25 Cromwell Street
Há dias estive em uma editora de Porto Alegre, ultimando detalhes da edição de um livro meu, quando fui obsequiado pela direção da casa com uma obra chamada “Os crimes da Rua do Arvoredo”. A história foi tirada de um processo policial que hoje repousa no “Arquivo Público do Estado”. Trata-se, muitos conhecem, da descoberta policial contra açougueiro José Ramos, morador da Rua do Arvoredo (hoje Fernando Machado), ali atrás da Cúria, em Porto Alegre, que, em 1864, atraia pessoas à sua casa, matando-as e delas fazendo lingüiça.
O hediondo crime, à época chocou a população do Estado, pela crueldade do feito, pelo ardil (ele usava a amante Catarina para atrair as vítimas), pelo motivo torpe e pela desfaçatez dos agentes. Embora a opinião pública da época afirmasse que foram mais de trinta vítimas, a polícia só conseguiu exumar restos mortais de três pessoas; um antigo sócio de Ramos, um outro homem e um menino da vizinhança. Inclusive por causa da morte deste que os crimes vieram à luz.
Como o garoto entrou no açougue e não mais saiu, seu cachorro ficou à porta, esperando o dono. Com o fato do desaparecimento do adolescente e da permanência do pequeno cão à porta do açougue, por ali começaram as investigações, que apontaram Ramos e Catarina como os “fazedores de lingüiça humana”.
Os jornais da época (todos extintos hoje) davam conta da repercussão do fato, no Rio de Janeiro, São Paulo e até na Inglaterra e nos Estados Unidos. Consta que o réu morreu cego, na “casa de correção” em 1893. Da mesma Inglaterra, chocada com o lingüiceiro, nos vem agora, depois de tantas outras, a notícia dos crimes continuados (serial killer) do casal West, Frederick e Rosemary, que além de abusarem sexualmente de suas vítimas (homens, mulheres e crianças), matavam-nas enterrando-as no quintal da chamada “Casa dos Horrores”, no n.º. 25 da rua Cromwell, em Gloucester. Consta que Frederick suicidou-se na prisão, no ano passado, e sua mulher Rosemary, tida como a responsável de toda história, irá a julgamento nos próximos dias, no tribunal de Winchester, sudoeste da Inglaterra.
Dos Estados Unidos nos vem outra história curiosa: O jogador de futebol americano, O. J. Simpson (mais ou menos o Pelé deles), foi absolvido da acusação de matar a ex-esposa e seu amante, apesar de muitas evidências contrárias. Consta que oito dos doze jurados eram negros. Há quem afirme, na mídia americana, que o julgamento foi “marmelada”, para não ferir a imagem de um ídolo popular e não exacerbar conflitos raciais.
Ingleses e americanos nos mostram sua “moral de situação”. Chocaram-se por um crime que foi cometido aqui há 130 anos, e tornam-se indiferentes ou coniventes com ilícitos que ocorrem em seus países hoje. É o tipo da moral casuísta, onde “cada caso é um caso”. Um julgamento assim – igual aos dos árbitros de futebol – sempre é venal e tendencioso.