeta Soares Feitosa e o seu Jornal de Poesia.
Em Janeiro último, exactamente no dia 24, Soares Feitosa presenteou-me com o seu trabalho Mãos. É-me apresentado como um prefácio do livro Recordel, de Virgílio Maia, autor que, infelizmente, não conheço, mas espero vir a conhecer quando tiver o prazer de ler a sua obra. Mãos é um trabalho que não pode nem deve ficar subordinado ao outro que é Recordel. E não pode, digo eu, porque tem vida própria, porque deve ter vida própria. E ao ousar afirmar isto, outrossim afirmo que quem adquirir Recordel, necessariamente adquirirá duas outras em um só volume: Mãos e Recordel.
Ao ler e reler Mãos, senti as veias do Brasil Nordestino, vivo e perene, afirmando uma presença, hoje, do que, ontem, eu lera em Guimarães Rosa, Lins do Rego, Amado, etc.
Obrigado, Amigo Francisco José.
Obrigado, Poeta Soares Feitosa.
Desde Portugal, exactamente de Viana do Alentejo, o abraço afectuoso e agradecido do
José-Augusto de Carvalho
(24 de março de 2004.)